segunda-feira, 31 de maio de 2010

Versos livres/04

Ainda me lembro
Da declaração que não fiz
Do beijo que não roubei
Da mudança que não ocorreu.

Tudo mea culpa.
E pra isso, não há desculpas.

Me torturo ao pensar:
Quem seria eu
Se estivesse ao lado seu?

domingo, 30 de maio de 2010

Poesia/41

Quando um amor acaba
E se vai minha alegria
Silêncio vem de mansinho e se instala
Para eu não ficar sem companhia.

sábado, 29 de maio de 2010

Poesia/40

(Esse é antigo... deve ter uns 07 anos!).

Preciso de outros ares,
De outras cores,
De outros lugares
E de outros amores.
Preciso de paixão,
Não de flores!

Se não tiver
O que quiser,
Meu coração vai se frustrar.
Daí, eu corro
Ou morro!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Microconto/02



A crise

Foi abordada logo cedo, a caminho do trabalho:
- Passa a bolsa!
- Posso tirar meus documentos antes?
- Pode, mas anda rápido!
- Na minha bolsa só tem livros, moço... Posso lhe dar só o dinheiro e o celular? Você não precisa de livros...
Ela poderia ter parado por aí, mas não segurou a língua:
- Para que você vai precisar de livros? Se duvidar, nem sabe ler...
O ladrão se ofendeu e atirou. Era PhD.

Fonte da imagem: Thanillo Produções

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Microconto/01

Vício

Quente, o líquido desce gostoso pela minha garganta. E quanto mais ele desce, mais eu o quero.
Levanto-me, ávida e decidida: é hora de pegar outra xícara de café.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Conto/09



