Era um valete convencido
E um tanto cara de pau
Tinha o rosto bem bonito
E um certo olhar fatal.
Acendeu-se uma chama
Acho que era paixão.
E eu quis ser a sua dama
Lhe entreguei meu coração.
Mas não fui bem sucedida.
O valete me deixou
Eu então fiquei sozinha
Na esperança de outro amor.
Aí, apareceu um bobo
Me fazendo a corte
Relutei por um momento
Depois pensei: “Que sorte!”
Até que um belo dia
O valete retornou
Dizendo que me queria
E que sempre me amou.
Aquela conversa toda
Para mim era piada.
“A mim você não importa
Eu estou apaixonada”.
E foi exatamente assim
Que a história se inverteu.
O valete virou bobo
E o meu amor ele perdeu.
E o meu final feliz
Eu agora lhe direi
Eu me tornei rainha
E transformei o bobo em rei.
Tatyana França, aspirante a escritora, decidiu fazer seu próprio projeto literário. Assim, nasceu o Nulla dies sine linea: 09 meses de textos nos mais variados estilos. O desafio foi cumprido: nenhum dia sem postar, de 14 de março a 14 de dezembro de 2010!
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
Poesia/11
Fim
Exagerei ao te adorar
Verbalizei meu bem querer
E vendo a paixão definhar
Eu não quis te dizer
Que passamos do ponto
Que depois de pronto
O amor começou a desmoronar
Tu parecias não perceber
Então, o problema era eu?
O que aconteceu?
O que é que deu errado?
O que fazer pra renovar
O estoque de carinho?
Eu não vivo de passado
E agora sei que ao teu lado
Não está o meu caminho
Tantas idéias diferentes
Me diga que tu não sentes
O quanto estou descontente!
Ainda lembro do começo
Foi um grande tropeço
De quem cansou da solidão
Hoje eu sei que a paixão
Só me causou cegueira
Foi coisa passageira
E aos poucos enxerguei
O que você não admitiu
Nossa obra ruiu
O castelo desabou
Da minha parte, acabou
Já não quero o tormento
De insistir, perder meu tempo
E depois brigar por nada
Agora, me despeço triste
Mas sei que o amor existe
Por aí
Tanto pra mim
Quanto pra ti.
Exagerei ao te adorar
Verbalizei meu bem querer
E vendo a paixão definhar
Eu não quis te dizer
Que passamos do ponto
Que depois de pronto
O amor começou a desmoronar
Tu parecias não perceber
Então, o problema era eu?
O que aconteceu?
O que é que deu errado?
O que fazer pra renovar
O estoque de carinho?
Eu não vivo de passado
E agora sei que ao teu lado
Não está o meu caminho
Tantas idéias diferentes
Me diga que tu não sentes
O quanto estou descontente!
Ainda lembro do começo
Foi um grande tropeço
De quem cansou da solidão
Hoje eu sei que a paixão
Só me causou cegueira
Foi coisa passageira
E aos poucos enxerguei
O que você não admitiu
Nossa obra ruiu
O castelo desabou
Da minha parte, acabou
Já não quero o tormento
De insistir, perder meu tempo
E depois brigar por nada
Agora, me despeço triste
Mas sei que o amor existe
Por aí
Tanto pra mim
Quanto pra ti.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Poesia/10
Sara
Sara
Tua pele clara
Me entontece a vista
E dá vida à tara!
Sara minha boca, Sara!
Se Sara me beija,
O meu tempo para.
Sara
Tua pele clara
Me entontece a vista
E dá vida à tara!
Sara minha boca, Sara!
Se Sara me beija,
O meu tempo para.
domingo, 28 de março de 2010
Poesia/09
Conto de fadas
Da sacada, eu vejo o sol
Que amarelo, me sorri
E lá embaixo do castelo
Meu príncipe diz: "Temos que ir!"
Então, desenrolo minhas tranças
Tal qual faria Rapunzel
Mas no meu conto de fadas
Eu as jogo para o céu
O sol as segura firmemente
E me diz: "Pode pular"
Eu olho o príncipe e me despeço:
"Tchau, Alteza! Eu vou voar!".
I tried to translate with rhymes :)
Fairy tale
From the balcony, I see the sun
So yellow, he smiles for me.
And down my castle, I hear my prince:
“Hurry up! Come here!”
So, I unroll my hair
Just like Rapunzel did
But on my fairy tale,
To the air – it was where I risked.
The sun holds it strongly
And says me: “Jump to the sky”
I look my prince to farewell:
“Bye, highness! I will fly!”
Da sacada, eu vejo o sol
Que amarelo, me sorri
E lá embaixo do castelo
Meu príncipe diz: "Temos que ir!"
Então, desenrolo minhas tranças
Tal qual faria Rapunzel
Mas no meu conto de fadas
Eu as jogo para o céu
O sol as segura firmemente
E me diz: "Pode pular"
Eu olho o príncipe e me despeço:
"Tchau, Alteza! Eu vou voar!".
I tried to translate with rhymes :)
Fairy tale
From the balcony, I see the sun
So yellow, he smiles for me.
And down my castle, I hear my prince:
“Hurry up! Come here!”
So, I unroll my hair
Just like Rapunzel did
But on my fairy tale,
To the air – it was where I risked.
The sun holds it strongly
And says me: “Jump to the sky”
I look my prince to farewell:
“Bye, highness! I will fly!”
sábado, 27 de março de 2010
Conto/03
A história de nós dois.
Quando fomos apresentados ele já era um senhor e eu, um pouco mais jovem do que sou agora. Mas isso não foi empecilho para que a paixão nascesse. Aliás, eu posso dizer que foi amor à primeira vista. Melhor: amor à primeira mordida!
Sabe aquelas coisas que você só vê nos filmes ou em novelas? Pois é, aconteceu com nós dois.
Nos tornamos amigos, amantes, cúmplices. Ele e eu, sempre juntos. Qualquer hora era hora, qualquer dia com ele ficava perfeito. Quando eu chorava, lá estava ele para me consolar; quando eu sorria, ele estava junto para tornar o momento ainda mais gostoso. Meu querido era presença constante, fosse meio amargo ou doce!
É verdade que passamos por alguns problemas, mas nada que pudesse nos afetar. Com ele, senti dores de barriga, cheguei a ter alergia, ganhei alguns quilos. Até suei frio depois de estar com ele por várias e várias horas! No período mais difícil, tivemos que nos encontrar às escondidas, pois estar com ele por tanto tempo preocupava minha família e meus amigos. Mas tudo que passamos valeu a pena. A paixão resistiu ao tempo, cresceu e se manteve firme, forte e saborosa.
Depois de superar os pequenos obstáculos que surgiram em nosso caminho, estamos felizes: ele na minha boca, se derretendo, e eu a devorá-lo loucamente e sem nenhum pudor.
Hoje, me sinto feliz por poder dizer aquilo que sinto com tanta intensidade: Chocolate, eu te amo!
Quando fomos apresentados ele já era um senhor e eu, um pouco mais jovem do que sou agora. Mas isso não foi empecilho para que a paixão nascesse. Aliás, eu posso dizer que foi amor à primeira vista. Melhor: amor à primeira mordida!
Sabe aquelas coisas que você só vê nos filmes ou em novelas? Pois é, aconteceu com nós dois.
Nos tornamos amigos, amantes, cúmplices. Ele e eu, sempre juntos. Qualquer hora era hora, qualquer dia com ele ficava perfeito. Quando eu chorava, lá estava ele para me consolar; quando eu sorria, ele estava junto para tornar o momento ainda mais gostoso. Meu querido era presença constante, fosse meio amargo ou doce!
É verdade que passamos por alguns problemas, mas nada que pudesse nos afetar. Com ele, senti dores de barriga, cheguei a ter alergia, ganhei alguns quilos. Até suei frio depois de estar com ele por várias e várias horas! No período mais difícil, tivemos que nos encontrar às escondidas, pois estar com ele por tanto tempo preocupava minha família e meus amigos. Mas tudo que passamos valeu a pena. A paixão resistiu ao tempo, cresceu e se manteve firme, forte e saborosa.
Depois de superar os pequenos obstáculos que surgiram em nosso caminho, estamos felizes: ele na minha boca, se derretendo, e eu a devorá-lo loucamente e sem nenhum pudor.
