Sinto falta de mim
Em algum lugar
Do tempo e do caminho
Eu me larguei, eu me deixei
Aos pedaços ou inteira
Já não sei
Só sei
Que me perdi
Fui por ali
Talvez por lá
Sinto falta de mim
E eu bem sei
Que agora
Resta apenas
Me procurar.
Tatyana França, aspirante a escritora, decidiu fazer seu próprio projeto literário. Assim, nasceu o Nulla dies sine linea: 09 meses de textos nos mais variados estilos. O desafio foi cumprido: nenhum dia sem postar, de 14 de março a 14 de dezembro de 2010!
quarta-feira, 30 de junho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
Artigo/02
Artigo antigo... Da época em que eu estudava Jornalismo na FIC!...
Assim falou Zaratrusta... E nós? Falamos o que?
No século XIX, “distante de deus” depois de anos de estudo, Friedrich Nietzsche escreveu o que talvez seja sua obra mais conhecida, “Assim falou Zaratrusta”. E nós? O que temos a dizer sobre seus escritos? Passados mais de 100 anos, o que aconteceu com as idéias de Nietzsche? Dissertar sobre elas é tarefa difícil, já que ele não escreveu uma leitura simples. Porém, tentar é o princípio de tudo.
Nietzsche pretendia chegar à mente dos leitores não pela forma mais fácil, e sim pela mais “perversa”. Ele queria fazer com que o leitor enxergasse que, para superar a si mesmo, deveria livrar-se do domínio da sociedade, da família e das idéias religiosas. E para isso, nada melhor do que raciocinar! Tomar atitudes dignas de quem não se prende a padrões, de quem não se submete a conceitos impostos para o que quer que seja. Nietzsche acreditava que a humanidade só iria evoluir se todos parassem para pensar por si mesmos.
Palavras chave: “Super homem”, dever, criador.
Nietzsche estudou teologia por vários anos, até não querer mais “se curvar” a um criador que, para ele, funcionava como apoio à idéia de submissão. Então, desenvolveu uma espécie de “doutrina do super homem”, onde a crença é de que “a vontade de poder” eleva o homem a essa categoria (a de "super homem").
Entre os delírios humanos há o simples desejo de ter poder. Sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o mundo e até mesmo sobre o suposto criador.
O fato de “não dever” realizar certos atos faz com que o homem se sinta acuado e infeliz. Então, ele questiona se será castigado por Deus e até mesmo se este existe. Mas há verdades contra as quais o homem não pode lutar. Ele tem fraquezas insuperáveis e não adianta modernizar e globalizar o mundo e/ou sua vida para tentar vencê-las.
Um exemplo de fator contra o qual o homem não tem poder: a natureza. Existem fenômenos naturais contra os quais o ser humano só pode lidar de uma forma: buscando proteção.
Porém, quando fala de evolução, Nietzsche não propôs superar esse tipo de fraqueza. A questão era a de superar a si mesmo, crescer intelectualmente, parando de acreditar em tudo que era ensinado desde o nascimento e começando a pensar por si próprio.
As idéias desse filósofo não se perderam do século XIX até o momento atual. Ainda somos condicionados a crer no que ouvimos e a fazer o que nos mandam fazer.
Quanto à questão religiosa, esse pensador negava a existência de um deus. Mas não era ao “deus real” a quem o escritor se referia, e sim ao “deus criado por nós”, o deus que nos obriga a viver sob sua dominação e suas regras e que depois nos pune por causa de nossa desobediência. Essa “personalidade” de Deus, de acordo com Nietzsche foi inventada por nós mesmos; depois, não foi mais aceita e acabou sendo deixada de lado pela maioria. Sendo assim, Nietzsche propõe que nós criamos deus, depois não o agüentamos e o matamos – talvez por isso mesmo ele tenha dito uma de suas frases mais conhecidas: “Deus está morto”.
Agora, verdade seja dita: não há como negar a inteligência desse autor. A idéia de evolução que ele propôs é interessante, mas é uma pena que não seja aplicada. Hoje, concebe-se essa idéia de evolução como algo mais simples: individualidade, criatividade. Não se pode ensinar como ter isso, mas ensinar que você pode ter já é um bom começo para a “evolução” proposta por Friedrich Nietzsche.
Bibliografia: Assim falou Zaratrusta – Um livro para todos e para ninguém - Friedrich Nietzsche – 1883/1892.
Assim falou Zaratrusta... E nós? Falamos o que?
No século XIX, “distante de deus” depois de anos de estudo, Friedrich Nietzsche escreveu o que talvez seja sua obra mais conhecida, “Assim falou Zaratrusta”. E nós? O que temos a dizer sobre seus escritos? Passados mais de 100 anos, o que aconteceu com as idéias de Nietzsche? Dissertar sobre elas é tarefa difícil, já que ele não escreveu uma leitura simples. Porém, tentar é o princípio de tudo.
Nietzsche pretendia chegar à mente dos leitores não pela forma mais fácil, e sim pela mais “perversa”. Ele queria fazer com que o leitor enxergasse que, para superar a si mesmo, deveria livrar-se do domínio da sociedade, da família e das idéias religiosas. E para isso, nada melhor do que raciocinar! Tomar atitudes dignas de quem não se prende a padrões, de quem não se submete a conceitos impostos para o que quer que seja. Nietzsche acreditava que a humanidade só iria evoluir se todos parassem para pensar por si mesmos.
Palavras chave: “Super homem”, dever, criador.
Nietzsche estudou teologia por vários anos, até não querer mais “se curvar” a um criador que, para ele, funcionava como apoio à idéia de submissão. Então, desenvolveu uma espécie de “doutrina do super homem”, onde a crença é de que “a vontade de poder” eleva o homem a essa categoria (a de "super homem").
Entre os delírios humanos há o simples desejo de ter poder. Sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o mundo e até mesmo sobre o suposto criador.
O fato de “não dever” realizar certos atos faz com que o homem se sinta acuado e infeliz. Então, ele questiona se será castigado por Deus e até mesmo se este existe. Mas há verdades contra as quais o homem não pode lutar. Ele tem fraquezas insuperáveis e não adianta modernizar e globalizar o mundo e/ou sua vida para tentar vencê-las.