Aquarela

Plínio e Teresa sempre se amaram. Cresceram juntos, dividindo risadas e brincadeiras. Era comum vê-los juntos, tanto porque eram primos, mas também porque gostavam de estar um com o outro sempre que podiam.
Um dia, tornaram-se jovens. E a família percebeu que aquele amor tinha crescido também e todos sabiam do interesse de Plínio em namorar Teresa e se casar com ela. Todos sabiam, mas ninguém aprovava, por conta do parentesco. “Dois primos, isso não vai dar certo”, “são quase como irmãos! Não pode haver casamento!”. Plínio e Teresa tinham consciência do que os familiares pensavam, mas isso não impediu os encontros entre eles, cada vez mais freqüentes. Ela passou a ser vigiada. Os pais dela achavam que bastava um descuido e eles fugiriam. Plínio tinha planos, dizia para Teresa:
- Vamos fugir, vamos para um lugar distante e ninguém nunca vai nos encontrar!
Mas ela não queria fugir, achava que era errado e não queria desapontar a família. Ele retrucava:
- Às vezes, é por não querer desapontar os outros que deixamos de ser felizes. Venha comigo.
Mas ela não foi. E assim, Plínio acabou deixando a cidade, foi estudar fora e se tornou pintor. Depois de dois anos, resolveu voltar e, qual não foi sua surpresa, ao descobrir que Teresa iria se casar. Perguntou aos pais porque não tinham lhe contado. Tentaram se justificar.
- Foi para evitar seu sofrimento, meu filho.
E pediram:
- Plínio, por favor, nos prometa que não vai fazer nada para atrapalhar a cerimônia. Deixe Teresa ser feliz!
Prometeu, a contragosto. Sabia que Teresa não amava aquele homem e que iria se casar apenas por conveniência, porque a família o aprovava. Quando se encontraram, ela evitou olhá-lo nos olhos. Plínio tinha prometido não fazer nada para atrapalhar, mas tudo que desejava era um momento com ela. Tentou de todas as formas ficar sozinho com a prima, entretanto os parentes estavam sempre por perto, espreitando, cercando-a.
Para ocupar a mente, Plínio trabalhava arduamente. Muitos de seus quadros eram retratos de Teresa. Um deles foi dado como presente aos pais dela e foi pendurado na sala. Até que João o viu.
João era o homem com quem Teresa estava de casamento marcado. Em uma de suas visitas, notou o quadro. A imagem de Teresa, tão linda naquela aquarela, chamou-lhe a atenção. Encheu-se de curiosidade e perguntou:
- Quem pintou este quadro?
Os pais dela se entreolharam e a própria Teresa sentiu quando as faces ficaram coradas. Sem jeito, eles explicaram:
- Foi nosso sobrinho Plínio. Ele é pintor.
João sentiu que havia algo errado, ficou claro quando olhou para Teresa. Mais tarde, na varanda, decidiu falar com o sogro:
- Sei que pode parecer bobo da minha parte, mas não acho conveniente que seu sobrinho tenha pintado esse quadro. Quer dizer, Teresa é minha noiva e eu não aprovo que um homem, ainda que seja primo dela, tenha feito esse retrato.
Claro que o problema não era o quadro. O problema era que ele havia notado algo no ar. Logo suspeitou que Teresa se interessava pelo primo de uma forma que ele não poderia conceber. E pensou que isso poderia acabar com o casamento antes que ele acontecesse. Naquela noite, antes de partir, exigiu que Teresa não dirigisse mais a palavra ao primo. A família concordou. O pai disse:
- Isso mesmo Teresa. Seu noivo está certo. Não fica bem que seu primo pinte quadros com sua imagem, você é uma moça comprometida e logo vai estar casada. Como não pensamos nisso antes? É melhor que você não fale com Plínio ou o veja até o casamento. E depois dele também, por que não?
João não teve dúvidas: pediu ao sogro que devolvesse o quadro ao autor. Melhor – ele mesmo faria isso. E aproveitaria para ter uma conversa com Plínio.
Na manhã seguinte, Plínio recebeu a visita de João. Até então, ele evitara aquele momento. Não gostaria de falar com o homem com quem Teresa iria passar o resto da vida. Ficou surpreso.
- Você? Ora, pode entrar.
Na sala, João ficou chocado. Era incrível a quantidade de quadros espalhados. Quase todos tinham o rosto de Teresa. Aquilo só o enfureceu ainda mais. Decidiu falar antes que as palavras sumissem.
- Tenho um assunto a tratar com você. Plínio, certo? Primo de Teresa?
- Sim, sou eu.
- Escute, vou ser breve e vou falar apenas uma vez. Teresa e eu vamos nos casar e você não poderá impedir. Eu sei que você gosta dela. Depois de ver esses quadros, tenho certeza. Eu vim aqui exigir que você se afaste dela. Não tente falar com ela, não tente vê-la. Os pais dela concordaram, ela também. E mais: se eu fosse você, sairia da cidade, iria para bem longe daqui. Eu conheço muita gente influente. Posso lhe causar problemas caso você se atreva a permanecer aqui.
Plínio ouviu calado. Não sabia como reagir, não sabia o que pensar. As palavras de João ecoavam, “os pais dela concordaram, ela também”. Então, Teresa não queria mais qualquer contato com ele? Antes que pudesse dizer qualquer coisa, João prosseguiu:
- Tem mais. Eu vim devolver isso. – entregou o quadro com um sorriso sádico e continuou – Eu quero que você destrua essas pinturas. Caso não me obedeça, eu mesmo darei um jeito de acabar com tudo, entendeu? Mandarei um de meus empregados aqui depois, para que veja se você fez o que eu mandei.
Ao dizer isso, João foi embora. Plínio ficou parado, a mente aturdida, os pensamentos confusos. Como aquele homem tinha ousado entrar na sua casa e dizer aquilo? Exigir que ele estragasse os quadros, que não tentasse ver ou falar com Teresa! Decidiu que precisava encontrar uma forma de conversar com ela, mesmo que fosse por cinco minutos. E tinha que ser naquele mesmo dia, não podia perder tempo.
- Aqui está, essa é a primeira parte do pagamento. O restante só depois que você trouxer minha prima ao meu encontro.
- Pode deixar, seu Plínio. Hoje vamos juntas à igreja no final da tarde.
A governanta da casa de Teresa, afinal, foi a sua solução. Bastou lhe oferecer algum dinheiro para que ela concordasse em dizer onde e quando ele poderia encontrar a prima sozinha – ou quase, pois ela a acompanharia.
Era véspera do casamento. Teresa foi à igreja sem saber quem a aguardava. Ao ver Plínio, teve vontade de correr, mas aquela era a hora de dizer adeus, então se aproximou do banco onde ele estava sentado.
- Não posso demorar. Nem devia continuar na igreja depois de ver você.
- Teresa, eu tinha que falar com você. Hoje cedo seu noivo foi até a minha casa, me devolveu a aquarela que dei de presente a você. Ele exigiu que eu destruísse os outros retratos que pintei, exigiu que eu não falasse mais com você... De todas as coisas que ele me disse, uma me doeu. Ele disse que você acatou em não me ver mais, que você concordou em sequer me dirigir a palavra. Então, eu tenho que saber: isso é verdade?
- Sim.
- Por quê? Quer dizer, eu não pretendia atrapalhar seu casamento! Prometi aos meus pais que não faria isso. Mas eu queria ao menos que você ainda falasse comigo.
- Plínio, de qualquer jeito você iria atrapalhar. Meu noivo é muito ciumento, isso poderia acabar mal, entende?
- Ele me mandou sair da cidade.
- Então, eu acho que é o que você deve fazer. – ela disse e saiu em seguida, acompanhada da governanta.
Naquela noite, ao voltar para casa, Plínio estava desolado. Chorou sozinho, enquanto olhava os quadros. Até que começou a borrá-los. Um por um, até a aquarela devolvida por João. Decidiu ceder, por amor a Teresa. Assim que tudo estivesse destruído, arrumaria as malas para sair da cidade.
Enquanto isso, Teresa jantava com os pais, João e a família dele. Até que viram, apavorados, quando ela começou a sumir diante dos olhos de todos. Primeiro as pernas, depois o tronco, os braços. A própria Teresa ainda conseguiu lançar um olhar desesperado antes que seus olhos também desaparecessem.
Não muito longe dali, Plínio começou a separar o que iria levar para sua nova vida. Quando tudo estava preparado, saiu da cidade. No caminho, tentava se conformar: “Não preciso de quadros se ela está em meu coração”.
O tempo passou para todos. Ninguém encontrou explicação para o desaparecimento de Teresa. A família fez tudo que podia. Chegaram a desconfiar que Plínio tivesse algo com aquilo, principalmente porque ele também havia sumido sem deixar rastros, mas a hipótese logo foi descartada: como ele poderia fazê-la sumir daquele jeito? Era impossível. João enviou empregados para que procurassem Plínio, tinha certeza de que, de algum modo, ele estava envolvido no sumiço da noiva. Foi em vão. Ninguém conseguiu encontrá-lo.
Longe dali, Plínio levava sua vida como podia. Trabalhava como professor de artes e pintava nas horas vagas. E foi num dia de ócio que ele pensou: “Estou longe, agora posso pintar o que quiser. E hoje, eu quero pintar Teresa.”. Os traços dela ainda eram nítidos em sua mente. Aos poucos, a pintura foi tomando forma. Com o quadro terminado, Plínio ficou pensativo, admirando-o, lembrando da mulher que ainda amava. Indagou a si mesmo: “Como ela estará?”. Até que um barulho interrompeu seus pensamentos. Alguém estava batendo à porta. Mas quem seria? Quase nunca recebia visitas. Ao abrir, quase não acreditou no que seus olhos viam: era ela, Teresa – vestida exatamente como na aquarela que ele acabara de pintar.