Hoje, me sinto feliz por poder dizer aquilo que sinto com tanta intensidade: Chocolate, eu te amo!
sexta-feira, 26 de março de 2010
Conto/02
Marie, marry me
Aqui estou eu, após tanto tempo, na cidadezinha praiana onde passei férias duas vezes. O lugar continua bonito, mas está tão diferente! Virou point, está lotado de pousadas e bares. Já não é mais cidadezinha: agora é destino turístico.
Subo as dunas para apreciar o pôr do sol. Há pessoas por perto, mas eu prefiro me manter distante delas. Subo mais um pouco e sento sozinho na “Pedra do beijo”.
Como num filme, me vejo aos doze anos. Imediatamente, me lembro de Marie. Ela tinha cabelos, olhos e lábios de mel. A pele era corada – culpa do sol. Marie foi a primeira garota que beijei.
Meus pais e eu ficamos na casa da tia Beatriz. Marie morava na casa ao lado. Um dia, me encontrou na praia, olhando o mar. Puxou assunto:
– Você vai ser meu vizinho?
– Só até o fim das férias.
– Então, eu preciso te mostrar umas coisas.
Depois disso, éramos como unha e carne. Até então, eu nem saía muito, justamente porque não tinha companhia. Marie fez questão de me mostrar tudo. Contava histórias, dava nomes de lugares e pessoas. O pai dela era francês, daí ser Marie e não Maria. Foi isso que ela me contou quando eu perguntei:
– Por que seu nome é Marie?
– Porque meus pais escolheram! – e riu-se toda.
– Tá, mas por que foi essa a escolha deles?
– É um nome francês. Meu pai é de Paris. Ele veio pra cá por causa da minha mãe, que é brasileira. Esse era o nome da minha bisavó.
– Você também é de Paris?
– Que nada! Nasci e cresci aqui. Só no ano passado é que conheci a capital.
– Seu nome é bonito.
– Mesmo?
– É. – eu precisava achar uma palavra melhor – É exótico!
Hoje eu não diria que é exótico, mas na época me parecia ser, por ser tratar de um nome estrangeiro. E a palavra caiu bem. Eu tinha aprendido havia pouco, no colégio. Marie gostou e sorriu com os olhos. Isso era algo que ela fazia muito bem.
– Vamos tomar sorvete! – e me puxou pela mão.
Eu ficava ansioso para encontrá-la, sonhava com ela, imaginava o que poderia mostrar se um dia ela voltasse à capital. Pensei até numa forma original de pedi-la em casamento.
– Marie, marry me.
Eu estava estudando inglês e achei fantástica a combinação das palavras. Primeiro, pensei em pedi-la em francês, mas a única palavra que conhecia fora o nome dela era “oui”. E isso devia ser a resposta ao meu pedido.
Numa tarde, Marie disse:
– Vamos lá para as dunas. Quero te mostrar a “Pedra do beijo”.
– Por que chamam assim?
– Dizem que é o lugar onde o fundador da cidade pediu a esposa em casamento. As pessoas falam que foi lá onde eles se beijaram pela primeira vez.
Meu coração ameaçou saltar fora do corpo quando ela disse isso. O que Marie tinha em mente? Será que ela sentia o mesmo que eu?
Já era costume nosso assistir ao pôr do sol. Nesse dia, só trocamos de lugar. A pedra ficava num ponto mais alto que as dunas, na beira de uma estrada de difícil acesso. Por isso, era mais fácil ir até lá subindo as dunas.
Quando sentamos, eu só conseguia pensar em como pedir um beijo. “Marie, me dá um beijo?”, “Marie, posso te beijar?”, “Marie, kiss me”. Mas quando a gente pensa demais em como fazer as coisas, elas sempre saem diferente de qualquer forma que a gente tenha imaginado.
Marie olhava o horizonte e parecia nem notar que eu olhava para ela. Tomei coragem e peguei na mão dela. Marie virou-se para mim. Pronto! O sol estava sumindo, era já ou nunca! Antes que eu dissesse qualquer coisa, minha quase francesa falou:
– Ivo, por que você não me beija?
Eu coloquei meu braço ao redor dela e puxei-a para junto de mim. Marie foi o meu sol naquele fim de tarde.
Não consigo conter um sorriso. Aqui no tempo real, o sol também se põe, mas Marie não está ao meu lado. Onde ela estará? Que terá acontecido com ela durante esses quinze anos? Será que ainda lembra de mim?
O final das férias foi terrível.
– Marie, eu vou embora depois de amanhã.
Ela disse:
– Eu já sabia.
– Sabia que eu vou depois de amanhã?
– Não, seu bobo... Sabia que você iria embora uma hora ou outra.
Daí, ela começou a chorar e me abraçou. Naquela época, eu me senti mais triste do que quando meu cachorro morreu ou quando meu time perdeu o campeonato e comecei a chorar também. Passamos um bom tempo assim, até que minha mãe me chamou:
– Ivo, vem arrumar suas coisas!
Combinamos de fazer um piquenique. Quando entrei, minha mãe disse:
– Você chorou, meu filho?
– Eu não! Por quê?
– Seus olhos... Estão vermelhos.
– Ah, foi água do mar que entrou.
– Sei... – e ela logo mudou de assunto. – Já se despediu da sua amiga?
– Mais ou menos.
– Como assim ‘mais ou menos’?
– A gente vai fazer um piquenique amanhã.
– É bom levar um presente para ela. Toma esse cordão. Ela merece ganhar uma coisa bem bonita. E eu nem cheguei a usar mesmo. Diz que é um presente nosso.
– Certo.
No dia seguinte, levei sanduíches, suco de laranja e o cordão.
– Eu tenho um presente para te dar. Meu e da minha mãe.
O pingente do cordão tinha um formato sugestivo: um coração. Marie colocou, agradeceu e disse:
– É lindo! Mas ficou grande...
– Ah, quando você crescer fica melhor.
– Quando você volta?
– No fim do ano, eu acho. Meus pais querem passar o Natal aqui.
– Vai me telefonar?
– Lógico! E vou mandar carta também!
– Se mandar mesmo, eu vou responder com certeza!
– Combinado!
E ela sorriu com os olhos mais uma vez.
Depois do piquenique, uma volta na praça. Marie teve uma idéia.
– Que tal se a gente escrever meu nome e o seu numa árvore?
Eu fui correndo pegar uma faca. Deu trabalho, mas valeu a pena. “Ivo e Marie para sempre”, em letras de forma. Uma obra digna da admiração dela.
– Ficou uma gracinha!
Marie chorou de novo quando disse “Tchau, Ivo”. Agarrou-se em mim com força. Depois que o carro saiu, abraçou a mãe. Eu vi tudo do banco traseiro, enquanto perdia a vergonha dos meus pais e também chorava mais uma vez.
A troca de cartas e telefonemas durou quatro meses. Durante esse tempo, tia Beatriz teve que vender a casa. Pensei se veria ou não Marie no final do ano.
Procuro a árvore. Sim, é aquela. Encontro nossos nomes. Precisam de um reparo. Há mais nomes em volta. Passo alguns instantes diante do lugar e decido voltar para a pousada. Já é tarde. A cidade fervilha, mas eu quero descansar.
É engraçado o rumo que a vida toma às vezes. A gente insiste em algo, mas uma série de acontecimentos muda tudo. Depois que a casa de tia Beatriz foi vendida, liguei para Marie contando tudo. Como resposta, ela disse que falaria com os pais, perguntaria se eu poderia ficar lá nas férias. Eles aceitaram.
Então, foi minha vez de conversar com meus pais. Lembro que eles achavam graça no nosso “namorico” e receberam com surpresa meu pedido de passar o Natal fora de casa. Acabaram concordando, com uma condição: eu tinha que voltar antes do ano novo. Minha mãe telefonou para acertar com os pais de Marie os detalhes da ida e da volta.
Passamos exatos dezoito dias juntos. No dia 31, cheguei em casa. Telefonei para ela e desejei “Feliz ano novo”. Foi a última vez que ouvi sua voz.
Na primeira carta após o reveillon, Marie contou que os negócios do pai não iam muito bem. Além disso, ele tinha recebido uma boa proposta de trabalho de um dos parentes na França. Era possível que eles fossem embora do país! Os estudos de francês de Marie foram intensificados. Essa foi sua carta final. A que enviei como resposta voltou. As seguintes também. Pouco depois, minha família e eu nos mudamos. O contato perdeu-se.
