quinta-feira, 22 de julho de 2010

Conto/11

A menina escrevia. Escrevia o tempo todo, mesmo com o cansaço da mão. Os pais começaram a estranhar. O medo se instalou neles. Medo de que? Não saberiam explicar ao certo. Viam que escrever tomava conta da vida da filha, dia após dia. Ela escrevia enquanto comia, levava o bloco de anotações até quando ia ao banheiro. E mantinha este mesmo bloquinho ao pé da cama. Era nele onde relatava seus sonhos e pesadelos. E sempre havia o que anotar.
Os pais, preocupados com aqueles excessos de escrita, a levaram ao médico. Ele a examinou, achou que estava tudo certo. Diante da insistência dos pais, disse:
- Ok. Faremos um encefalograma.
A menina apenas suspirou e comentou:
- Que palavra grande...
Exame pronto, o médico chama os pais:
- Não sei como lhes dizer, mas...
- Diga, diga! - falaram os dois, aflitos.
- Há algo que não conseguimos identificar. Teremos que operar sua filha com urgência.
Desespero dos pais e a menina, desligada, continuava com o bloquinho em punho, escrevendo sem parar. Não gostava de todo aquele rebuliço, não se importava nada com aquilo.
A operação foi marcada para o mesmo dia. Na sala de espera, os minutos viraram horas. Até que apareceu o médico, com cara de espanto:
- Correu tudo bem, mas...
- Mas o que? - perguntaram os pais.
- Nunca vi nada igual.

E foi entre reticências que ele relatou que, ao abrir aquela cabecinha, tomou um susto quando, de dentro dela, saíram fadas, vampiros, reis, rainhas, vilões, cavalos alados, extraterrestres e mais uma infinidade de seres. Como a equipe não sabia o que fazer, ele ordenou que a cirurgia fosse encerrada. E com os pais, foi categórico:
- Não há o que fazer. Sua filha nasceu pra ser escritora.

2 comentários:

Wander Shirukaya disse...

Bastante infantil o seu conto (isso é um elogio, ok?)! Assemelha-se aos contos de fada mesmo, impressiona também pela velocidade nas palavras. Espero lê-lo um dia para meu filho(se eu tiver).


Grande abraço!!!

Tatyana França disse...

Wander,
obrigada pelo elogio! :)
Esse conto ia ser um microconto, mas acabou ficando maior (só um pouco) do que eu imaginava... rs.
Valeu pelo coment!

Abraço!