quinta-feira, 24 de junho de 2010

Conto/10

O menino colorido

Quando ele nasceu, todos ficaram espantados: era colorido. Os médicos o examinaram, não havia nada fora do comum, exceto pela pele em tons de amarelo, vermelho, azul, verde e algumas outras cores.
A família queria saber como aquilo tinha acontecido. Os médicos não faziam a menor idéia. Era o primeiro caso do gênero. Pensaram em mutação genética e coisas assim, mas não chegaram a nenhuma conclusão. Pesquisaram e pesquisaram, e, enquanto faziam seus estudos, acharam melhor que o menino fosse levado para casa e tentasse levar uma vida normal. Não havia nada de errado na saúde dele, então também não havia necessidade de permanecer no hospital. “Voltem sempre para os exames de rotina”, disseram.
Mas os parentes logo viram que “levar uma vida normal” seria difícil. Já não bastava o espanto dentro da própria família, agora havia a surpresa dos vizinhos e amigos. Todos queriam vê-lo, tocá-lo, saber por que ele tinha a pele colorida. Repórteres foram chamados e logo o menino colorido virou notícia.
A princípio, a família aceitou paciente essa atenção toda das pessoas e da mídia. Pensavam que quanto mais gente soubesse da existência do garoto, maior seria a chance de aparecer alguém com uma solução, alguém que tivesse a capacidade de alterar aquele tom de pele esquisito.
Não foi o que aconteceu. Com o tempo, as pessoas, a mídia e até os médicos se esqueceram do menino colorido. Ele sempre era levado para os exames de rotina, mas os médicos diziam “A saúde dele está ótima”. Os pais queriam saber se a pele ia continuar daquele jeito, os médicos retrucavam: “Sim, não temos ainda a capacidade de mudar isso, mas o que é que tem? O que importa é que ele é saudável, certo?”. Os pais não pensavam assim. Queriam que o filho fosse como qualquer outra criança.
Assim, ele cresceu. Cresceu sentindo-se um estranho dentro da própria casa, sempre o preterido de todos. Os irmãos sempre lhe atormentavam, as crianças na escola tinham medo ou faziam gracinhas. Nunca participava das brincadeiras. Quando muito, ficava olhando de longe.
Era comum encontrar o menino colorido sozinho, olhando para o céu ou para o horizonte que ninguém sabia ao certo onde ia dar. Ninguém sabia o que ele pensava e ninguém fazia questão de perguntar. O menino se indagava sempre porque tinha nascido daquele jeito. O pior não era ser colorido, afinal. O pior era a forma como todos lhe tratavam. Ele se sentia excluído, mesmo com os pais. A mãe sempre a brigar, a lhe falar de forma rude, como se tudo que ele fizesse fosse errado, feio.
- Ai, esse menino. Passa o dia na janela, olhando sei la o que! E quando vê um bando de pássaros voando? Fica todo alegrinho, que bobagem. Menino maluco. Não basta ser colorido, também é maluco! Uma hora dessas, é bem capaz de sair voando com algum desses bandos que ele tanto olha.
O menino pensava: “Definitivamente, nasci na família errada” – e continuava a sonhar, o pensamento longe dali.
De tanto ser rejeitado, se tornou um garoto calado, quieto e triste. Só se sentia à vontade quando estava no jardim, observando as plantas e toda espécie de vida que ali existia ou quando olhava o vôo dos pássaros e imaginava que era um deles.
Foi num domingo. Era o dia em que a parentada costumava se reunir no quintal da casa onde morava o menino colorido. Era um lugar onde ele também gostava de ficar, exceto aos domingos, quando a parentada aparecia para almoçar. Esse era um dia particularmente bonito. Sol forte, céu azul, brisa leve. Todos estavam ao redor de uma enorme mesa de jacarandá, deixada no quintal para essas reuniões familiares. Menos o menino. Acostumado ao isolamento, ele estava dentro de casa, na janela. Estava estranhamente feliz, como se soubesse que algo bom iria acontecer.
E aconteceu.
Um bando de araras, pássaros comuns naquela região, passou alvoroçado, colorindo o azul do céu. Os olhos do menino brilharam. De repente, num impulso, ele se pôs em pé na beira da janela. E abriu devagar os braços, enquanto ficava na ponta dos dedos, como se fosse voar.
Quando a mãe viu, era tarde. “Menino, desce já daí! Agora!”, tentou ela. Mas ele não ouviu. E quando todos acreditavam que ele iria se estatelar, viram com grande espanto quando ele voou, se juntou ao bando de araras e sumiu no horizonte que aquela gente toda nunca saberia ao certo onde ia dar.

6 comentários:

Day Militão disse...

muito bom, parabéns.
to te seguindo *-*
beijos :*

Rayane France disse...

amo blogs com contos assim !
:D
parabéns . seguindo

Rayane France disse...

LINDO O POST .
SEGUINDO
beijos :-*

Unknown disse...

Eu,Alaércio Flor, ex-professor e atualmente sociólogo e jornalista,também blogueiro, estou seguindo seus escritos com muita alegria e prazer, no meu blog e no twitter,também...É uma honra ,hoje,aprender com uma menina moça mulher tão sábia ,tão inteligente cujos textos já se projetam mundialmente pela net e o espaço virtual.Estou feliz,Tatyana França.

Wander Shirukaya disse...

Olá, senhorita!
Saiba q fico muito feliz quando encontro, em meio a tanta coisa chata neste mundao de blogs, alguem que consegue fazer a diferença. Seu conto "O menino colorido demontra simplicidade e firmeza tanto de escrita quanto de narrativa. Reconheç que vc "tm a manha". Continue assim, anuncio q estou t seguindo e espero voltar mais vezes a este blog q me parece muito bom.

PS: só o Layout do blog ta meio a desejar, mas isso é bobagem perto da qualidade dos textos.
Grande abraço.

Unknown disse...

oii, amor tudo de bom no seu blog, eu gosto muito das coisas que você escreve e torço que tudo de certo e vc se inspire cada vez mais, para sair muitas coisas boas de sua mente e que conquiste muitas pessoas com suas histórias...
beijos de quem te ama e te acompanha em tudo que escreve.....