No dia seguinte, dou voltas e mais voltas pela cidade. Pergunto a todos daquela época se sabem o que aconteceu com a família de Marie. Eu queria ter vindo antes, entretanto sempre havia algo que me impedia ou adiava minha vinda: estudos, trabalho...
As pessoas me contam o que houve. Antes da partida, a mãe de Marie descobriu que o marido tinha uma amante. Ela não o perdoou. Pelo contrário: arrumou as malas e sumiu com a filha. Sem saber onde estavam as duas, o pai vendeu o que tinha e, segundo dizem, voltou para a França. Ninguém na cidade sabe o paradeiro de mãe e filha.
Depois de Marie, conheci Ana. E, ao longo dos anos, Paula, Bruna, Laura e Isabela. E outras, tantas outras... Todas as minhas namoradas tiveram ciúmes de Marie. Algumas tentaram rasgar as cartas e a única foto que eu tinha dela, então passei a deixar tudo sempre escondido. Nunca mais meu coração foi o mesmo. Eu me apaixonei por outras, sim. Contudo, era comum que, tarde da noite, eu pensasse nela. Constatei com o tempo que era ela quem eu desejava ver nas outras.
A cidadezinha teve minha presença por uma semana. Não foi por acaso que a escolhi para passar uma parte das férias. Vim na esperança de ter notícias e também para ter todas as lembranças de forma mais viva. Tudo que veio depois dela foi tão supérfluo. Não tinha mais aquela pureza, aquela graça do primeiro amor.
Penso sempre em como ela está, se mudou muito. Sei que vou encontrá-la algum dia. Mas tenho medo também. E se ela não se recordar de mim como eu me recordo dela? E se estiver casada e feliz? E se tiver se tornado uma daquelas pessoas super ocupadas, que só te dão 10 minutos de atenção porque o telefone não para de tocar? Ah, não adianta. Não terei respostas a não ser que a encontre.
Hoje é muito mais fácil achar quem ou o que você procura. Comecei com uma busca arcaica, solitária e, até agora, infrutífera. Talvez seja hora de apelar para um detetive ou um programa de televisão. Ou a Internet mesmo, por que não? Resisti bravamente aos avanços tecnológicos, mas se quero encontrá-la, não adianta esperar que o acaso nos una.
É dia de partir. Volto à “Pedra do beijo”. Juro a mim mesmo que quando encontrar Marie, as palavras não sumirão. Sei que é bobo prometer se isso sempre acontece comigo: a fala desaparece quando eu mais preciso. Mas agora não é hora de falar. Eu estou aqui para admirar o pôr-do-sol.
Sinto que alguém me observa, a poucos passos de distância. Volto-me para saber se é só uma sensação ou se tem mesmo alguém perto. Uma moça me fita. Ela diz:
– Desculpe! É que há muito tempo eu não venho aqui e, agora que vim, tem alguém sentado, admirando a paisagem. Eu fiquei com medo de incomodar, mas queria sentar aí onde você está e ver o pôr-do-sol.
– À vontade! Você não vai me incomodar, juro.
Ela chega mais perto e eu já não reparo mais na paisagem, só nela. A pele corada, olhos e cabelos de mel... Parece com... Meu Deus, eu não acredito! É ela! Marie!
Levanto-me, atordoado. Agora, frente a frente, ela me olha de modo diferente. Eu tenho que perguntar, tenho que falar alguma coisa! Mas, seguindo a ordem natural das coisas, ela se adianta e diz com surpresa:
– Ivo! É você?!
A única coisa que consigo fazer é olhá-la como um paspalho. Noto que ela usa o cordão com o pingente em formato de coração. Ela me abraça e continua falando:
– Nossa! Você não sabe como eu senti saudade! Há quanto tempo! Você reparou? Ainda uso o cordão que ganhei de você e da sua mãe. Agora, ele serve direitinho! Escuta Ivo, eu tenho que dizer... Tenho que dizer que nunca deixei de pensar em você. Nunca mesmo.
Agora, ela me olha, num misto de riso e choro:
– Mas só eu falo! E você? Não vai dizer nada?
É agora, Ivo. Você tem que falar algo inteligente, sem gaguejar. Você tem que dizer que também sentiu a falta dela, que nunca se sentiu tão bem com outra pessoa como se sentia com ela e, que por mais louco que isso possa parecer, você acredita que ela é a mulher da sua vida.
– Marie, marry me.
Quinze anos e isso é tudo que consigo articular! Ela deve estar pensando que eu sou um idiota. Ou um maluco. Mas ela me olha de uma forma serena. E sorri! Sorri com os olhos! Ela ainda faz isso muito bem. E assim, sorrindo e rindo, ela me diz o que eu sempre quis ouvir:
– Oui, Ivo, oui.
Aqui estou eu, após tanto tempo, na cidadezinha praiana onde passei férias duas vezes. O lugar continua bonito, mas está tão diferente! Virou point, está lotado de pousadas e bares. Já não é mais cidadezinha: agora é destino turístico.
Subo as dunas para apreciar o pôr do sol. Há pessoas por perto, mas eu prefiro me manter distante delas. Subo mais um pouco e sento sozinho na “Pedra do beijo”.
Como num filme, me vejo aos doze anos. Imediatamente, me lembro de Marie. Ela tinha cabelos, olhos e lábios de mel. A pele era corada – culpa do sol. Marie foi a primeira garota que beijei.
Meus pais e eu ficamos na casa da tia Beatriz. Marie morava na casa ao lado. Um dia, me encontrou na praia, olhando o mar. Puxou assunto:
– Você vai ser meu vizinho?
– Só até o fim das férias.
– Então, eu preciso te mostrar umas coisas.
Depois disso, éramos como unha e carne. Até então, eu nem saía muito, justamente porque não tinha companhia. Marie fez questão de me mostrar tudo. Contava histórias, dava nomes de lugares e pessoas. O pai dela era francês, daí ser Marie e não Maria. Foi isso que ela me contou quando eu perguntei:
– Por que seu nome é Marie?
– Porque meus pais escolheram! – e riu-se toda.
– Tá, mas por que foi essa a escolha deles?
– É um nome francês. Meu pai é de Paris. Ele veio pra cá por causa da minha mãe, que é brasileira. Esse era o nome da minha bisavó.
– Você também é de Paris?
– Que nada! Nasci e cresci aqui. Só no ano passado é que conheci a capital.
– Seu nome é bonito.
– Mesmo?
– É. – eu precisava achar uma palavra melhor – É exótico!
Hoje eu não diria que é exótico, mas na época me parecia ser, por ser tratar de um nome estrangeiro. E a palavra caiu bem. Eu tinha aprendido havia pouco, no colégio. Marie gostou e sorriu com os olhos. Isso era algo que ela fazia muito bem.
– Vamos tomar sorvete! – e me puxou pela mão.
Eu ficava ansioso para encontrá-la, sonhava com ela, imaginava o que poderia mostrar se um dia ela voltasse à capital. Pensei até numa forma original de pedi-la em casamento.
– Marie, marry me.
Eu estava estudando inglês e achei fantástica a combinação das palavras. Primeiro, pensei em pedi-la em francês, mas a única palavra que conhecia fora o nome dela era “oui”. E isso devia ser a resposta ao meu pedido.
Numa tarde, Marie disse:
– Vamos lá para as dunas. Quero te mostrar a “Pedra do beijo”.
– Por que chamam assim?
– Dizem que é o lugar onde o fundador da cidade pediu a esposa em casamento. As pessoas falam que foi lá onde eles se beijaram pela primeira vez.
Meu coração ameaçou saltar fora do corpo quando ela disse isso. O que Marie tinha em mente? Será que ela sentia o mesmo que eu?
Já era costume nosso assistir ao pôr do sol. Nesse dia, só trocamos de lugar. A pedra ficava num ponto mais alto que as dunas, na beira de uma estrada de difícil acesso. Por isso, era mais fácil ir até lá subindo as dunas.