Fonte da imagem: Peregrina Cultural

terça-feira, 25 de maio de 2010

Poesias em outras línguas/04

The bed is big
And you’re not here
I ask:
What should I do?
And my mirror answers:
To dream.


Tradução:

A cama é grande
E nela você não está
Eu pergunto:
O que devo fazer?
E meu espelho responde:
Sonhar.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Versos livres/03

Eu vago há muito tempo
Estou adormecida
Devidamente medicada
Sedada pela inércia
Esperando que algo aconteça
E o mundo continua girando

Eu vago há muito tempo
Penso se o caminho é certo
Piso em flores e pedras
Esperando que algo aconteça
E o mundo não é essa coisa azul que vejo nos livros

domingo, 23 de maio de 2010

Poesia/39

A biblioteca

Para você que não sabe,
Agora eu vou lhe contar
Se busca conhecimento,
A biblioteca é o lugar.
Lá tem romance e magia,
Mistério e aventura.
Lá é onde a beleza
Une forças à cultura.
Há narrativas antigas
Nos livros de História
Que contam sobre batalhas
E heróis cheios de glória.
E é possível viajar
Através dessas leituras
Por mares e lindos campos
Com moças cheias de candura.
Você também encontrará
Muitos fatos reais
Sobre aqueles que lutaram
Por diversos ideais.
Há fotos da natureza,
Também pitadas de humor;
Algumas páginas obscuras
Com suspense e terror.
E se você necessita
Realizar uma pesquisa,
Procure o bibliotecário
Que lhe dará a informação precisa.
Agora que sabe de tudo isso,
Tenho certeza que irá dizer
Que visitar a biblioteca
Será um imenso prazer!

sábado, 22 de maio de 2010

Poesia/38



Poesia antiga, mas tá valendo! :)

Vou embora, sim!

Quero ir embora,
Pois não sou feliz aqui.
Não vai importar a hora
Ou se vou dobrar ali,
Na próxima esquina, sozinha.
Pode ser hoje, amanhã, agora,
Mas tenho certeza, por ora,
Que vou embora, sim!
Que vou fugir do amor que me dão,
Que vou largar a vida boa e o pão,
Que vou levar a tristeza e uma mochila nas costas...
Porque já cansei da rotina imposta.
Então, talvez no mundo eu encontre a resposta
Para o que vim fazer aqui.
E, por ventura, encontre a paz que há tempos perdi.
Pode acreditar: eu vou embora, sim!

Fonte da imagem: Travel House UK

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Poesia/37



Há mudez na minha voz
Mas a fala não se cala.
Melhor ficar a sós
Com esse resto de mim,
Cansada.
A fala vem da garganta;
A voz vem do coração.
E eis que estou entalada,
Triste e sem noção.
Minha boca se move.
O pensamento desenvolve
O que chamam de palavras.
Minha fala resolve
Se exercitar um pouco.
Mas o coração rouco
Não deixa sair a voz.
A língua se contorce
E a alma cheia de nós.
Cheia de tudo, do mundo
De vós.

Fonte da imagem: Blog Exercício Um

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Poesia/36

Tudo parece dizer
Que você não vai voltar
E tudo quer tirar a fé
De quem lhe espera retornar

E todos os bilhetinhos?
O meu carinho foi dado em vão
Cada hora que passa
Apaga a graça dessa paixão

Eu já lhe aguardo há tanto tempo
Enquanto o vento tão forte me diz:
“Desista dessa musa louca
Esqueça a boca que lhe fez feliz”
.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Versos livres/02

Retorno

Conto os minutos
E suspiro de ansiedade
Já não vejo a hora
De ouvir teu grito
Dizendo que voltou para o lar
Ao meu lado – não importa o lugar.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Versos livres/01

Por tua causa
Perdi o trem
A viagem
E o dia
Mas não a vida.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Poesias em outras línguas/03

Would you be mine
Only by tonight
Only by today
Only by my way?

domingo, 16 de maio de 2010

Poesia/35



Tua boca conversa
Palavras ruins e boas
Tua boca
Às vezes à toa
Beija, ri e faz caretas
Mais expressiva que tua boca
Só teus olhos
Que parecem estrelas.

Fonte da imagem: Beto no blog

sábado, 15 de maio de 2010

Poesia/34

Conte as estrelas no ar
Que eu vou continuar.
Melhor: recomeçar!

Deixe a poeira baixar
Para que eu veja melhor
Por favor, não tenha dó
A minha dor vai passar

Conte as estrelas no ar
Deixe o tempo rolar

Não apresse meu destino
Que eu tropece no caminho
Para poder enxergar
Melhor: me retomar!