Um exemplo de fator contra o qual o homem não tem poder: a natureza. Existem fenômenos naturais contra os quais o ser humano só pode lidar de uma forma: buscando proteção.
Porém, quando fala de evolução, Nietzsche não propôs superar esse tipo de fraqueza. A questão era a de superar a si mesmo, crescer intelectualmente, parando de acreditar em tudo que era ensinado desde o nascimento e começando a pensar por si próprio.
As idéias desse filósofo não se perderam do século XIX até o momento atual. Ainda somos condicionados a crer no que ouvimos e a fazer o que nos mandam fazer.
Quanto à questão religiosa, esse pensador negava a existência de um deus. Mas não era ao “deus real” a quem o escritor se referia, e sim ao “deus criado por nós”, o deus que nos obriga a viver sob sua dominação e suas regras e que depois nos pune por causa de nossa desobediência. Essa “personalidade” de Deus, de acordo com Nietzsche foi inventada por nós mesmos; depois, não foi mais aceita e acabou sendo deixada de lado pela maioria. Sendo assim, Nietzsche propõe que nós criamos deus, depois não o agüentamos e o matamos – talvez por isso mesmo ele tenha dito uma de suas frases mais conhecidas: “Deus está morto”.
Agora, verdade seja dita: não há como negar a inteligência desse autor. A idéia de evolução que ele propôs é interessante, mas é uma pena que não seja aplicada. Hoje, concebe-se essa idéia de evolução como algo mais simples: individualidade, criatividade. Não se pode ensinar como ter isso, mas ensinar que você pode ter já é um bom começo para a “evolução” proposta por Friedrich Nietzsche.
Bibliografia: Assim falou Zaratrusta – Um livro para todos e para ninguém - Friedrich Nietzsche – 1883/1892.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Poesia/59
Poeta
Olha a barba por fazer
Olha o amor por encontrar
Olha a vida por viver
Olha o tempo a passar
O relógio não me sorri
Os dias só me dão sermão
E as minhas letras gritam, vivas,
Espalhadas pelo chão...
Olha a barba por fazer
Olha o amor por encontrar
Olha a vida por viver
Olha o tempo a passar
O relógio não me sorri
Os dias só me dão sermão
E as minhas letras gritam, vivas,
Espalhadas pelo chão...
domingo, 27 de junho de 2010
Poesia/58
Devagar
Eu vago
Divago ao caminhar
Canso de vagar
Descanso acolá
Num vago divagar
Eu repenso lentamente
Para a mente funcionar
Daí, descanso vagamente
Com meu corpo
Devagar.
Fonte da imagem: Lucia`s adverse blog - Pintura de Jean-François Millet.
sábado, 26 de junho de 2010
Poesia/57
Quando me dei conta
Vi você de malas prontas
"Adeus", lhe ouvi dizer
Eu fiz por onde merecer
E agora, madrugada solta
Minha prece é de gente louca
"Deus, dai-me um Lexotan"!
Vi você de malas prontas
"Adeus", lhe ouvi dizer
Eu fiz por onde merecer
E agora, madrugada solta
Minha prece é de gente louca
"Deus, dai-me um Lexotan"!
sexta-feira, 25 de junho de 2010
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Conto/10
O menino colorido
Quando ele nasceu, todos ficaram espantados: era colorido. Os médicos o examinaram, não havia nada fora do comum, exceto pela pele em tons de amarelo, vermelho, azul, verde e algumas outras cores.
A família queria saber como aquilo tinha acontecido. Os médicos não faziam a menor idéia. Era o primeiro caso do gênero. Pensaram em mutação genética e coisas assim, mas não chegaram a nenhuma conclusão. Pesquisaram e pesquisaram, e, enquanto faziam seus estudos, acharam melhor que o menino fosse levado para casa e tentasse levar uma vida normal. Não havia nada de errado na saúde dele, então também não havia necessidade de permanecer no hospital. “Voltem sempre para os exames de rotina”, disseram.
Mas os parentes logo viram que “levar uma vida normal” seria difícil. Já não bastava o espanto dentro da própria família, agora havia a surpresa dos vizinhos e amigos. Todos queriam vê-lo, tocá-lo, saber por que ele tinha a pele colorida. Repórteres foram chamados e logo o menino colorido virou notícia.
A princípio, a família aceitou paciente essa atenção toda das pessoas e da mídia. Pensavam que quanto mais gente soubesse da existência do garoto, maior seria a chance de aparecer alguém com uma solução, alguém que tivesse a capacidade de alterar aquele tom de pele esquisito.
Não foi o que aconteceu. Com o tempo, as pessoas, a mídia e até os médicos se esqueceram do menino colorido. Ele sempre era levado para os exames de rotina, mas os médicos diziam “A saúde dele está ótima”. Os pais queriam saber se a pele ia continuar daquele jeito, os médicos retrucavam: “Sim, não temos ainda a capacidade de mudar isso, mas o que é que tem? O que importa é que ele é saudável, certo?”. Os pais não pensavam assim. Queriam que o filho fosse como qualquer outra criança.
Assim, ele cresceu. Cresceu sentindo-se um estranho dentro da própria casa, sempre o preterido de todos. Os irmãos sempre lhe atormentavam, as crianças na escola tinham medo ou faziam gracinhas. Nunca participava das brincadeiras. Quando muito, ficava olhando de longe.
Era comum encontrar o menino colorido sozinho, olhando para o céu ou para o horizonte que ninguém sabia ao certo onde ia dar. Ninguém sabia o que ele pensava e ninguém fazia questão de perguntar. O menino se indagava sempre porque tinha nascido daquele jeito. O pior não era ser colorido, afinal. O pior era a forma como todos lhe tratavam. Ele se sentia excluído, mesmo com os pais. A mãe sempre a brigar, a lhe falar de forma rude, como se tudo que ele fizesse fosse errado, feio.
- Ai, esse menino. Passa o dia na janela, olhando sei la o que! E quando vê um bando de pássaros voando? Fica todo alegrinho, que bobagem. Menino maluco. Não basta ser colorido, também é maluco! Uma hora dessas, é bem capaz de sair voando com algum desses bandos que ele tanto olha.
O menino pensava: “Definitivamente, nasci na família errada” – e continuava a sonhar, o pensamento longe dali.
