terça-feira, 23 de março de 2010

Crônica/02

Segundo a pesquisa que fiz no Santo Google, Crônica é "uma narração, segundo a ordem temporal. O termo é atribuído, por exemplo, aos noticiários dos jornais, comentários literários ou científicos, que preenchem periodicamente as páginas de um jornal". (Essa foi a fonte :) Crônica é coisa que não costumo escrever e, quando escrevo, faço sem querer - como é o caso do texto a seguir. É já meio antigo e hoje, quando o reli, não resisti e fiz algumas (poucas) alterações.

Amor e sopa

Comparo o amor a um prato de sopa. Não creio que alguém já tenha feito essa comparação e sei que ela pode parecer ridícula, mas o fato é que é cabível.
Assim como a sopa, o amor deve ser diversificado, temperado, gostoso.
Se você tomar a sopa de forma apressada, corre o risco de queimar a língua; se tomar pelos cantos, a sopa pode esfriar. E não importa se a sopa é gostosa – fria, ninguém engole.
Há sopas de vários tipos e para todos os gostos: de legumes, de carne, as instantâneas – que, pra mim, nem parecem sopa e servem mais para matar aquela vontadezinha de comer do que a fome real, de fazer roncar o estômago. Mas vá lá, sopa instantânea é sopa e pode matar a fome (afinal, dizem por aí que “a fome é o melhor tempero” – então, com fome, você nem escolhe muito).
Mas voltando à sopa. Se ela estiver fria, não há quem aprecie, embora existam pessoas que tomam a sopa assim mesmo. Não por falta de opção, e sim por acomodação. Você sabe que pode cozinhar uma outra sopa ou requentar a que estava tomando, mas acaba tomando do jeito que está, às vezes pela vida toda. Se não for acomodação, só pode ser por obrigação. Você toma a sopa fria – ou até ruim – porque outra pessoa fez, você não quer desapontá-la, fazer o que? Ora, a sopa parece apetitosa e você está tão faminto! E quando a porção está pela metade, você se vê dizendo: “Desculpe, não gostei muito, não agüento mais, estou cheio, enjoado...”. Ah, você fala um bocado de blábláblás, a outra pessoa, a que preparou a sopa com tanto carinho, se decepciona do mesmo jeito, promete caprichar na próxima, mas você não quer outro prato nem se for pago pra aceitar. De que adianta se a melhor sopa que você já provou foi a da sua mãe?
Confesso que tomei muitas sopas por aí. Algumas fortemente condimentadas, outras, fraquinhas, ralas, cujo prato eu nem chegava a terminar. E outras mais que eram muito boas, mas que em excesso, me davam náuseas, eu enjoava logo. Umas eram insuportavelmente deliciosas e eu fazia questão de repetir, mesmo que isso me custasse o estômago! E de repente, o restaurante abria falência, eu não tinha mais notícias do cozinheiro e muito menos da sopa. Mas a vida é assim mesmo: nem tudo que é (ou parece) bom, dura pra sempre.
Até agora, nenhuma foi perfeita. Tudo bem. Sopa nunca foi meu prato favorito mesmo.
O que eu preciso, de verdade, é de um amor. Um que seja como um prato de sopa bem feito, um que eu queira tomar, tomar até enjoar. E, quando o enjôo passar, pedir mais um pouco dessa “sopa mágica”, preparada não por duas, mas quatro mãos. Mãos que se afagam enquanto cozinham, que colocam temperos especiais, que não têm medo de experimentar e que sabem que não precisam se apressar. O importante é prolongar o prazer que sentem em estar juntas.
Que venha esse amor, pra que assim eu pare de escrever sobre essas comparações bobas. Amor e sopa, numa madrugada de dezembro, só pode mesmo ser coisa de quem ainda não se apaixonou perdidamente. Coisa de quem espera, ansiosa, por uma sopa arrebatadora.

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