sábado, 10 de julho de 2010

Artigo/03

Mais um dos artigos que escrevi na época da faculdade :)

Este é sobre Ética Jornalística, assunto que me interessa bastante. O que eu não gostava muito era da matéria: Semiótica da Cultura e Jornalismo.

Ética e semiótica


Segundo o dicionário Luft, semiótica é a ciência que estuda os signos e sinais e os sistemas de sinais empregados em comunicação.

Daí, é possível tirar a conclusão de que semiótica e comunicação estão intimamente ligadas.

Mas e a ética? Onde se encaixa? Como é feita a união entre ética e semiótica?

Vamos por partes.
Três dos estudiosos da semiótica, Francisco José Castilhos Karam, Norval Baitello Junior e Ivan Bystrina, podem explicar isto (a união da ética com a semiótica).

Norval, a partir das idéias de Bystrina, desenvolveu a idéia de que a natureza humana está dividida e que nessa divisão existem três níveis de códigos que se intercomunicam.
• Primários: são as necessidades naturais e biológicas – a vontade de ir ao banheiro, a fome, a sede.
• Secundários: são as necessidades de interação social, a necessidade de comunicação e de formar linguagens para tal fim.
• Terciários: o universo comunicativo, a comunicação em si e o que se refere a ela – no caso, os produtos da comunicação. Jornais, por exemplo.

Sendo assim, os produtos da comunicação não são necessidades imediatas (primárias).
Sobre isso, Castilhos afirma que “de tal perspectiva, é que se pode situar a linguagem jornalística como texto pertencente a um código terciário de segunda realidade humana, criada pra si mesma”. Ou seja, depois de satisfazer as necessidades primárias, que são próprias da natureza humana, surgem as necessidades secundárias, que são tanto parte da natureza humana como do meio onde ela está inserida (parte naturais e parte artificiais). Então, por último, é que surgem as necessidades terciárias, criadas por nós mesmos. Necessidades artificiais, mas que nós mesmos fazemos com que se tornem importantes (não é a toa que chamamos de ‘necessidades’).
Pois bem: sabemos que a necessidade para os produtos da comunicação existe – em níveis diferenciados de indivíduo para indivíduo, mas existem.

Prosseguindo...
Baitello desenvolveu idéias acerca de um conceito chamado por Bystrina de segunda realidade. Baitello diz que “esse universo simbólico (a segunda realidade) constitui o conjunto de informações geradas e acumuladas pelos homens ao longo dos milênios, por meio de sua capacidade imaginativa, ou seja, de narrativizar aquilo que não está explicitamente encandeado”. Castilhos comentou, acerca das idéias de Baitello que nesse “universo simbólico”, “o texto passa a ser a unidade mínima de cultura”, ou seja, o texto é apenas uma das formas de expressão das informações que o homem produz/produziu até hoje.

Portanto, fora do texto, você pode usar elementos da semiótica (sistemas de sinais, por exemplo). Até através do texto mesmo dá para fazer isso. É possível inserir num produto da comunicação outros sinais e signos, que também têm a finalidade de comunicar. Basta estudar como seu texto será escrito. Você até pode ter a idéia do que vai escrever já pronta, mas ao escrever, o fato de escolher bem as palavras que usará, significa que você quer mais do que escrever um texto – você quer, além de escrever, inserir sinais que provoquem determinada (s) reação (ões) em quem vai ler seu texto. Ao escolher como escrever sobre o que quer que seja, você está fazendo certamente mais do que um texto, embora quem vá ler, nem sempre note sua forma proposital de escrever daquela forma, de inserir certos códigos ou idéias.

E agora, onde encaixamos a ética.

Ao escrever um texto sobre um assunto mais ‘delicado’, por assim dizer, temos a capacidade de fazer esse assunto parecer de maior ou menor importância e também de apresentá-lo às pessoas de forma mais chocante ou mais amena. Aí é que está a questão. Independente do que você produz e como faz isso, você não pode ignorar que acabará provocando as mais diversas reações nas pessoas. Então, aparece a ética, nos dizendo o que é possível produzir de forma que o conjunto de idéias vise um interesse público. Não que você vá tentar produzir um pensamento único, um consenso geral. Isso não existe. Mas você tem que avaliar o que está ou não dentro de algo que seria como uma ‘ética geral’, para o bem comum da sociedade. E, nessa avaliação de como produzir os produtos da comunicação, é usando signos e sinais que você unirá ética e semiótica.

Bibliografia: "A ética jornalística e o interesse público" - Francisco José Castilhos Karam.

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