De tanto ser rejeitado, se tornou um garoto calado, quieto e triste. Só se sentia à vontade quando estava no jardim, observando as plantas e toda espécie de vida que ali existia ou quando olhava o vôo dos pássaros e imaginava que era um deles.
Foi num domingo. Era o dia em que a parentada costumava se reunir no quintal da casa onde morava o menino colorido. Era um lugar onde ele também gostava de ficar, exceto aos domingos, quando a parentada aparecia para almoçar. Esse era um dia particularmente bonito. Sol forte, céu azul, brisa leve. Todos estavam ao redor de uma enorme mesa de jacarandá, deixada no quintal para essas reuniões familiares. Menos o menino. Acostumado ao isolamento, ele estava dentro de casa, na janela. Estava estranhamente feliz, como se soubesse que algo bom iria acontecer.
E aconteceu.
Um bando de araras, pássaros comuns naquela região, passou alvoroçado, colorindo o azul do céu. Os olhos do menino brilharam. De repente, num impulso, ele se pôs em pé na beira da janela. E abriu devagar os braços, enquanto ficava na ponta dos dedos, como se fosse voar.
Quando a mãe viu, era tarde. “Menino, desce já daí! Agora!”, tentou ela. Mas ele não ouviu. E quando todos acreditavam que ele iria se estatelar, viram com grande espanto quando ele voou, se juntou ao bando de araras e sumiu no horizonte que aquela gente toda nunca saberia ao certo onde ia dar.
Quando ele nasceu, todos ficaram espantados: era colorido. Os médicos o examinaram, não havia nada fora do comum, exceto pela pele em tons de amarelo, vermelho, azul, verde e algumas outras cores.
A família queria saber como aquilo tinha acontecido. Os médicos não faziam a menor idéia. Era o primeiro caso do gênero. Pensaram em mutação genética e coisas assim, mas não chegaram a nenhuma conclusão. Pesquisaram e pesquisaram, e, enquanto faziam seus estudos, acharam melhor que o menino fosse levado para casa e tentasse levar uma vida normal. Não havia nada de errado na saúde dele, então também não havia necessidade de permanecer no hospital. “Voltem sempre para os exames de rotina”, disseram.
Mas os parentes logo viram que “levar uma vida normal” seria difícil. Já não bastava o espanto dentro da própria família, agora havia a surpresa dos vizinhos e amigos. Todos queriam vê-lo, tocá-lo, saber por que ele tinha a pele colorida. Repórteres foram chamados e logo o menino colorido virou notícia.
A princípio, a família aceitou paciente essa atenção toda das pessoas e da mídia. Pensavam que quanto mais gente soubesse da existência do garoto, maior seria a chance de aparecer alguém com uma solução, alguém que tivesse a capacidade de alterar aquele tom de pele esquisito.
Não foi o que aconteceu. Com o tempo, as pessoas, a mídia e até os médicos se esqueceram do menino colorido. Ele sempre era levado para os exames de rotina, mas os médicos diziam “A saúde dele está ótima”. Os pais queriam saber se a pele ia continuar daquele jeito, os médicos retrucavam: “Sim, não temos ainda a capacidade de mudar isso, mas o que é que tem? O que importa é que ele é saudável, certo?”. Os pais não pensavam assim. Queriam que o filho fosse como qualquer outra criança.
Assim, ele cresceu. Cresceu sentindo-se um estranho dentro da própria casa, sempre o preterido de todos. Os irmãos sempre lhe atormentavam, as crianças na escola tinham medo ou faziam gracinhas. Nunca participava das brincadeiras. Quando muito, ficava olhando de longe.
Era comum encontrar o menino colorido sozinho, olhando para o céu ou para o horizonte que ninguém sabia ao certo onde ia dar. Ninguém sabia o que ele pensava e ninguém fazia questão de perguntar. O menino se indagava sempre porque tinha nascido daquele jeito. O pior não era ser colorido, afinal. O pior era a forma como todos lhe tratavam. Ele se sentia excluído, mesmo com os pais. A mãe sempre a brigar, a lhe falar de forma rude, como se tudo que ele fizesse fosse errado, feio.
- Ai, esse menino. Passa o dia na janela, olhando sei la o que! E quando vê um bando de pássaros voando? Fica todo alegrinho, que bobagem. Menino maluco. Não basta ser colorido, também é maluco! Uma hora dessas, é bem capaz de sair voando com algum desses bandos que ele tanto olha.
O menino pensava: “Definitivamente, nasci na família errada” – e continuava a sonhar, o pensamento longe dali.
De tanto ser rejeitado, se tornou um garoto calado, quieto e triste. Só se sentia à vontade quando estava no jardim, observando as plantas e toda espécie de vida que ali existia ou quando olhava o vôo dos pássaros e imaginava que era um deles.
Foi num domingo. Era o dia em que a parentada costumava se reunir no quintal da casa onde morava o menino colorido. Era um lugar onde ele também gostava de ficar, exceto aos domingos, quando a parentada aparecia para almoçar. Esse era um dia particularmente bonito. Sol forte, céu azul, brisa leve. Todos estavam ao redor de uma enorme mesa de jacarandá, deixada no quintal para essas reuniões familiares. Menos o menino. Acostumado ao isolamento, ele estava dentro de casa, na janela. Estava estranhamente feliz, como se soubesse que algo bom iria acontecer.
E aconteceu.
Um bando de araras, pássaros comuns naquela região, passou alvoroçado, colorindo o azul do céu. Os olhos do menino brilharam. De repente, num impulso, ele se pôs em pé na beira da janela. E abriu devagar os braços, enquanto ficava na ponta dos dedos, como se fosse voar.
Quando a mãe viu, era tarde. “Menino, desce já daí! Agora!”, tentou ela. Mas ele não ouviu. E quando todos acreditavam que ele iria se estatelar, viram com grande espanto quando ele voou, se juntou ao bando de araras e sumiu no horizonte que aquela gente toda nunca saberia ao certo onde ia dar.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
Versos livres/05
Tem dias em que me visto com crase (que classe!)