Quando sentamos, eu só conseguia pensar em como pedir um beijo. “Marie, me dá um beijo?”, “Marie, posso te beijar?”, “Marie, kiss me”. Mas quando a gente pensa demais em como fazer as coisas, elas sempre saem diferente de qualquer forma que a gente tenha imaginado.
Marie olhava o horizonte e parecia nem notar que eu olhava para ela. Tomei coragem e peguei na mão dela. Marie virou-se para mim. Pronto! O sol estava sumindo, era já ou nunca! Antes que eu dissesse qualquer coisa, minha quase francesa falou:
– Ivo, por que você não me beija?
Eu coloquei meu braço ao redor dela e puxei-a para junto de mim. Marie foi o meu sol naquele fim de tarde.
Não consigo conter um sorriso. Aqui no tempo real, o sol também se põe, mas Marie não está ao meu lado. Onde ela estará? Que terá acontecido com ela durante esses quinze anos? Será que ainda lembra de mim?
O final das férias foi terrível.
– Marie, eu vou embora depois de amanhã.
Ela disse:
– Eu já sabia.
– Sabia que eu vou depois de amanhã?
– Não, seu bobo... Sabia que você iria embora uma hora ou outra.
Daí, ela começou a chorar e me abraçou. Naquela época, eu me senti mais triste do que quando meu cachorro morreu ou quando meu time perdeu o campeonato e comecei a chorar também. Passamos um bom tempo assim, até que minha mãe me chamou:
– Ivo, vem arrumar suas coisas!
Combinamos de fazer um piquenique. Quando entrei, minha mãe disse:
– Você chorou, meu filho?
– Eu não! Por quê?
– Seus olhos... Estão vermelhos.
– Ah, foi água do mar que entrou.
– Sei... – e ela logo mudou de assunto. – Já se despediu da sua amiga?
– Mais ou menos.
– Como assim ‘mais ou menos’?
– A gente vai fazer um piquenique amanhã.
– É bom levar um presente para ela. Toma esse cordão. Ela merece ganhar uma coisa bem bonita. E eu nem cheguei a usar mesmo. Diz que é um presente nosso.
– Certo.
No dia seguinte, levei sanduíches, suco de laranja e o cordão.
– Eu tenho um presente para te dar. Meu e da minha mãe.
O pingente do cordão tinha um formato sugestivo: um coração. Marie colocou, agradeceu e disse:
– É lindo! Mas ficou grande...
– Ah, quando você crescer fica melhor.
– Quando você volta?
– No fim do ano, eu acho. Meus pais querem passar o Natal aqui.
– Vai me telefonar?
– Lógico! E vou mandar carta também!
– Se mandar mesmo, eu vou responder com certeza!
– Combinado!
E ela sorriu com os olhos mais uma vez.
Depois do piquenique, uma volta na praça. Marie teve uma idéia.
– Que tal se a gente escrever meu nome e o seu numa árvore?
Eu fui correndo pegar uma faca. Deu trabalho, mas valeu a pena. “Ivo e Marie para sempre”, em letras de forma. Uma obra digna da admiração dela.
– Ficou uma gracinha!
Marie chorou de novo quando disse “Tchau, Ivo”. Agarrou-se em mim com força. Depois que o carro saiu, abraçou a mãe. Eu vi tudo do banco traseiro, enquanto perdia a vergonha dos meus pais e também chorava mais uma vez.
A troca de cartas e telefonemas durou quatro meses. Durante esse tempo, tia Beatriz teve que vender a casa. Pensei se veria ou não Marie no final do ano.
Procuro a árvore. Sim, é aquela. Encontro nossos nomes. Precisam de um reparo. Há mais nomes em volta. Passo alguns instantes diante do lugar e decido voltar para a pousada. Já é tarde. A cidade fervilha, mas eu quero descansar.
É engraçado o rumo que a vida toma às vezes. A gente insiste em algo, mas uma série de acontecimentos muda tudo. Depois que a casa de tia Beatriz foi vendida, liguei para Marie contando tudo. Como resposta, ela disse que falaria com os pais, perguntaria se eu poderia ficar lá nas férias. Eles aceitaram.
Então, foi minha vez de conversar com meus pais. Lembro que eles achavam graça no nosso “namorico” e receberam com surpresa meu pedido de passar o Natal fora de casa. Acabaram concordando, com uma condição: eu tinha que voltar antes do ano novo. Minha mãe telefonou para acertar com os pais de Marie os detalhes da ida e da volta.
Passamos exatos dezoito dias juntos. No dia 31, cheguei em casa. Telefonei para ela e desejei “Feliz ano novo”. Foi a última vez que ouvi sua voz.
Na primeira carta após o reveillon, Marie contou que os negócios do pai não iam muito bem. Além disso, ele tinha recebido uma boa proposta de trabalho de um dos parentes na França. Era possível que eles fossem embora do país! Os estudos de francês de Marie foram intensificados. Essa foi sua carta final. A que enviei como resposta voltou. As seguintes também. Pouco depois, minha família e eu nos mudamos. O contato perdeu-se.
No dia seguinte, dou voltas e mais voltas pela cidade. Pergunto a todos daquela época se sabem o que aconteceu com a família de Marie. Eu queria ter vindo antes, entretanto sempre havia algo que me impedia ou adiava minha vinda: estudos, trabalho...
As pessoas me contam o que houve. Antes da partida, a mãe de Marie descobriu que o marido tinha uma amante. Ela não o perdoou. Pelo contrário: arrumou as malas e sumiu com a filha. Sem saber onde estavam as duas, o pai vendeu o que tinha e, segundo dizem, voltou para a França. Ninguém na cidade sabe o paradeiro de mãe e filha.
Depois de Marie, conheci Ana. E, ao longo dos anos, Paula, Bruna, Laura e Isabela. E outras, tantas outras... Todas as minhas namoradas tiveram ciúmes de Marie. Algumas tentaram rasgar as cartas e a única foto que eu tinha dela, então passei a deixar tudo sempre escondido. Nunca mais meu coração foi o mesmo. Eu me apaixonei por outras, sim. Contudo, era comum que, tarde da noite, eu pensasse nela. Constatei com o tempo que era ela quem eu desejava ver nas outras.
A cidadezinha teve minha presença por uma semana. Não foi por acaso que a escolhi para passar uma parte das férias. Vim na esperança de ter notícias e também para ter todas as lembranças de forma mais viva. Tudo que veio depois dela foi tão supérfluo. Não tinha mais aquela pureza, aquela graça do primeiro amor.
Penso sempre em como ela está, se mudou muito. Sei que vou encontrá-la algum dia. Mas tenho medo também. E se ela não se recordar de mim como eu me recordo dela? E se estiver casada e feliz? E se tiver se tornado uma daquelas pessoas super ocupadas, que só te dão 10 minutos de atenção porque o telefone não para de tocar? Ah, não adianta. Não terei respostas a não ser que a encontre.
Hoje é muito mais fácil achar quem ou o que você procura. Comecei com uma busca arcaica, solitária e, até agora, infrutífera. Talvez seja hora de apelar para um detetive ou um programa de televisão. Ou a Internet mesmo, por que não? Resisti bravamente aos avanços tecnológicos, mas se quero encontrá-la, não adianta esperar que o acaso nos una.
É dia de partir. Volto à “Pedra do beijo”. Juro a mim mesmo que quando encontrar Marie, as palavras não sumirão. Sei que é bobo prometer se isso sempre acontece comigo: a fala desaparece quando eu mais preciso. Mas agora não é hora de falar. Eu estou aqui para admirar o pôr-do-sol.
Sinto que alguém me observa, a poucos passos de distância. Volto-me para saber se é só uma sensação ou se tem mesmo alguém perto. Uma moça me fita. Ela diz:
– Desculpe! É que há muito tempo eu não venho aqui e, agora que vim, tem alguém sentado, admirando a paisagem. Eu fiquei com medo de incomodar, mas queria sentar aí onde você está e ver o pôr-do-sol.
– À vontade! Você não vai me incomodar, juro.
Ela chega mais perto e eu já não reparo mais na paisagem, só nela. A pele corada, olhos e cabelos de mel... Parece com... Meu Deus, eu não acredito! É ela! Marie!
Levanto-me, atordoado. Agora, frente a frente, ela me olha de modo diferente. Eu tenho que perguntar, tenho que falar alguma coisa! Mas, seguindo a ordem natural das coisas, ela se adianta e diz com surpresa:
– Ivo! É você?!