Conte as estrelas no ar
Que eu contarei as do mar

Deixe a solidão comigo
Não se aflija, caro amigo

Saiba que eu vou voltar
E a solidão danada
Essa eu deixo em algum lugar.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Poesia/33



Desejo de ano novo

Alegria, amor e paz.
E um poema por dia
Nada mais.


Fonte da imagem: Sistema RBS - Blog do Ronyvaldo

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Poesia/32



Há flores no meu coração
E nas minhas mãos
O buquê que eu lhe prometi
Fez você sorrir
Eu sinto o ar mais puro
Com outros olhos vejo o mundo
Sinto a vida me beijando
E sei que estou me apaixonando!

Fonte da imagem: Blog da Cris Oliveira

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Poesia/31




Estados de espírito

Para uns dias
Silêncio e tranqüilidade
Para outros
Rock ‘n roll e sacanagem.

Fonte da imagem: Blog Idea Overground

terça-feira, 11 de maio de 2010

Poesia/30



Sinto.
Não frio na barriga – não mais.
Só sinto.
Muito talvez.
Pouco, quem sabe.
Depende.
Do fato, do trato
Do cavalheiro.
As formas mudam.
Mas frio na barriga, não mais.

Fonte da imagem: Blog da Luciene

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Resenha/01

Essa é uma resenha antiga. A escrevi para a matéria "Leitura e produção de textos III".


“Tereza Batista – Cansada de guerra”

Jorge Amado

Tereza Batista, órfã, é vendida ainda menina pelos tios para Justiniano Duarte da Rosa, o capitão Justo, homem cruel que a maltrata, violenta e escraviza. É trabalhando para ele que ela, tempos depois, conhece o jovem Daniel, por quem se apaixona. O capitão flagra os dois e Tereza o mata. É presa, Daniel não a defende, mas surge um salvador: o doutor Emiliano Guedes – com quem acaba vivendo por alguns anos. Logo após a morte do doutor, desamparada, vai para Aracaju e lá conhece o grande amor de sua vida, o marinheiro baiano Januário Gereba. Este é casado, mas corresponde ao amor da personagem. Será dessa vez que Tereza pode se aproximar da tão desejada felicidade? Aí, cabe ao leitor conferir em “Tereza Batista – cansada de guerra” – Jorge Amado (Editora Record, 1999 – 30ª edição).

Mais uma vez, Jorge nos brinda com uma mulher forte, guerreira, acostumada à vida dura e que, ainda assim, não deixa de sonhar – e de lutar pelo que quer. Em seu 23º livro, ele usa novamente o nordeste brasileiro (mais precisamente Sergipe e Bahia) como palco para a narrativa. Nem por isso sua obra perde o viço. Pelo contrário: é esse regionalismo uma das características que a faz ser tão marcante.

Jorge nasceu na Bahia, mas quando jovem viveu no Rio de Janeiro, onde estudou Direito. Chegou a se envolver com jornalismo e política – e talvez nessa época é que tenha surgido o interesse de escrever sobre injustiças e problemas sociais, temas muito comuns em seus livros. “Tereza Batista” não foge à regra: a personagem é vítima da miséria desde a infância, quando é vendida ao capitão Justo pelos tios pobres, em troca de “um conto e quinhentos, uma carga de mantimentos e um anel de pedra falsa, porém vistosa”. Ainda adolescente, acaba se prostituindo. Sem recursos após a morte do doutor Emiliano, se utiliza de sua beleza e sensualidade para se prostituir de novo e, assim, sobreviver.

Esse é outro tema corriqueiro nos livros de Jorge Amado: a sensualidade. Tereza atrai a atenção dos homens – e até mesmo das mulheres (a cafetina Veneranda logo se interessa em tê-la sob sua tutela quando ela chega a Aracaju). Tereza é uma mulher vistosa e acumula uma legião de admiradores – um deles chega, inclusive, a lhe propor casamento. Mas, se teve que entregar seu corpo a vários homens, é apenas a Gereba que entrega seu coração. Tereza é uma personagem tão sensacional quanto Gabriela (de “Gabriela, cravo e canela”) ou Flor (de “Dona Flor e seus dois maridos”). A luta para ser dona da própria vida e vislumbrar um futuro digno dura o livro todo. Pode-se até dizer – por que não? – que Tereza é a personificação de uma das muitas faces da mulher brasileira, independente de época.

“Tereza Batista” foi publicado pela primeira vez em 1972. Já ganhou versões em alemão, espanhol, francês e inglês, dentre outras línguas. O romance foi adaptado para a televisão pela Rede Globo em 1992, com Patrícia França no papel principal.

“Tereza Batista – cansada de guerra” é, em suma, uma história de sofrimento, mas também de amor. E a forma como essa mulher luta para vencer as adversidades e ter o amor é um bom motivo para ler mais este clássico do saudoso Jorge Amado.

domingo, 9 de maio de 2010

Conto/08

Minha primeira...

- É por aqui. São apenas dois lances de escada, não precisa se preocupar.
- ...
Deparei com um corredor estreito. O quarto era pequeno, mas bem iluminado.
- Pronto. Chegamos. Nervosa?
- Um pouco.
- É normal.
- Vai doer muito?
- Olha, pode ser que sim, pode ser que não. Você precisa ficar relaxada, entendeu? Eu vou tentar ir devagar.
- Entendi.
- Eu sou um cara experiente, sei o que estou fazendo.