Em outros, uso eufemismos, plumas e paetês
Metáforas me caem bem nas coxas
Enquanto eu calço sapatos monossilábicos
Uma hora, sou grande
Noutra, miúda
Me preparo
Para sair de ti
Louca e colorida
Me propago
por sinais, pela voz
ou pela escrita
Prazer,
Meu nome é palavra.
Em outros, uso eufemismos, plumas e paetês
Metáforas me caem bem nas coxas
Enquanto eu calço sapatos monossilábicos
Uma hora, sou grande
Noutra, miúda
Me preparo
Para sair de ti
Louca e colorida
Me propago
por sinais, pela voz
ou pela escrita
Prazer,
Meu nome é palavra.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Crônica/15
Os invisíveis
Estão em toda parte. São homens, mulheres, idosos e crianças. Alguns não têm os braços, outros não têm as pernas, mas o que todos não têm mesmo é dinheiro.
Conseguiram a proeza que alquimista nenhum jamais realizou: são invisíveis. A verdade é que os enxergamos, mas fingimos não vê-los. Porém, eles teimam em ser vistos, afinal, precisam sobreviver. "Tio, me dá uma esmolinha?" ou "Ei, moço, me dá dez centavos pra comprar o leite do meu filho?". E por aí vai.
Nós olhamos de rabo de olho, pois eles nos incomodam. É duro encarar a miséria. Passamos e pensamos: "Deixa, eu tenho que cuidar de outros, de mim... Vai aparecer quem cuide dele, coitadinho! E aquela senhora... Aposto que também vão arranjar um abrigo para ela". Temos dó, mas não ajudamos.
Aliás, do jeito que as coisas estão, já nem sabemos quem merece ser ajudado ou não. Ninguém quer ser passado para trás, não é mesmo?
Penso que todo mundo merece ajuda. O porém é que todo mundo fica danado quando ajuda alguém e depois descobre que foi enganado. "Porra, dei meu dinheiro para aquele malandro beber cachaça!". Lógico que, cego de raiva, a gente não lembra que pode ter enganado alguém, por um motivo qualquer que fosse, pelo menos uma vez na vida. Que atire a primeira pedra quem nunca mentiu para levar vantagem ou encobrir alguma coisa.
Enquanto isso, os invisíveis se proliferam. Estão nos pontos mais movimentados da cidade, pois é lá que o dinheiro circula. Depois, voltam para os casebres de papelão e plástico. Ou dormem no lugar que lhes é tão familiar: a rua.
Eles não têm, não sabem, não podem. O que vem depois dos verbos é tanta coisa que até pensamos que nossa vida de fazer contas não é tão má assim.
Estão em toda parte. São homens, mulheres, idosos e crianças. Alguns não têm os braços, outros não têm as pernas, mas o que todos não têm mesmo é dinheiro.
Conseguiram a proeza que alquimista nenhum jamais realizou: são invisíveis. A verdade é que os enxergamos, mas fingimos não vê-los. Porém, eles teimam em ser vistos, afinal, precisam sobreviver. "Tio, me dá uma esmolinha?" ou "Ei, moço, me dá dez centavos pra comprar o leite do meu filho?". E por aí vai.
Nós olhamos de rabo de olho, pois eles nos incomodam. É duro encarar a miséria. Passamos e pensamos: "Deixa, eu tenho que cuidar de outros, de mim... Vai aparecer quem cuide dele, coitadinho! E aquela senhora... Aposto que também vão arranjar um abrigo para ela". Temos dó, mas não ajudamos.
Aliás, do jeito que as coisas estão, já nem sabemos quem merece ser ajudado ou não. Ninguém quer ser passado para trás, não é mesmo?
Penso que todo mundo merece ajuda. O porém é que todo mundo fica danado quando ajuda alguém e depois descobre que foi enganado. "Porra, dei meu dinheiro para aquele malandro beber cachaça!". Lógico que, cego de raiva, a gente não lembra que pode ter enganado alguém, por um motivo qualquer que fosse, pelo menos uma vez na vida. Que atire a primeira pedra quem nunca mentiu para levar vantagem ou encobrir alguma coisa.
Enquanto isso, os invisíveis se proliferam. Estão nos pontos mais movimentados da cidade, pois é lá que o dinheiro circula. Depois, voltam para os casebres de papelão e plástico. Ou dormem no lugar que lhes é tão familiar: a rua.
Eles não têm, não sabem, não podem. O que vem depois dos verbos é tanta coisa que até pensamos que nossa vida de fazer contas não é tão má assim.
domingo, 20 de junho de 2010
Crônica/14
Ins'Ô'nia
Não é de hoje que a insônia me ataca. Ela está comigo desde os primeiros meses de vida, pelo que minha mãe me contou. Segundo relatos, ela ia me espiar, altas horas da noite, e lá estava eu, olhinhos arregalados na escuridão, sem chorar ou fazer barulho algum.
Ela se preocupou, marcou consulta com uma pediatra.
A doutora receitou café (vai entender...). A insônia diminuiu, por imposição da vida, eu acho. Mas agora, ela voltou. Veio de mansinho, sorriu tímida. Depois, soltou a franga, montou de vez em mim. E agora não há sequer uma noite que não me atormente.
Procuro pensar nas contas, nos pobres e famintos, em coisas pendentes; penso até em contar carneirinhos!
É incrível. Basta ficar insone para começar a me torturar. A tentativa de pensar
em coisas ruins para atrair o sono - que me livraria do martírio de tais pensamentos - é vã.
Passeio pela casa, tomo cinco copos d'água, leio, escrevo, leio o que escrevi, releio, a tv já não suporta ser zapeada, o colchão já não agüenta minha inquietude.
Por fim, caminho até a porta ou a janela, mãos cruzadas para trás, observo a rua, o tempo, o pedaço de mundo que está à minha frente. Ganho aquele ar compenetrado, meio melancólico, de quem parece estar à espera de algo ou de alguém.
Acendo um incenso e me deito. Isso geralmente funciona. O ar de espera ainda faz parte da minha expressão. A verdade é que espero mesmo. Espero algo que me leve para momentos mais grandiosos de paz - espero o danado do sono, que chega atrasado todas as noites.
Detalhe: atentem para o bonequinho formado por mim na palavra "Ins'Ô'nia"; ele é igual a criadora: boceja, mas não dorme. (apesar desse texto ser antigo, eu ainda tenho minhas crises de insônia).