A única coisa que consigo fazer é olhá-la como um paspalho. Noto que ela usa o cordão com o pingente em formato de coração. Ela me abraça e continua falando:
– Nossa! Você não sabe como eu senti saudade! Há quanto tempo! Você reparou? Ainda uso o cordão que ganhei de você e da sua mãe. Agora, ele serve direitinho! Escuta Ivo, eu tenho que dizer... Tenho que dizer que nunca deixei de pensar em você. Nunca mesmo.
Agora, ela me olha, num misto de riso e choro:
– Mas só eu falo! E você? Não vai dizer nada?
É agora, Ivo. Você tem que falar algo inteligente, sem gaguejar. Você tem que dizer que também sentiu a falta dela, que nunca se sentiu tão bem com outra pessoa como se sentia com ela e, que por mais louco que isso possa parecer, você acredita que ela é a mulher da sua vida.
– Marie, marry me.
Quinze anos e isso é tudo que consigo articular! Ela deve estar pensando que eu sou um idiota. Ou um maluco. Mas ela me olha de uma forma serena. E sorri! Sorri com os olhos! Ela ainda faz isso muito bem. E assim, sorrindo e rindo, ela me diz o que eu sempre quis ouvir:
– Oui, Ivo, oui.
quinta-feira, 25 de março de 2010
Conto/01
Li que "O conto caracteriza-se por ser uma narrativa curta, um texto em prosa que dá o seu recado em reduzido número de páginas ou linhas". (Fonte: O que é conto>). Bom, eu tentei. Venho tentado, aliás. Também não é costume meu escrever contos.
A dona do cabaré
Quando eu era criança, tinha medo das sombras que apareciam através das cortinas brancas nas paredes do quarto. Minha mãe dizia que não era pra eu me importar, que a festa precisava acontecer todas as noites e criança tinha que dormir de qualquer jeito, não era pra espiar. Mas eu espiava. As mulheres se esfregavam nos homens, se esfregavam umas nas outras, todo mundo bebia e dançava. Eu nem sabia o que era aquilo tudo, mas não gostava, achava tudo feio, nojento.
E aí, eu cresci. Minha mãe nunca deixou de ser dona de cabaré e eu nunca deixei de ter nojo das festas dentro de casa. E tive mais nojo, quando completei 15 anos e, por puro azar ou sei lá o que, vi minha mãe com um cliente. Ela era dona, mas trabalhava como as outras. Chorei por três dias. Eu sabia o que ela fazia, mas os meus olhos não.
Minha mãe planejava um futuro pra mim, eu era uma moça estudiosa. Mas é incrível como os planos que os pais fazem nunca combinam com o que os filhos querem ou acabam fazendo. Minha mãe iludida que eu seria diferente dela, e aí eu me apaixonei.
O nome dele era Alfredo. Ele foi minha primeira paixão e foi o primeiro e último rapaz com quem eu me deitei por amor.
Eu saía escondida pra encontrar com o Alfredo. A minha mãe não queria que eu namorasse nem com ele nem com ninguém. “Homem só atrapalha a vida; desse jeito, você não estuda”. Mas eu não me importava. Até que numa noite, ele me disse:
- Sabe, Fatinha, eu até penso em me casar com você, mas só se você sair daqui antes. Se não, as pessoas vão sempre me apontar. Vão falar que eu casei com a filha da cafetina. Você tem que sair daqui. Ou então, vai acabar como a sua mãe.
E eu me ofendi, gritei “Quem é você pra falar da minha mãe? Você não paga as contas nem sustenta a casa!”. E falei que tinha nojo de tudo aquilo, mas não tinha culpa; não ia abandonar minha mãe. E aí, ele parou de ouvir, ficou só olhando, mas já tinha ido embora a mente dele toda e tudo aquilo que ele dizia que era amor. E eu fiquei com tanto ódio que nem consegui chorar quando ele disse “Chega! Eu não volto mais aqui”.
Realmente, ele nunca mais voltou. Depois, ele saiu da cidade e eu nem soube mais o que aconteceu com ele nem nada. Só sei que ele acertou a previsão. Como eu entrei nisso, nem gosto de me lembrar. Lembro apenas que minha mãe foi contra; depois se acostumou. A gente se acostuma a qualquer coisa.
Garota de programa, pecadora, mulher de vida fácil, profissional do sexo, piranha, perdida, prostituta, puta... Eu já ouvi de tudo. Eles podem me chamar do que quiserem, mas depois vão vir aqui e vão querer se deitar comigo. Eu sei disso. E eu vou esperar as visitas e vou cobrar o dobro, só pra que eles saibam quem é a nova dona do cabaré.
A dona do cabaré
Quando eu era criança, tinha medo das sombras que apareciam através das cortinas brancas nas paredes do quarto. Minha mãe dizia que não era pra eu me importar, que a festa precisava acontecer todas as noites e criança tinha que dormir de qualquer jeito, não era pra espiar. Mas eu espiava. As mulheres se esfregavam nos homens, se esfregavam umas nas outras, todo mundo bebia e dançava. Eu nem sabia o que era aquilo tudo, mas não gostava, achava tudo feio, nojento.
E aí, eu cresci. Minha mãe nunca deixou de ser dona de cabaré e eu nunca deixei de ter nojo das festas dentro de casa. E tive mais nojo, quando completei 15 anos e, por puro azar ou sei lá o que, vi minha mãe com um cliente. Ela era dona, mas trabalhava como as outras. Chorei por três dias. Eu sabia o que ela fazia, mas os meus olhos não.
Minha mãe planejava um futuro pra mim, eu era uma moça estudiosa. Mas é incrível como os planos que os pais fazem nunca combinam com o que os filhos querem ou acabam fazendo. Minha mãe iludida que eu seria diferente dela, e aí eu me apaixonei.
O nome dele era Alfredo. Ele foi minha primeira paixão e foi o primeiro e último rapaz com quem eu me deitei por amor.
Eu saía escondida pra encontrar com o Alfredo. A minha mãe não queria que eu namorasse nem com ele nem com ninguém. “Homem só atrapalha a vida; desse jeito, você não estuda”. Mas eu não me importava. Até que numa noite, ele me disse:
- Sabe, Fatinha, eu até penso em me casar com você, mas só se você sair daqui antes. Se não, as pessoas vão sempre me apontar. Vão falar que eu casei com a filha da cafetina. Você tem que sair daqui. Ou então, vai acabar como a sua mãe.
E eu me ofendi, gritei “Quem é você pra falar da minha mãe? Você não paga as contas nem sustenta a casa!”. E falei que tinha nojo de tudo aquilo, mas não tinha culpa; não ia abandonar minha mãe. E aí, ele parou de ouvir, ficou só olhando, mas já tinha ido embora a mente dele toda e tudo aquilo que ele dizia que era amor. E eu fiquei com tanto ódio que nem consegui chorar quando ele disse “Chega! Eu não volto mais aqui”.
Realmente, ele nunca mais voltou. Depois, ele saiu da cidade e eu nem soube mais o que aconteceu com ele nem nada. Só sei que ele acertou a previsão. Como eu entrei nisso, nem gosto de me lembrar. Lembro apenas que minha mãe foi contra; depois se acostumou. A gente se acostuma a qualquer coisa.
Garota de programa, pecadora, mulher de vida fácil, profissional do sexo, piranha, perdida, prostituta, puta... Eu já ouvi de tudo. Eles podem me chamar do que quiserem, mas depois vão vir aqui e vão querer se deitar comigo. Eu sei disso. E eu vou esperar as visitas e vou cobrar o dobro, só pra que eles saibam quem é a nova dona do cabaré.
quarta-feira, 24 de março de 2010
Poesia/08
Breve retorno à poesia!
O céu se racha
E todos vivem
O céu cai
Não nos atinge
Somos bons o bastante
Pra escapar do céu que cai
Mas não pra escapar do dia-a-dia
Que vai.
In English!
Sky cracks
We keep ourselves alive
Sky falls
But we are strong and smile
We are good enough
To escape from sky
But not to escape from day by day
That through us just goes by.
O céu se racha
E todos vivem
O céu cai
Não nos atinge
Somos bons o bastante
Pra escapar do céu que cai
Mas não pra escapar do dia-a-dia
Que vai.