Em menos de cinco minutos, eu comecei a gritar. Eu tentava relaxar, mas a dor não deixava. E o sorriso sádico dele também me impedia. Após um tempo que pareceu uma eternidade, ele se manifestou:
- Calma, estamos quase no fim.
- Ai, que bom que você disse isso porque eu achei que ia começar a chorar.
- Só mais um pouquinho... Isso...
- Aaaai!!
- Acabei.
- Ufa!

Ele levantou rapidamente, enquanto eu me recuperava.
- Você quer um pouco d´água?
- Quero. Olha, não pensei que doesse tanto. Acho que nunca mais quero fazer isso.
Ele riu e falou:
- Que nada, quando você esquecer a dor, vai fazer de novo. Eu sei que vai.

Bom, eu ainda não repeti a dose, mas admito: vontade não me falta.

Saí daquele quartinho com uma sensação estranha. Ele me deu algumas recomendações e disse:
- Até a próxima.

Na rua, eu tinha um sorriso nos lábios, apesar da dor. Tinha, afinal, realizado meu desejo. Já em casa, depois do banho, peguei o espelho para ver novamente como tinha ficado bacana a minha primeira tatuagem.

My first...

- It’s through here. Don’t worry, it’s on the second floor.
- …
Suddenly, I saw a narrow corridor. The room was small, but had a good light.
- Ok, it’s here. Are you nervous?
- Just a little bit.
- It’s normal.
- Will I feel too much pain?
- Listen, maybe yes, maybe no. You need to relax, did you get it? I’ll try to make it slow.
- Ok.
- I have experience, I know what I’m doing.

About five minutes after I heard what he said, I started to scream. I tried to relax, but it was hard with all that pain. His sadist smile didn’t help me too. After an eternity, he said:
- Calm down, we are almost finishing it.
- Ah, good to hear that, because I was thinking I was going to cry.
- Just a little more… Yes, that’s it.
- Aaaah!
- I finished it.
- Uf!

He stood up quickly, while I was trying to stay ok again.
- Would you like some water?
- Yes, please. Listen, I had no idea how much it hurts. I guess I don’t want to do this again.
He laughed and said:
- Bullshit. When you forget pain, you’ll do it again. I know you will.

Well, I still didn’t do it again, but I admit it: I want it!

I left that room feeling strange about myself. He gave me some “advices” and said:
- Until next time.

On the street, I had a smile on my face, despite of pain. I had, finally, made my wish come true. At home, after taking a shower, I got a mirror to see again how cool it was my first tattoo.