Não é de hoje que a insônia me ataca. Ela está comigo desde os primeiros meses de vida, pelo que minha mãe me contou. Segundo relatos, ela ia me espiar, altas horas da noite, e lá estava eu, olhinhos arregalados na escuridão, sem chorar ou fazer barulho algum.
Ela se preocupou, marcou consulta com uma pediatra.
A doutora receitou café (vai entender...). A insônia diminuiu, por imposição da vida, eu acho. Mas agora, ela voltou. Veio de mansinho, sorriu tímida. Depois, soltou a franga, montou de vez em mim. E agora não há sequer uma noite que não me atormente.
Procuro pensar nas contas, nos pobres e famintos, em coisas pendentes; penso até em contar carneirinhos!
É incrível. Basta ficar insone para começar a me torturar. A tentativa de pensar
em coisas ruins para atrair o sono - que me livraria do martírio de tais pensamentos - é vã.
Passeio pela casa, tomo cinco copos d'água, leio, escrevo, leio o que escrevi, releio, a tv já não suporta ser zapeada, o colchão já não agüenta minha inquietude.
Por fim, caminho até a porta ou a janela, mãos cruzadas para trás, observo a rua, o tempo, o pedaço de mundo que está à minha frente. Ganho aquele ar compenetrado, meio melancólico, de quem parece estar à espera de algo ou de alguém.
Acendo um incenso e me deito. Isso geralmente funciona. O ar de espera ainda faz parte da minha expressão. A verdade é que espero mesmo. Espero algo que me leve para momentos mais grandiosos de paz - espero o danado do sono, que chega atrasado todas as noites.
Detalhe: atentem para o bonequinho formado por mim na palavra "Ins'Ô'nia"; ele é igual a criadora: boceja, mas não dorme. (apesar desse texto ser antigo, eu ainda tenho minhas crises de insônia).
sábado, 19 de junho de 2010
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Poesia/55
Dádiva
Ri minha diva
Questionada, ela se esquiva
É mistério se ela vai
É mistério se ela fica
Divina, luz da vida minha
Me guie até seu coração
Traduzo em versos meu amor
E explodo de paixão
Ruborizada, se intimida
Não esperava esse cortejo
Até essa timidez é linda
Por isso eu canto meu desejo!
Ri minha diva
Questionada, ela se esquiva
É mistério se ela vai
É mistério se ela fica
Divina, luz da vida minha
Me guie até seu coração
Traduzo em versos meu amor
E explodo de paixão
Ruborizada, se intimida
Não esperava esse cortejo
Até essa timidez é linda
Por isso eu canto meu desejo!
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Poesia/54
Fingimento
Eu tento esconder a dor
Já é quase minha especialidade
Eu tento não mudar de cor
E assim perco a sinceridade.
Eu tento esconder a dor
Já é quase minha especialidade
Eu tento não mudar de cor
E assim perco a sinceridade.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
terça-feira, 15 de junho de 2010
Poesia/52
Hoje eu acordei
Me sentindo meio burra
Mas volta e meia isso acontece
Até comigo eu vivo às turras!
Me sentindo meio burra
Mas volta e meia isso acontece
Até comigo eu vivo às turras!
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Poesias em outras línguas/06
Running through the night
Running through the time
I keep my mind
Thinking about you
Running through the day
Running through some way
I keep my mind
Wishing to have you
Running through the stars
Running above scars
I keep my mind
Trying to forget you.
Tradução!
Correndo através da noite
Correndo através do tempo
Eu mantenho minha mente
Pensando em você
Correndo através do dia
Correndo através de algum caminho
Eu mantenho minha mente
Querendo ter você
Correndo através das estrelas
Correndo sobre cicatrizes
Eu mantenho minha mente
Tentando te esquecer.
Running through the time
I keep my mind
Thinking about you
Running through the day
Running through some way
I keep my mind
Wishing to have you
Running through the stars
Running above scars
I keep my mind
Trying to forget you.
Tradução!
Correndo através da noite
Correndo através do tempo
Eu mantenho minha mente
Pensando em você
Correndo através do dia
Correndo através de algum caminho
Eu mantenho minha mente
Querendo ter você
Correndo através das estrelas
Correndo sobre cicatrizes
Eu mantenho minha mente
Tentando te esquecer.
domingo, 13 de junho de 2010
Poesias em outras línguas/05
Poetry in other language/05.
When we dance
It’s like
We are butterflies
Flying and kissing
All the flowers
In the way.
[Tradução:
Quando dançamos
É como
Se fôssemos borboletas
Voando e beijando
Todas as flores
No caminho].
When we dance
It’s like
We are butterflies
Flying and kissing
All the flowers
In the way.
[Tradução:
Quando dançamos
É como
Se fôssemos borboletas
Voando e beijando
Todas as flores
No caminho].
sábado, 12 de junho de 2010
Poesia/51
Vem
Se agarre em mim
E não negue seu desejo
Vem
Descansa enfim
Sinta o calor dos meus beijos
Deixe eu corar suas faces
Preencher seus requisitos
Atender as suas preces
Deslizar nos seus sentidos
Vem
Num vestido carmim
E se apresse em me abraçar
Vem
Num sussurro diga sim
Pois meu corpo é seu lugar.
Se agarre em mim
E não negue seu desejo
Vem
Descansa enfim
Sinta o calor dos meus beijos
Deixe eu corar suas faces
Preencher seus requisitos
Atender as suas preces
Deslizar nos seus sentidos
Vem
Num vestido carmim
E se apresse em me abraçar
Vem
Num sussurro diga sim
Pois meu corpo é seu lugar.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Poesia/50
Eu sou rebelde
Porque nasci assim
Eu sou rebelde
Serei até o fim
Porém, não tenho causa
Tampouco tenho motim
E se eu disser que encontrei paz
Depois volto atrás
Pois em mim não jaz
O desejo de discordar
E manter sempre um estopim
Até fingir não ser eu
Só pra não te dizer sim!
Porque nasci assim
Eu sou rebelde
Serei até o fim
Porém, não tenho causa
Tampouco tenho motim
E se eu disser que encontrei paz
Depois volto atrás
Pois em mim não jaz
O desejo de discordar
E manter sempre um estopim
Até fingir não ser eu
Só pra não te dizer sim!