In English!
Sky cracks
We keep ourselves alive
Sky falls
But we are strong and smile
We are good enough
To escape from sky
But not to escape from day by day
That through us just goes by.
terça-feira, 23 de março de 2010
Crônica/02
Segundo a pesquisa que fiz no Santo Google, Crônica é "uma narração, segundo a ordem temporal. O termo é atribuído, por exemplo, aos noticiários dos jornais, comentários literários ou científicos, que preenchem periodicamente as páginas de um jornal". (Essa foi a fonte :) Crônica é coisa que não costumo escrever e, quando escrevo, faço sem querer - como é o caso do texto a seguir. É já meio antigo e hoje, quando o reli, não resisti e fiz algumas (poucas) alterações.
Amor e sopa
Comparo o amor a um prato de sopa. Não creio que alguém já tenha feito essa comparação e sei que ela pode parecer ridícula, mas o fato é que é cabível.
Assim como a sopa, o amor deve ser diversificado, temperado, gostoso.
Se você tomar a sopa de forma apressada, corre o risco de queimar a língua; se tomar pelos cantos, a sopa pode esfriar. E não importa se a sopa é gostosa – fria, ninguém engole.
Há sopas de vários tipos e para todos os gostos: de legumes, de carne, as instantâneas – que, pra mim, nem parecem sopa e servem mais para matar aquela vontadezinha de comer do que a fome real, de fazer roncar o estômago. Mas vá lá, sopa instantânea é sopa e pode matar a fome (afinal, dizem por aí que “a fome é o melhor tempero” – então, com fome, você nem escolhe muito).
Mas voltando à sopa. Se ela estiver fria, não há quem aprecie, embora existam pessoas que tomam a sopa assim mesmo. Não por falta de opção, e sim por acomodação. Você sabe que pode cozinhar uma outra sopa ou requentar a que estava tomando, mas acaba tomando do jeito que está, às vezes pela vida toda. Se não for acomodação, só pode ser por obrigação. Você toma a sopa fria – ou até ruim – porque outra pessoa fez, você não quer desapontá-la, fazer o que? Ora, a sopa parece apetitosa e você está tão faminto! E quando a porção está pela metade, você se vê dizendo: “Desculpe, não gostei muito, não agüento mais, estou cheio, enjoado...”. Ah, você fala um bocado de blábláblás, a outra pessoa, a que preparou a sopa com tanto carinho, se decepciona do mesmo jeito, promete caprichar na próxima, mas você não quer outro prato nem se for pago pra aceitar. De que adianta se a melhor sopa que você já provou foi a da sua mãe?
Confesso que tomei muitas sopas por aí. Algumas fortemente condimentadas, outras, fraquinhas, ralas, cujo prato eu nem chegava a terminar. E outras mais que eram muito boas, mas que em excesso, me davam náuseas, eu enjoava logo. Umas eram insuportavelmente deliciosas e eu fazia questão de repetir, mesmo que isso me custasse o estômago! E de repente, o restaurante abria falência, eu não tinha mais notícias do cozinheiro e muito menos da sopa. Mas a vida é assim mesmo: nem tudo que é (ou parece) bom, dura pra sempre.
Até agora, nenhuma foi perfeita. Tudo bem. Sopa nunca foi meu prato favorito mesmo.
O que eu preciso, de verdade, é de um amor. Um que seja como um prato de sopa bem feito, um que eu queira tomar, tomar até enjoar. E, quando o enjôo passar, pedir mais um pouco dessa “sopa mágica”, preparada não por duas, mas quatro mãos. Mãos que se afagam enquanto cozinham, que colocam temperos especiais, que não têm medo de experimentar e que sabem que não precisam se apressar. O importante é prolongar o prazer que sentem em estar juntas.
Que venha esse amor, pra que assim eu pare de escrever sobre essas comparações bobas. Amor e sopa, numa madrugada de dezembro, só pode mesmo ser coisa de quem ainda não se apaixonou perdidamente. Coisa de quem espera, ansiosa, por uma sopa arrebatadora.
Amor e sopa
Comparo o amor a um prato de sopa. Não creio que alguém já tenha feito essa comparação e sei que ela pode parecer ridícula, mas o fato é que é cabível.
Assim como a sopa, o amor deve ser diversificado, temperado, gostoso.
Se você tomar a sopa de forma apressada, corre o risco de queimar a língua; se tomar pelos cantos, a sopa pode esfriar. E não importa se a sopa é gostosa – fria, ninguém engole.
Há sopas de vários tipos e para todos os gostos: de legumes, de carne, as instantâneas – que, pra mim, nem parecem sopa e servem mais para matar aquela vontadezinha de comer do que a fome real, de fazer roncar o estômago. Mas vá lá, sopa instantânea é sopa e pode matar a fome (afinal, dizem por aí que “a fome é o melhor tempero” – então, com fome, você nem escolhe muito).
Mas voltando à sopa. Se ela estiver fria, não há quem aprecie, embora existam pessoas que tomam a sopa assim mesmo. Não por falta de opção, e sim por acomodação. Você sabe que pode cozinhar uma outra sopa ou requentar a que estava tomando, mas acaba tomando do jeito que está, às vezes pela vida toda. Se não for acomodação, só pode ser por obrigação. Você toma a sopa fria – ou até ruim – porque outra pessoa fez, você não quer desapontá-la, fazer o que? Ora, a sopa parece apetitosa e você está tão faminto! E quando a porção está pela metade, você se vê dizendo: “Desculpe, não gostei muito, não agüento mais, estou cheio, enjoado...”. Ah, você fala um bocado de blábláblás, a outra pessoa, a que preparou a sopa com tanto carinho, se decepciona do mesmo jeito, promete caprichar na próxima, mas você não quer outro prato nem se for pago pra aceitar. De que adianta se a melhor sopa que você já provou foi a da sua mãe?
Confesso que tomei muitas sopas por aí. Algumas fortemente condimentadas, outras, fraquinhas, ralas, cujo prato eu nem chegava a terminar. E outras mais que eram muito boas, mas que em excesso, me davam náuseas, eu enjoava logo. Umas eram insuportavelmente deliciosas e eu fazia questão de repetir, mesmo que isso me custasse o estômago! E de repente, o restaurante abria falência, eu não tinha mais notícias do cozinheiro e muito menos da sopa. Mas a vida é assim mesmo: nem tudo que é (ou parece) bom, dura pra sempre.
Até agora, nenhuma foi perfeita. Tudo bem. Sopa nunca foi meu prato favorito mesmo.
O que eu preciso, de verdade, é de um amor. Um que seja como um prato de sopa bem feito, um que eu queira tomar, tomar até enjoar. E, quando o enjôo passar, pedir mais um pouco dessa “sopa mágica”, preparada não por duas, mas quatro mãos. Mãos que se afagam enquanto cozinham, que colocam temperos especiais, que não têm medo de experimentar e que sabem que não precisam se apressar. O importante é prolongar o prazer que sentem em estar juntas.
Que venha esse amor, pra que assim eu pare de escrever sobre essas comparações bobas. Amor e sopa, numa madrugada de dezembro, só pode mesmo ser coisa de quem ainda não se apaixonou perdidamente. Coisa de quem espera, ansiosa, por uma sopa arrebatadora.
segunda-feira, 22 de março de 2010
Crônica/01
Uma escritora a caminho
Hoje, eu dei uma espiada no céu e a vi a Lua. Mas vi tudo embaçado: uma nuvem a cobria. Dava para distinguir a claridade que o Sol reflete nela, mas não dava para vê-la direito.
É exatamente assim que anda minha vida ultimamente. Meus pensamentos estão embaçados. Vejo a luz, porém há sempre alguma nuvem tapando minhas perspectivas.
E tem dias em que não há luz nem luar. Nesses dias, volto cabisbaixa para casa. As coisas parecem não fazer sentido. Nesses dias, tenho medo do futuro que me bate à porta; tenho medo do que pode não acontecer na minha vida. (Fev/2006)
Eu estava separando os arquivos do meu computador e deparei com este. Foi impossível não comparar o que escrevi há quatro anos com meu momento atual. Tenho 26 anos, 02 cursos universitários não concluídos – um por falta de compatibilidade e o outro por falta de dinheiro mesmo. Além disso, estou desempregada. Porém, nesse momento estou me dedicando a algo que realmente amo, independente da situação na qual me encontro.