sábado, 8 de maio de 2010

Conto/07

Guerra e paz

- Vamos lá. Você quer que eu te conte uma história de amor? Então, eu vou te contar uma. Você tem que prestar atenção. Isso, senta aqui na varanda comigo. Ai, o costume de esperar mais um pôr do sol. Enquanto não anoitece, eu posso pensar em como estarei vestida para o meu encontro.
- Você tem um encontro???
- Por que o espanto? Não, eu não tenho um encontro. Eu devia ter. Escuta, eu pedi pra você prestar atenção, então você não pode ficar me interrompendo, certo?
- Certo.
- Hum, vejamos. Qual será meu modelito para hoje? Um vestido florido. Isso mesmo. E sapatos brancos. Cabelo em coque. Não, não. Ficaria muito formal... Cabelo solto, esvoaçante, com algumas presilhas. Presilha está na moda? Não, não precisa me responder. Foi uma daquelas perguntas que a gente faz sem querer ouvir resposta. E afinal, isso não importa. Eu vou estar linda e esse modelito parece ótimo. Quer dizer, pareceria se eu fosse mesmo me encontrar com ele. Mas isso não é possível. Sabe o que eu faço todas as tardes? Claro que sabe, nós moramos na mesma casa. Mesmo assim, eu vou te dizer, talvez você não preste muita atenção em mim. Todas as tardes eu me sento nessa varanda para me lembrar dele e do fato de que ele não está aqui. Até quando o Roberto era vivo. É, quem diria que eu fosse me casar. Mas casei e casei com um homem bom, decente, trabalhador. De alguma forma, ele, aquele que nunca veio, deve saber que eu me casei. Meu marido nunca soube dele. Bom, talvez o suficiente, eu nunca escondi que fui noiva antes de conhecê-lo. Que bom que ele não fez muitas perguntas sobre meu passado. Seu avô me fez feliz. Mesmo me sentindo feliz, veja você como são as coisas: tantos anos se passaram e eu nunca deixei de pensar no outro. Eu fui seguindo, levei minha vida adiante. Mas agora, o seu avô morreu e eu tenho tanto tempo livre, não há mais nada que me impeça de pensar sempre no outro. Eu já me aposentei, meus filhos estão crescidos. Então, eu passo o tempo remexendo na memória e me lembrando dele. Eu fico aqui imaginando como poderia ter ido esperar por ele naquele cais. Todos os dias escolho uma forma diferente de me vestir. Cada vestido lindo! Cada sapato maravilhoso! Mas tudo aqui, na minha cabeça. E mesmo sem aquelas formas que eu tinha, posso usar qualquer coisa. A imaginação é minha aliada. Já estou velha e o meu médico disse que é sempre bom exercitar a mente, ocupá-la. Então, eu passo o tempo pensando nesse encontro. É melhor do que fazer palavras cruzadas.
- Eu adoro palavras cruzadas.
- Eu sei que você adora palavras cruzadas. Você passa tanto tempo fazendo palavras cruzadas que nem deve reparar quando os meninos olham pra você!
- Os meninos não me olham, vó!
- Sei, sei. Eu também dizia isso para meus parentes. Você ficou corada, ha-ha.
- ...
- Essa coisa de idade é engraçada, menina. Às vezes, eu esqueço o nome de alguém – até o seu nome eu esqueço! Mas não esqueço o rosto dele na nossa despedida. Ele era tão lindo! É incrível como algumas coisas ficam mais vivas na memória que outras.
- Como ele era?
- Ele tinha uns olhos azuis assim bem vivos. Uma boca carnuda. E tinha um sorriso de dar inveja. Ele dizia: “Me espera, eu vou voltar”. E eu me lembro que no dia da partida dos oficiais, o uniforme dele tinha uma manchinha perto do bolso, eu avisei antes dele embarcar. Ele disse: “Bobagem. Meu capitão não percebeu. Ele tem outras preocupações”. Todo mundo tinha outras preocupações... Então, um dia, aquela carta chegou para a família dele. E a mãe dele me contou chorando a notícia, “Meu filho morreu na guerra! Nós vamos receber uma medalha. Pra que nós queremos uma medalha? Medalha não abraça, medalha não sorri, medalha não ama! Uma medalha só serve para saber que ele está morto por causa dessa guerra.”. E ela falou, falou, queria desabafar. Mas eu fiquei zonza, de repente parei de ouvir, acho que me transportei para outra dimensão.
- ...
- Você não precisa ficar me olhando com essa cara.
- É que é uma história triste, vó.
- Ué, você pediu pra ouvir uma história de amor, não foi? Às vezes, as histórias de amor são tristes. Quer história mais triste que “Romeu e Julieta”?
- “Romeu e Julieta” é uma história de ficção; a sua é real. Por isso, parece mais triste.
- Posso continuar?
- Sim.
- Lembra daquela caixinha de madeira que você viu comigo outro dia? Perguntou o que era e eu desconversei.
- Claro que lembro!
- Nela, eu guardo tudo do Giovani. Todas as cartas, inclusive a que dizia “Não se preocupe, ragazza, a guerra vai acabar logo e eu voltarei para os seus braços. Nós vamos nos encontrar no cais e vamos nos beijar como loucos, você vai ver”. Naquela caixinha tem também uma foto com dedicatória e até o meu anel de noivado. Eu quis vender para ajudar a pagar o funeral, a mãe dele foi quem não deixou. Disse que o anel era meu e pronto. Nunca foi difícil esconder essa caixa do seu avô. Ele não gostava de mexer nas minhas coisas, sempre foi tão seguro. Eu gostava disso. Eu amei seu avô, Natália, mas nunca esqueci o Giovani completamente. E todo mundo que sabia disso já morreu.
- E eu?
- Pois é, eu contei essa história para você e agora você é a única pessoa viva além de mim que sabe como eu amei outro homem e que até hoje penso em como seria me encontrar com ele. E agora você sabe também que todos os dias eu fico pensando em como me vestir para nosso encontro. Eu sei que um dia vou estar com ele novamente. Ele não pôde voltar, mas em algum lugar esse encontro ainda está marcado. Você deve achar que eu sou só uma velha caduca que não tem o que fazer, mas eu não ligo.
- Vó?
- Que foi?
- Isso tudo foi na época da guerra?
- Sim.
- E quanto tempo a guerra durou?
- Para uns, durou quatro anos. Mas dentro de mim, ela dura até hoje e a paz só vai chegar quando eu puder ver de novo aqueles olhos azuis me encarando e aquela boca carnuda dizendo “Giulia, estou aqui”.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Poesia/29

Onomatopeias

Toc toc
Tic tac
Plic ploc
Nhac nhac

Hahaha
Blém blém
Chuá chuá
Nhenhenhém

Bang bang
Ding dong
Tum tum tum
Fom fom

Zum zum zum
Cri cri
Ronc ronc
Piuí piuí

Splish splash
Tchibum
Nham nham
Huuuum

Snif snif
Pá pum
Zás trás
Uhu

Mi mi mi
Aha!
Bi bi bi
Irra!

Au au
Mééé
Miau miau
Blééé

Hihihi
Huahua
Trim trim
Muááá

Gugu dada
Vrum vrum
Buá buá
Buuuuuu!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Crônica/11