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Poesia/49
Choveu quando eu decidi
Sair da cidade
Choveu, doeu
Já deu saudade.
Caiu água do céu
E também dos olhos meus
A cidade chorou por mim
Quando me disse "adeus"
Cidade Maravilhosa
O teu pranto me deu
Mais uma razão para voltar
E te abraçar outra vez.
Sair da cidade
Choveu, doeu
Já deu saudade.
Caiu água do céu
E também dos olhos meus
A cidade chorou por mim
Quando me disse "adeus"
Cidade Maravilhosa
O teu pranto me deu
Mais uma razão para voltar
E te abraçar outra vez.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Poesia/48
Eu queria um relógio quebrado
Para o tempo não passar ao seu lado.
Eu queria um relógio quebrado
Para o tempo parecer assim parado.
Também poderia ter ponteiros ao contrário
Para inverter a passagem das horas.
Mas quebrado?!
A perfeição!
Seria sempre agora, agora, agora...
Para o tempo não passar ao seu lado.
Eu queria um relógio quebrado
Para o tempo parecer assim parado.
Também poderia ter ponteiros ao contrário
Para inverter a passagem das horas.
Mas quebrado?!
A perfeição!
Seria sempre agora, agora, agora...
terça-feira, 8 de junho de 2010
Poesia/47
Passo pela vida e ela me diz segura:
“Por que teu silêncio perdura se a verdade é que me amas?”
Diante da falsa indiferença, a corajosa clama!
“Quero que me leve para a cama e que acabe esse desejo contido.
Quero depois um abrigo, dentro dos teus braços trêmulos.
Carne fervendo e beijos extremos poderão curar teu coração partido”.
Sorrio, passiva, enquanto ela grita:
“Me acompanha que serei tua!”
E nesse brado, não resisto
E assim dormimos, sonhando igual, abraçadas e nuas!
“Por que teu silêncio perdura se a verdade é que me amas?”
Diante da falsa indiferença, a corajosa clama!
“Quero que me leve para a cama e que acabe esse desejo contido.
Quero depois um abrigo, dentro dos teus braços trêmulos.
Carne fervendo e beijos extremos poderão curar teu coração partido”.
Sorrio, passiva, enquanto ela grita:
“Me acompanha que serei tua!”
E nesse brado, não resisto
E assim dormimos, sonhando igual, abraçadas e nuas!
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Poesia/46
Antecipando poesias para a Primavera :)
Lá vem ela
Na passarela das estações
Enquanto alguns preferem invernos, outonos ou verões
Eu a espero, a cada ano
Eu a quero, eu a amo
Minha bela Primavera!
Lá vem ela
Coberta de jasmins
Vem cheia de cores e pousa no meu jardim
E o seu cheiro tão vivo me faz dançar
É um alívio vê-la chegar
Minha bela Primavera!
Fonte da imagem: Blog Sonho adiado
domingo, 6 de junho de 2010
Poesia/45
Eu, pecinha tua
Nesse jogo de quebrar cabeça
Peço agora que me esqueça,
Peço que me deixe em paz.
Cansei de ser seu passatempo
E de brincar de perder tempo
Cansei de tantas rodadas
De ser apenas palavra cruzada.
Nesse jogo de quebrar cabeça
Peço agora que me esqueça,
Peço que me deixe em paz.
Cansei de ser seu passatempo
E de brincar de perder tempo
Cansei de tantas rodadas
De ser apenas palavra cruzada.
sábado, 5 de junho de 2010
Poesia/44
Desejo ver a dor de amor passar bem longe
Para isso, ficará em segredo
O lugar onde meu coração se esconde
Correr o risco por que?
Podem dizer que isso é não viver
Mas o meu coração sofre
Do mesmo jeito
É duro e feio se esconder do amor
Mas que se há de fazer se sou covarde assim?
De uma forma ou de outra
Tenho dó de mim!...
Para isso, ficará em segredo
O lugar onde meu coração se esconde
Correr o risco por que?
Podem dizer que isso é não viver
Mas o meu coração sofre
Do mesmo jeito
É duro e feio se esconder do amor
Mas que se há de fazer se sou covarde assim?
De uma forma ou de outra
Tenho dó de mim!...
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Poesia/43
Sai
E fecha a porta devagar
E eu aqui, a divagar
Vou me encontrar com a alegria
Vai
Me aponta enfim o céu
Disfarça o choro usando um véu
E voa longe, melancolia
Paz
Agora há paz no meu coração
Teu cheiro já saiu do meu colchão
E o teu olhar já não me engana mais.
Adeus.
E fecha a porta devagar
E eu aqui, a divagar
Vou me encontrar com a alegria
Vai
Me aponta enfim o céu
Disfarça o choro usando um véu
E voa longe, melancolia
Paz
Agora há paz no meu coração
Teu cheiro já saiu do meu colchão
E o teu olhar já não me engana mais.
Adeus.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Crônica/13
Envelhecer
Estou cansada. Já não sou mais a mesma. Meu corpo dói. Meus olhos estão fatigados também. Isso me lembra que preciso usar óculos. E preciso urgentemente. As letras parecem cada vez mais turvas. Há anos eu evito os oftalmologistas, porque sei o que eles irão me dizer: você precisa usar óculos. Aliás, quer saber de uma coisa? Eu não vou usar óculos. Vou usar lentes de contato. Óculos? Só se forem escuros.
Convém anotar que preciso marcar consulta com um oftalmologista. Minha memória anda falhando. Se eu não anoto uma coisa na hora em que passa pela mente, puf! Já era! A coisa passa e corre o risco de não voltar ou de voltar muito tempo depois. Será que isso é um princípio daquela doença, como é que é o nome mesmo? ... ... Alzheimer! Isso. Será que pode ser Alzheimer? Mais uma nota: checar outro médico para saber se estou com Alzheimer.
Sinto um mal estar no corpo. Principalmente nas pernas, nas costas, nos braços, nos ombros e nos pés. Esqueci algum lugar? Bem, foi um dia agitado, eu andei para lá e para cá e fiquei dolorida. Peço uma massagem ao meu marido e ele me diz:
- Espere um pouco. Vou pegar aquela pomada para dores. Tem um cheiro estranho, mas vai te deixar nova em folha!