Comecei meu projeto literário, minha primeira tentativa de me tornar uma escritora profissional. O projeto completou uma semana de vida e ainda tem muito por vir. Mal contenho a ansiedade. Tenho uma porção de textos já prontos e estou organizando tudo, tento aproveitar o máximo.
Os gastos têm sido a parte difícil de tudo. Estou sem internet em casa e isso dificulta as postagens. Digito os textos no meu pc, mas preciso me deslocar e gastar um dinheiro que não poderia e deveria gastar para manter o blog vivo. Mas não é isso que vai me fazer desistir do projeto. Eu não quero desistir, eu não vou fazer isso.
Meu marido tem feito o que pode para me apoiar e suportar o fato d’eu ir todos os dias no cyber. Quando estou digitando meus textos, ele olha, olha e olha. Às vezes, puxa conversa. Logo depois, se arrepende e diz: “Desculpa, não vou falar mais nada. Estou te atrapalhando”.
Sei que pode não dar em nada. Sei que ao final de 09 meses talvez nada demais aconteça, mas... como posso ter certeza se não tentar?
A grande diferença entre o texto de 2006 e este é que, dessa vez, eu vejo a luz e também o luar.
Hoje, eu dei uma espiada no céu e a vi a Lua. Mas vi tudo embaçado: uma nuvem a cobria. Dava para distinguir a claridade que o Sol reflete nela, mas não dava para vê-la direito.
É exatamente assim que anda minha vida ultimamente. Meus pensamentos estão embaçados. Vejo a luz, porém há sempre alguma nuvem tapando minhas perspectivas.
E tem dias em que não há luz nem luar. Nesses dias, volto cabisbaixa para casa. As coisas parecem não fazer sentido. Nesses dias, tenho medo do futuro que me bate à porta; tenho medo do que pode não acontecer na minha vida. (Fev/2006)
Eu estava separando os arquivos do meu computador e deparei com este. Foi impossível não comparar o que escrevi há quatro anos com meu momento atual. Tenho 26 anos, 02 cursos universitários não concluídos – um por falta de compatibilidade e o outro por falta de dinheiro mesmo. Além disso, estou desempregada. Porém, nesse momento estou me dedicando a algo que realmente amo, independente da situação na qual me encontro.
Comecei meu projeto literário, minha primeira tentativa de me tornar uma escritora profissional. O projeto completou uma semana de vida e ainda tem muito por vir. Mal contenho a ansiedade. Tenho uma porção de textos já prontos e estou organizando tudo, tento aproveitar o máximo.
Os gastos têm sido a parte difícil de tudo. Estou sem internet em casa e isso dificulta as postagens. Digito os textos no meu pc, mas preciso me deslocar e gastar um dinheiro que não poderia e deveria gastar para manter o blog vivo. Mas não é isso que vai me fazer desistir do projeto. Eu não quero desistir, eu não vou fazer isso.
Meu marido tem feito o que pode para me apoiar e suportar o fato d’eu ir todos os dias no cyber. Quando estou digitando meus textos, ele olha, olha e olha. Às vezes, puxa conversa. Logo depois, se arrepende e diz: “Desculpa, não vou falar mais nada. Estou te atrapalhando”.
Sei que pode não dar em nada. Sei que ao final de 09 meses talvez nada demais aconteça, mas... como posso ter certeza se não tentar?
A grande diferença entre o texto de 2006 e este é que, dessa vez, eu vejo a luz e também o luar.
domingo, 21 de março de 2010
Poesia/07
Inspirado num post do blog do Gladson
Amarelo “estou aqui”
Amarelo “não sei o que”
Amarelo que sorri
Amarelo do purê
Amarelo é o teu amor
Que aliás, é teu e meu
Amarelo é a nossa cor
E também a do breu
E do céu.
sábado, 20 de março de 2010
Poesia/06
Recém saída do forno!
Outono
Eu acordo e me aprumo
É hora de tomar meu rumo
E seguir solta e leve
A brisa já não soa breve
As folhas dançam pelo chão
É tempo de me renovar
E de mudar de estação
Aqui, nada de Primavera,
De Inverno ou de Verão
É Outono no Rio
E dentro do meu coração.
In English:
Autumn
I wake up and start my day
It’s time to find my way
And go on soft and free
Now, I can feel the breeze
Leaves dance around the ground
It’s time for a new version
And for seeing a season moving out.
Here, there’s no Spring
No Winter or Summer – so hot!
It’s Autumn in Rio
And inside my heart.
sexta-feira, 19 de março de 2010
Poesia/05
Após a viagem de Janeiro!...
Curitiba
Curitiba
Teu verde e teu cinza
Me inspiram
Para o verde
Tiro o chapéu
E me assusta um pouco
O cinza do teu céu
Quantas facetas
Num só dia!
Uma hora esquenta
Noutra, esfria!
Em ti, me perdi
E também me encontrei
Por ti, eu garanto
Que me encantei
Ah, Curitiba
Eu devo dizer
Não se preocupe
Não vou te esquecer.
Curitiba
Curitiba
Teu verde e teu cinza
Me inspiram
Para o verde
Tiro o chapéu
E me assusta um pouco
O cinza do teu céu
Quantas facetas
Num só dia!
Uma hora esquenta
Noutra, esfria!
Em ti, me perdi
E também me encontrei
Por ti, eu garanto
Que me encantei
Ah, Curitiba
Eu devo dizer
Não se preocupe
Não vou te esquecer.
quinta-feira, 18 de março de 2010
Poesia/04
Lívia
Lívia
Venha ao meu encontro
Traga puro alívio
A quem te quer tanto
Ah, Lívia
Coisa insensata
Desejar-te assim
Lívida
Mas vívida
Em mim
Lívia
Tua languidez
Quimera ser só minha
Mesmo ainda em sonho
Te garanto
És minha rainha.
Lívia
Venha ao meu encontro
Traga puro alívio
A quem te quer tanto
Ah, Lívia
Coisa insensata
Desejar-te assim
Lívida
Mas vívida
Em mim
Lívia
Tua languidez
Quimera ser só minha
Mesmo ainda em sonho
Te garanto
És minha rainha.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Poesia/03
Dia a dia
Dia a dia
Arrebenta
A melancolia
Me atormenta
A monotonia
Dia a dia
Quero um dia
Suspirar
Como fazia
Dia a dia
É tão sadia
A minha vida vazia
Dia a dia
Ansiosa ou na alegria
Repentina
Dia a dia
Vou sem guia
Noite a noite
A insônia
É companhia
Dia a dia
Marejo
Agonia
E um dia
Epifania.
In english ;)
Day after day
Day after day
Melancholy stays
Monotony doesn’t go away
Day after day
I’d like to sigh again
But now everything is grey
Day after day
My life is so healthy, anyway
And so empty, I have to say
Day after day
I keep myself anxious
Or happy (through some mysterious way)
Day after day
I follow no guide
Night after night
Insomnia is on my mind
Day after day
I cry
Agony
And one day
Epiphany
Dia a dia
Arrebenta
A melancolia
Me atormenta
A monotonia
Dia a dia
Quero um dia
Suspirar
Como fazia
Dia a dia
É tão sadia
A minha vida vazia
Dia a dia
Ansiosa ou na alegria
Repentina
Dia a dia
Vou sem guia
Noite a noite
A insônia
É companhia
Dia a dia
Marejo
Agonia
E um dia
Epifania.
In english ;)
Day after day
Day after day
Melancholy stays
Monotony doesn’t go away
Day after day
I’d like to sigh again
But now everything is grey
Day after day
My life is so healthy, anyway
And so empty, I have to say
Day after day
I keep myself anxious
Or happy (through some mysterious way)
Day after day
I follow no guide
Night after night
Insomnia is on my mind
Day after day
I cry
Agony
And one day
Epiphany
terça-feira, 16 de março de 2010
Poesia/02
Se falta alguém pra amar.
Não adianta ter dinheiro e um lugar para morar
Não importa ter jardim, um quintal e um pomar
Não interessa ir à Londres se ninguém te acompanhar
Não se vive por inteiro se falta alguém pra amar.