O riso – parte II

Alguns estudiosos dizem que o riso nasceu com as comédias gregas. Ué, mas antes disso, ninguém ria? Outros especialistas afirmam que o riso nasceu no paraíso, quando Adão e Eva comeram a maçã e Eva olhou aquela coisinha entre as pernas de Adão e começou a gargalhar. Bom, não importa de onde o riso veio, o que importa é rir – de uma piada, de uma história contada num livro, de uma situação cômica e até de nós mesmos.
Por falar em rir de si mesmo, me lembrei agora de uma fábula chamada “A princesa que nunca ria”. O rei perde a esposa e, por isso, bane o riso do reino. Sua única filha cresce cercada de seriedade. Até que um dia, descobre a palavra “riso” no dicionário e exige do pai: quer rir, precisa rir. Se isso não acontecer, ficará trancada para sempre dentro do quarto. O rei chama comediantes dos quatro cantos do país, mas é um criador de porcos que, ao contar a história da própria princesa para ela, a faz rolar de tanto dar risadas.
Há vários tipos de riso. Tem aquele contido, tem aquele estrondoso, tem o comum. Tem aquele que dá dor de barriga, tem aquele que soa como “hahaha” e tem aquele que soa como “hehehe” e tem também o riso virtual que se escreve geralmente assim: “rs”.
Apesar de ser algo natural e gostoso, o riso tem lá suas regras – instituídas, claro, pela sociedade, para a boa convivência entre todos. Exemplos? Não se deve rir com a boca cheia; rir em funeral, nem pensar!; nada de rir quando soltar pum, isso é coisa feia. Não ria quando seu chefe for trabalhar com uma roupa extravagante, não ria se sua namorada tentar fazer um striptease e cair de quatro no chão. Há mais dessas “regras”, mas acho que já deu para entender o espírito da coisa, certo?
Com o tempo, todo mundo aprende quando deve ou não deve rir – ainda que nem todos queiram ou consigam segurar o riso.
Sabe, voltando agora a questão do surgimento do riso, eu gostaria de dizer que tenho minha própria teoria sobre o assunto: acho que o riso nasceu quando Deus fez a Terra e tudo que há nela. Ao final do trabalho, ele olhou o mundo e disse “Mas que beleza!” e deu uma risada daquelas bem gostosas, tamanha era sua satisfação.

Fonte da imagem: Blog da Angelina Andrade

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Crônica/10

Um minuto de silêncio

Quer coisa mais longa que um minuto de silêncio? Parece que os segundos passam mais devagar quando alguém usa essa expressão.
Ninguém sabe ao certo quem começou com essa história, mas todos sabem em quais situações um minuto de silêncio pode ser requisitado: para homenagear alguém que e... Bom, eu só me lembro dessa situação, se você souber de outra, fale agora ou cale-se por um minuto.
Eu nunca me dei bem com essa coisa de “um minuto de silêncio”, tenho um déficit em relação a isso. Quer dizer, quando pediam, eu ficava quietinha, mas pensava numa porção de bobagens – menos no motivo do minuto de silêncio (que coisa feia, né?). Tinha algo que eu sempre fazia também, além de ficar pensando em assuntos aleatórios: eu gostava de observar as pessoas. Algumas coçavam o nariz, outras olhavam para o chão e tinha também quem mordesse os lábios. Eu sempre ficava me perguntando no que elas estariam pensando. Gostava de imaginar que elas pensavam no feriado da próxima semana, em como o céu estava bonito, o que iriam fazer no dia seguinte ou em como gostariam de tomar um sorvete. Aliás, a título de informação: esses eram alguns dos pensamentos que eu tinha durante um minuto de silêncio.
Bom, eu conseguia ficar quieta, mas tinha uma amiga que não tinha esse dom. Sempre que pediam um minuto de silêncio, ela olhava para as caras das pessoas e começava a rir. Ria baixinho, aquele riso abafado, que parece mais uma tosse. A gente olhava para ela com aquela expressão de “Meu Deus, o que deu em você? Todos têm que ficar calados durante o minuto de silêncio!”. Ela fazia o possível para ser discreta, mas como alguém pode rir com discrição enquanto todos estão mudos? Então, para disfarçar, ela fingia que estava gripada e o riso virava tosse mesmo.
Já há muito tempo que não me pedem um minuto de silêncio. Eu até prefiro assim. Gosto do silêncio – ainda mais na hora de escrever. Mas se é para homenagear alguém ou demonstrar respeito e tudo mais, prefiro a palavra. E por falar em homenagem, não gostaria de fugir à regra dessa vez, então antes que eu me esqueça, eu queria fazer um pedido. Por favor, gostaria que todos fizessem agora um minuto de silêncio para o principal personagem dessa crônica: nosso distinto cavalheiro, o senhor “um minuto de silêncio”.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Poesia/28




Verdade seja dita:
Você me ama, querida?
Ela desarruma as malas
Antes prontas para a partida
A cama se enche de tons
E o silêncio deriva.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Artigo/01

O que é, para que serve e como se faz Filosofia.

Filosofar é refletir, é criar, é ver o mesmo assunto de várias formas e criar novas formas de vê-lo; é pensar soluções para grandes e pequenos problemas e até mesmo criar problemas! É indagar o porquê das coisas, é pôr em teoria tudo que conseguimos imaginar. Gilles Deleuze, em sua obra “Conversações”, afirma que “A filosofia consiste em sempre inventar conceitos” (página 171).
Colocar em prática é tarefa para outras ciências que nasceram através da Filosofia: Medicina, Física, Pedagogia, Jornalismo...
Essa é a grande verdade: a Filosofia é feita de conceitos. Mas esta é talvez a frase mais simples do texto de Deleuze. Ele tem o “dom” de complicar a Filosofia. Porém, há algo que merece atenção em seu texto. Quando Deleuze diz que “O filósofo é criador, ele não é reflexivo”, ele parece querer passar a mensagem de que o filósofo não apenas pensa, mas soluciona – ou tenta.
Para que, afinal, a Filosofia nos serve? Serve para e, assim solucionar problemas, para nos ajudar a entender o mundo! Ou simplesmente para nos tornar ativos no ato de raciocinar ou mais preparados para discutir sobre as polêmicas desse mundão de meu Deus. Como elas, as polêmicas, nos ajudam a pensar, a Filosofia não pára de se criar. E o ato da criação pode mudar sua realidade ou mesmo a do mundo ao seu redor.
Embora às vezes esteja numa “época pobre”, ela é uma arte que está em nosso âmago, pois é próprio do ser humano indagar, pesquisar e pensar em questões mal resolvidas. Até mesmo nas resolvidas, quando parece não haver nada que precise de um ponto de interrogação.
Fazer Filosofia não é difícil. Agora, a Filosofia, em si, tem suas complicações. Para comprovar isso, é só ver quantas vertentes existem, quantas formas de se pensar já foram criadas desde a Grécia Antiga, desde Sófocles, Aristóteles, Platão, Sócrates e tantos outros.
Como fazer Filosofia é a nossa última etapa. A partir do momento em que você pensa sobre determinado assunto está fazendo Filosofia, seja ela erudita, popular como a dos bêbados (que incrivelmente conseguem dizer coisas audíveis e coerentes às vezes) ou complexa como a de Deleuze (que usa palavras complicadas, segue falando de coisas que aparentemente não têm a ver com Filosofia e faz muitas citações).
É filosofando que saímos do destino que nos é dado: a padronização. Você pode escolher entre pensar diferente ou pensar o que outros já pensaram, pode escolher qualquer vertente, de qualquer época, mesmo que ela pareça ultrapassada; pode escolher entre viver na ignorância ou refletir um pouco sobre o que quer que seja.