Ah, que bons tempos eram aqueles quando eu pedia uma massagem e ele falava:
- Espere um pouco. Vou pegar aquele óleo aromatizante. Que tal pôr uma música?
Enquanto me lembro de nossos bons tempos, dou uma olhada no espelho, para checar os cabelos brancos. A cada dia eles aumentam. Eu me recusei por muito tempo a usar tintura para cabelos, mas vejo que agora não posso mais escapar desse ritual se quiser esconder todos os fios esbranquiçados.
E ainda tem as rugas! Hum, as rugas. Eu as odeio com todas as minhas forças. Até evito me olhar no espelho por causa delas. Foi-se o tempo em que eu não tinha vaidade e dizia que creme para evitar o envelhecimento era uma bobagem. Como nós mudamos depois de certa idade!
Então, envelhecer é isso: sentir cansaço, preocupar-se com rugas e cabelos brancos, anotar coisas por medo de esquecê-las, consultar vários médicos. Eu imaginava uma outra forma de envelhecer. Quem sabe o que eu fiz de errado para terminar assim. Aliás, será que fiz mesmo algo errado ou estamos todos fadados a passar por isso? Para ficar de bem comigo mesma, prefiro pensar na segunda opção.
Depois da massagem com a pomada de cheiro estranho, eu irei dormir. Foi um longo dia e preciso me preparar para mais uma jornada de trabalho. Reclamo das dores e de outros detalhes, mas que bom que estou trabalhando. Já são quase 22h e preciso descansar. As coisas poderiam ser piores, não é verdade? Quer dizer, eu me sinto cansada, desgastada, mas é isso mesmo que acontece com todo mundo. Portanto, estou apenas seguindo o curso da vida.
Amanhã é um novo dia. Acordarei “novinha em folha” por causa da pomada de cheiro esquisito. E não pensarei mais em cabelos brancos, rugas e no cansaço que o dia de trabalho me dá. Amanhã, voltarei a me sentir jovem. Jovem como qualquer pessoa de 26 anos.
Estou cansada. Já não sou mais a mesma. Meu corpo dói. Meus olhos estão fatigados também. Isso me lembra que preciso usar óculos. E preciso urgentemente. As letras parecem cada vez mais turvas. Há anos eu evito os oftalmologistas, porque sei o que eles irão me dizer: você precisa usar óculos. Aliás, quer saber de uma coisa? Eu não vou usar óculos. Vou usar lentes de contato. Óculos? Só se forem escuros.
Convém anotar que preciso marcar consulta com um oftalmologista. Minha memória anda falhando. Se eu não anoto uma coisa na hora em que passa pela mente, puf! Já era! A coisa passa e corre o risco de não voltar ou de voltar muito tempo depois. Será que isso é um princípio daquela doença, como é que é o nome mesmo? ... ... Alzheimer! Isso. Será que pode ser Alzheimer? Mais uma nota: checar outro médico para saber se estou com Alzheimer.
Sinto um mal estar no corpo. Principalmente nas pernas, nas costas, nos braços, nos ombros e nos pés. Esqueci algum lugar? Bem, foi um dia agitado, eu andei para lá e para cá e fiquei dolorida. Peço uma massagem ao meu marido e ele me diz:
- Espere um pouco. Vou pegar aquela pomada para dores. Tem um cheiro estranho, mas vai te deixar nova em folha!
Ah, que bons tempos eram aqueles quando eu pedia uma massagem e ele falava:
- Espere um pouco. Vou pegar aquele óleo aromatizante. Que tal pôr uma música?
Enquanto me lembro de nossos bons tempos, dou uma olhada no espelho, para checar os cabelos brancos. A cada dia eles aumentam. Eu me recusei por muito tempo a usar tintura para cabelos, mas vejo que agora não posso mais escapar desse ritual se quiser esconder todos os fios esbranquiçados.
E ainda tem as rugas! Hum, as rugas. Eu as odeio com todas as minhas forças. Até evito me olhar no espelho por causa delas. Foi-se o tempo em que eu não tinha vaidade e dizia que creme para evitar o envelhecimento era uma bobagem. Como nós mudamos depois de certa idade!
Então, envelhecer é isso: sentir cansaço, preocupar-se com rugas e cabelos brancos, anotar coisas por medo de esquecê-las, consultar vários médicos. Eu imaginava uma outra forma de envelhecer. Quem sabe o que eu fiz de errado para terminar assim. Aliás, será que fiz mesmo algo errado ou estamos todos fadados a passar por isso? Para ficar de bem comigo mesma, prefiro pensar na segunda opção.
Depois da massagem com a pomada de cheiro estranho, eu irei dormir. Foi um longo dia e preciso me preparar para mais uma jornada de trabalho. Reclamo das dores e de outros detalhes, mas que bom que estou trabalhando. Já são quase 22h e preciso descansar. As coisas poderiam ser piores, não é verdade? Quer dizer, eu me sinto cansada, desgastada, mas é isso mesmo que acontece com todo mundo. Portanto, estou apenas seguindo o curso da vida.
Amanhã é um novo dia. Acordarei “novinha em folha” por causa da pomada de cheiro esquisito. E não pensarei mais em cabelos brancos, rugas e no cansaço que o dia de trabalho me dá. Amanhã, voltarei a me sentir jovem. Jovem como qualquer pessoa de 26 anos.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
Crônica/12
(Crônica meio velhinha, hehe. Eu ainda morava em Fortaleza!!).
Trânsito
Seis e quarenta da noite. Olhei pela janela do ônibus mais uma vez, só para ter certeza absoluta de que ele pouco havia se movido. Isso mesmo: estávamos praticamente parados há cerca de trinta minutos. Talvez isso pareça pouco frente aos caóticos engarrafamentos do eixo São Paulo – Rio de Janeiro, mas para quem mora na cidade solar, trinta minutos é uma quantidade considerável de tempo.
Desde que passamos dos quinze minutos na mesma avenida, as pessoas começaram a sair de seus lugares para tentar saber o motivo para o trânsito estar parado. Eu não cogitei me erguer. Do meu lugar, vi a fila de carros e a outra fila imensa de ônibus à nossa frente. Isso tem se tornado muito comum na Avenida Treze de Maio. Então, continuei tentando ler.