Não adianta ter família se ninguém te tira o ar
Não importar ter mobília e boas roupas para usar
Não interessa a tua volta se ninguém vai te esperar
Não vale a pena viver tanto se falta alguém pra amar.
Não adianta fazer versos sem ter a quem dedicar
Não importa escrever contos e não ter a quem mostrar
Não interessa dançar bem se nunca se tem um par
Não há lucro completo sem repartir seu bem estar
Não se ri de coisas bobas se falta alguém pra amar.
I translated, but there's no rhymes...
If you don’t have somebody to love.
It doesn’t matter to have money and a place to live in
It doesn’t matter you have a garden, a backyard and a orchard
It doesn’t matter go to London if nobody goes with you
You don’t have a whole life if you don’t have somebody to love
It doesn’t matter to have a family if nobody takes your breath away
It doesn’t matter you have furniture and good clothes to wear
It doesn’t matter you come back if nobody is there for wait
It doesn’t matter you live so much if you don’t have somebody to love
It doesn’t matter to make poetry if you have nobody to dedicate
It doesn’t matter to write tales if you don’t have anybody to show them
It doesn’t matter to be a great dancer if you never have a partner to shake
There’s no complete gain if you don’t share your well-being
You don’t laugh of silly things if you don’t have somebody to love.
Não adianta ter dinheiro e um lugar para morar
Não importa ter jardim, um quintal e um pomar
Não interessa ir à Londres se ninguém te acompanhar
Não se vive por inteiro se falta alguém pra amar.
Não adianta ter família se ninguém te tira o ar
Não importar ter mobília e boas roupas para usar
Não interessa a tua volta se ninguém vai te esperar
Não vale a pena viver tanto se falta alguém pra amar.
Não adianta fazer versos sem ter a quem dedicar
Não importa escrever contos e não ter a quem mostrar
Não interessa dançar bem se nunca se tem um par
Não há lucro completo sem repartir seu bem estar
Não se ri de coisas bobas se falta alguém pra amar.
I translated, but there's no rhymes...
If you don’t have somebody to love.
It doesn’t matter to have money and a place to live in
It doesn’t matter you have a garden, a backyard and a orchard
It doesn’t matter go to London if nobody goes with you
You don’t have a whole life if you don’t have somebody to love
It doesn’t matter to have a family if nobody takes your breath away
It doesn’t matter you have furniture and good clothes to wear
It doesn’t matter you come back if nobody is there for wait
It doesn’t matter you live so much if you don’t have somebody to love
It doesn’t matter to make poetry if you have nobody to dedicate
It doesn’t matter to write tales if you don’t have anybody to show them
It doesn’t matter to be a great dancer if you never have a partner to shake
There’s no complete gain if you don’t share your well-being
You don’t laugh of silly things if you don’t have somebody to love.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Poesia/01
Tem um tipo de poesia que gosto bastante de escrever: aquela com versos heterométricos. E é com meus poemas de versos heterométricos que seguirei ao longo dos próximos dias. :)
There is a kind of poetry that I really like to write: that one with heterometrical verses. And it is with heterometrical verses poetry that I will follow on the next days. :) (I wrote this poetry in Portuguese first, so in English it will be hard to let it with heterometrical verses! Anyway, I will translate it).
Já chegou Carnaval
No país do futebol
Cerveja e bacanal
Andam juntos sol a sol
Minha decência no varal
Minha carne na folia
Por aqui é bem normal
Beber até raiar o dia
Então, vamos celebrar
E aproveitar a festa
Só depois que ela acaba
É que o ano começa.
Carnival has already come
On soccer country
Beer and free sex
Go together `sun after sun`
My honour is washing
My body is horning
Here is so normal
Drink until the morning comes
So, let`s celebrate
And enjoy this party
Just after it finishes
This year really starts.
There is a kind of poetry that I really like to write: that one with heterometrical verses. And it is with heterometrical verses poetry that I will follow on the next days. :) (I wrote this poetry in Portuguese first, so in English it will be hard to let it with heterometrical verses! Anyway, I will translate it).
Já chegou Carnaval
No país do futebol
Cerveja e bacanal
Andam juntos sol a sol
Minha decência no varal
Minha carne na folia
Por aqui é bem normal
Beber até raiar o dia
Então, vamos celebrar
E aproveitar a festa
Só depois que ela acaba
É que o ano começa.
Carnival has already come
On soccer country
Beer and free sex
Go together `sun after sun`
My honour is washing
My body is horning
Here is so normal
Drink until the morning comes
So, let`s celebrate
And enjoy this party
Just after it finishes
This year really starts.
domingo, 14 de março de 2010
Romance/01
Eu estou grávida. Grávida de mim mesma. E antes, eu não sabia se ia me parir ou me abortar. Era uma constante pensar em como me fazer nascer e como me criar e tudo mais, até que me veio uma ideia. Começou como um lampejo, numa noite qualquer de dezembro de um ano que foi bastante sinuoso. Eu já tinha a certeza da Literatura em mim, mas não tinha muita noção do que fazer com isso.
Entretanto hoje, exatamente no Dia Nacional da Poesia e também no meu aniversário de 26 anos, inicio meu projeto. O projeto da minha gravidez. Hoje eu a assumi e daqui a exatos nove meses, me deixarei nascer. Durante esse período, meu objetivo é produzir textos variados, adentrar de vez no mundo literário, cravar as garras no que eu amo.
Eu quero (e vou!) escrever o que já tenho costume e também o que nunca escrevi. Versos livres, sonetos, contos, crônicas... Quero escrever de tudo um pouco. Eu quero me parir de vez para o mundo das letras. Claro que tenho dúvidas. Não sei o que virá depois do projeto, se é que virá. Estou agora me perguntando: como se começa um romance? Eu não sei ao certo, confesso; sei apenas que estou iniciando um.
I’m pregnant. Pregnant from myself. And before, I didn’t know if I would give me birth or abort me. I was always thinking how could I let me born and take care of myself and everything else, so I had an idea. It started like a flash of light, on any December night of a winding year. I was sure about Literature inside of me, but I didn’t have notion of what to do with it.
Meanwhile today, exactly on Poetry National Day and on my 26 years birthday, I start my project. My pregnancy project. Today, I assumed it and from here nine months, I’ll let me born. During this period, my intention is to produce varied texts, to get involved on literary world, to put my nails on what I love. I want (and I will!) write what I use to write and what I never wrote too. Blank verses, sonnets, tales, chronicles… I want to write anything. I want to give myself birth once and for all for letters world. Sure I have my doubts. I don’t know what comes after my project – and if it comes. Now, I’m asking myself: how do I start a romance? I don’t know for certain, I just know I’m starting one.
Entretanto hoje, exatamente no Dia Nacional da Poesia e também no meu aniversário de 26 anos, inicio meu projeto. O projeto da minha gravidez. Hoje eu a assumi e daqui a exatos nove meses, me deixarei nascer. Durante esse período, meu objetivo é produzir textos variados, adentrar de vez no mundo literário, cravar as garras no que eu amo.
Eu quero (e vou!) escrever o que já tenho costume e também o que nunca escrevi. Versos livres, sonetos, contos, crônicas... Quero escrever de tudo um pouco. Eu quero me parir de vez para o mundo das letras. Claro que tenho dúvidas. Não sei o que virá depois do projeto, se é que virá. Estou agora me perguntando: como se começa um romance? Eu não sei ao certo, confesso; sei apenas que estou iniciando um.
I’m pregnant. Pregnant from myself. And before, I didn’t know if I would give me birth or abort me. I was always thinking how could I let me born and take care of myself and everything else, so I had an idea. It started like a flash of light, on any December night of a winding year. I was sure about Literature inside of me, but I didn’t have notion of what to do with it.
Meanwhile today, exactly on Poetry National Day and on my 26 years birthday, I start my project. My pregnancy project. Today, I assumed it and from here nine months, I’ll let me born. During this period, my intention is to produce varied texts, to get involved on literary world, to put my nails on what I love. I want (and I will!) write what I use to write and what I never wrote too. Blank verses, sonnets, tales, chronicles… I want to write anything. I want to give myself birth once and for all for letters world. Sure I have my doubts. I don’t know what comes after my project – and if it comes. Now, I’m asking myself: how do I start a romance? I don’t know for certain, I just know I’m starting one.
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