sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Remédio nenhum dá jeito

Ela diz: Entraram na minha casa, fizeram uma cópia da chave. Eu pergunto: Quem fez? Ela responde: Não sei. Foi quando eu esqueci a chave pendurada na porta. Alguém pegou, copiou e depois deixou a chave pendurada no mesmo lugar. Ela diz: Entram aqui sempre que eu saio. Eu pergunto: Quem entra? Ela responde: Quem fez a cópia da chave. Ela diz: Levaram umas coisas. Eu pergunto: O que levaram? Ela responde: Muitas coisas - Mas não sabe precisar o que - Mexeram nas minhas receitas, mexeram nas suas fotos, mexeram no guarda roupa. Vou colocar uma fechadura no guarda roupa. Ela diz: Chego em casa e encontro as coisas fora do lugar. Eu pergunto: Por que não troca a fechadura? Ela responde: Eu já troquei a fechadura, mas continuam entrando. Fizeram outra cópia colocando sabão na porta. Ela diz: Meu contracheque veio errado. Me roubaram. Eu pergunto: E o que o banco falou? Ela responde: Que é isso mesmo. Mas eu vou contratar um advogado pra ver isso. Alguém me roubou. Ela diz: Querem que eu vá morar num asilo. Querem me levar pra lá. Eu pergunto: Quem quer? Ela responde: As pessoas que trabalham no banco. Elas falaram que eu devia ir morar num asilo. Então, eu não escuto mais nada, eu não pergunto mais nada, eu sou só um ouvido colado ao telefone. Eu escuto as mesmas coisas há mais de vinte anos. Eu não tenho mais paciência para a esquizofrenia - ou seja lá o que for isso que remédio nenhum dá jeito.