Bom, não deu pra continuar a leitura. Eu estava num daqueles dias de impaciência, em que um engarrafamento só poderia piorar as coisas. Transferi minha atenção para os demais passageiros. Uma senhora cochilava. Uma moça ninava seu bebê. O motorista passou um pano na testa para enxugar o suor. Parecia muito cansado. Um senhor começou uma conversa com o trocador, dizendo que o caos estava em toda parte e que isso era só mais um descaso das autoridades, que não construíam outras vias de acesso e isso dificultava a vida de todos. O trocador concordou. Eu achei que era melhor não me meter, pois nunca fui muito boa em puxar assunto dentro de ônibus (assim como nas filas de banco).
Mas, mesmo que eu não tenha interferido na conversa, fiquei pensando que esse senhor estava certo. Embora fosse um horário de pico, embora engarrafamentos em grandes cidades sejam comuns, há formas de mudar isso! E esse senhor falou sobre uma boa solução: construir outras vias de acesso.
Entretanto, diminuir o engarrafamento não seria o único problema, pelo menos no Brasil. Nos últimos anos, o índice de acidentes e mortes no trânsito ainda se manteve alto, mesmo com a instituição da Lei Seca. Nesse caso, continuar investindo em campanhas de conscientização da população também é uma opção.
Por um momento, senti que sairíamos da avenida. Ledo engano. O ônibus estacionou novamente. Um passageiro tomou a iniciativa e pediu ao motorista para descer e ver o que estava acontecendo. Caras ansiosas aguardavam a decisão do motorista. Afinal, ele concordou que o passageiro poderia voltar ao ônibus depois de verificar se algo havia ocorrido.
Finalmente, o ônibus atravessou alguns metros. Mais à frente, o passageiro, aquele que havia descido para ver o (possível) motivo de tamanho engarrafamento, deu sinal. Ele explicou: sim, um acidente. Um rapaz com um corte na testa. E também uma discussão feia entre os motoristas.
Passamos ao lado dos carros. Os motoristas eram jovens. Um deles, o do corte na testa, parecia ainda zonzo com tudo que transcorria. O passageiro esclareceu: as pessoas disseram que ele estava bêbado quando bateu no carro do outro.
Saímos da avenida. Eu estava atrasada para a aula, mas não consegui atentar para outra coisa que não o acidente. A cena dos dois motoristas brigando. Um deles, talvez embriagado. Nossa, tão jovem e tão imprudente! Depois disso, só me restou filosofar: decerto novas vias de acesso podem diminuir engarrafamentos, mas é a educação no trânsito e dentro de cada um de nós a verdadeira responsável por cuidar melhor das vidas de todos nós.
Trânsito
Seis e quarenta da noite. Olhei pela janela do ônibus mais uma vez, só para ter certeza absoluta de que ele pouco havia se movido. Isso mesmo: estávamos praticamente parados há cerca de trinta minutos. Talvez isso pareça pouco frente aos caóticos engarrafamentos do eixo São Paulo – Rio de Janeiro, mas para quem mora na cidade solar, trinta minutos é uma quantidade considerável de tempo.
Desde que passamos dos quinze minutos na mesma avenida, as pessoas começaram a sair de seus lugares para tentar saber o motivo para o trânsito estar parado. Eu não cogitei me erguer. Do meu lugar, vi a fila de carros e a outra fila imensa de ônibus à nossa frente. Isso tem se tornado muito comum na Avenida Treze de Maio. Então, continuei tentando ler.
Bom, não deu pra continuar a leitura. Eu estava num daqueles dias de impaciência, em que um engarrafamento só poderia piorar as coisas. Transferi minha atenção para os demais passageiros. Uma senhora cochilava. Uma moça ninava seu bebê. O motorista passou um pano na testa para enxugar o suor. Parecia muito cansado. Um senhor começou uma conversa com o trocador, dizendo que o caos estava em toda parte e que isso era só mais um descaso das autoridades, que não construíam outras vias de acesso e isso dificultava a vida de todos. O trocador concordou. Eu achei que era melhor não me meter, pois nunca fui muito boa em puxar assunto dentro de ônibus (assim como nas filas de banco).
Mas, mesmo que eu não tenha interferido na conversa, fiquei pensando que esse senhor estava certo. Embora fosse um horário de pico, embora engarrafamentos em grandes cidades sejam comuns, há formas de mudar isso! E esse senhor falou sobre uma boa solução: construir outras vias de acesso.
Entretanto, diminuir o engarrafamento não seria o único problema, pelo menos no Brasil. Nos últimos anos, o índice de acidentes e mortes no trânsito ainda se manteve alto, mesmo com a instituição da Lei Seca. Nesse caso, continuar investindo em campanhas de conscientização da população também é uma opção.
Por um momento, senti que sairíamos da avenida. Ledo engano. O ônibus estacionou novamente. Um passageiro tomou a iniciativa e pediu ao motorista para descer e ver o que estava acontecendo. Caras ansiosas aguardavam a decisão do motorista. Afinal, ele concordou que o passageiro poderia voltar ao ônibus depois de verificar se algo havia ocorrido.
Finalmente, o ônibus atravessou alguns metros. Mais à frente, o passageiro, aquele que havia descido para ver o (possível) motivo de tamanho engarrafamento, deu sinal. Ele explicou: sim, um acidente. Um rapaz com um corte na testa. E também uma discussão feia entre os motoristas.
Passamos ao lado dos carros. Os motoristas eram jovens. Um deles, o do corte na testa, parecia ainda zonzo com tudo que transcorria. O passageiro esclareceu: as pessoas disseram que ele estava bêbado quando bateu no carro do outro.
Saímos da avenida. Eu estava atrasada para a aula, mas não consegui atentar para outra coisa que não o acidente. A cena dos dois motoristas brigando. Um deles, talvez embriagado. Nossa, tão jovem e tão imprudente! Depois disso, só me restou filosofar: decerto novas vias de acesso podem diminuir engarrafamentos, mas é a educação no trânsito e dentro de cada um de nós a verdadeira responsável por cuidar melhor das vidas de todos nós.
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