Nota: Escrevi esse artigo mais ou menos em 2004, quando estava cursando Jornalismo. Ele foi feito para a matéria "Introdução à Filosofia". Fiz alguns ajustes, como era de se esperar.

domingo, 2 de maio de 2010

Poesia/27

Fui do céu até o inferno
Do verão até o inverno
Foram anos de procura
Depois anos de espera
Fui da realidade dura
Até o cúmulo da quimera
Sempre sem encontrar
O que procurava tanto
Sempre alternando
O riso bobo e o secreto pranto
Fiz do fútil o útil
E do útil o inútil
Acabei sem assunto
E sem ter o que queria
Paz e um amor verdadeiro
Que me trouxessem alegria.

sábado, 1 de maio de 2010

Conto/06



No salão

Estavam em mesas separadas e em cantos opostos daquele salão. Até que se viram, se admiraram e se desejaram. Foi o bastante para que ele, apenas com um sinal, a chamasse para dançar. Ela aceitou com um sorriso e os dois se encaminharam para a pista. A banda começou a tocar.
Enroscaram-se ao som do saxofone. A música era “The latest trick”. Aos primeiros acordes da guitarra, ela levantou a perna direita e conseguiu aconchegá-la bem perto dos quadris dele. Ele não deixou por menos: colocou uma das mãos nas costas de sua parceira e quase levou-a ao chão, beijando levemente seu colo.
Ela estava perplexa com aquele atrevimento e tinha nos lábios um sorriso meio contido. A boca entreaberta e o olhar fixo deixavam transparecer que ela queria mais.
Ela virou um pouco a cabeça e fechou os olhos. Ele a puxou e colou-se junto aquele corpo ansioso. A dança não era o ponto forte de nenhum dos dois, mas ambos pareciam sincronizados.
O calor do lugar e do casal aumentava. As atenções do lugar se voltaram para os dois. O número de pessoas na pista era pequeno, o que fazia com esse casal se destacasse mais.
Iam para um lado e para o outro, os sexos e as bocas quase colados. O vestido floral dela tornou-se bonito aos olhos dele, assim como a blusa de botões que ele usava tornou-se atraente para ela. Não entendiam o que queria dizer a música, mas isso não importava. Ela rodopiava faceira e, de repente, requebrava, já solta das mãos de seu par. Sem perder tempo, ele se aproximou e cheirou aquele pescoço com perfume de rosas. Apertaram-se novamente.
A música ia acabar. Eles não tinham certeza sobre dançar a próxima, não tinham certeza de nada. Até que ouviram os gritos, as pessoas aplaudindo a banda e esperando pela próxima canção. Olharam-se por um momento e se beijaram. Houve um acúmulo de línguas, mas nenhuma palavra; apenas um longo e delicioso beijo. Até que dois chamados os interromperam:
- Vovó! – era uma linda garotinha que adentrava correndo a pista para procurar um abraço.
- Vô! – era um rapazinho de uns quinze anos, que, a pedido da mãe, chamava o avô para descansar um pouco.
Em pouco, ele voltava para a mesa e a filha reclamou, cheia de cuidados:
- Pai, o senhor não tem mais idade para essas coisas! Seu coração! Podia ter um ataque. Por falar nisso, o senhor já tomou seu remédio?
Ele não ouviu. O corpo estava sentado à mesa, a mente estava do outro lado do salão. Na mesa oposta, a garotinha indagava:
- Vó, a senhora tem namorado agora?
Ela riu. Não sabia se tinha namorado, mas sabia que estava de bom humor.
Na saída, cumprimentaram-se e antes que ela entrasse no carro, ele disse:
- Nos vemos no próximo fim de semana?
Ela não hesitou:
- Claro. A propósito, meu nome é Clara.
- O meu é Antônio e eu não sei dançar muito bem.
- Mas sabe beijar e isso é importante. Até mais!
- Até mais.
Naquela noite, os dois sonharam antes de dormir. Sonharam com o próximo fim de semana e com a aventura maior que estava por vir para aqueles corações já tão calejados: o amor.

Fonte da imagem: Já que deu tudo errado mesmo.