Na estação, a moça e a mala esperaram uma eternidade, mas o trem, esse não podia esperar. Entre a possibilidade de tomar o trem e não saber nunca se ele estava apenas atrasado ou perder o trem e esperar - talvez em vão - ela escolheu a primeira opção.
Alguns anos depois, o viu, por um desses acasos da vida. Aparentava tensão. O que ela enxergou foi um homem preocupado, carrancudo. Tão diferente do que era! Ela parou um instante, para pensar se iria ou não falar com ele. A fim de disfarçar, decidiu comprar um sorvete.
Nesse momento, ele a viu. Aparentava uma certa ansiedade, devia estar esperando por alguém. Tinha na mão o sorvete que acabara de comprar. Tão bela! Por que ele não tinha ido embora com ela? Ah, sim, ele não poderia esquecer nunca o motivo. Na mente, vieram as lembranças: a esposa chegando em casa mais cedo, justo no dia em que ele planejava deixá-la; a notícia da gravidez; ele pensando quão incapaz seria de abandonar a mulher grávida. Deveria ter acabado com o casamento assim que se apaixonou por outra. Torturava-se por isso e pelo rumo que as coisas tinham tomado. Era tarde... E naquele momento, aquela por quem tinha se apaixonado ali, tão perto. Deveria falar com ela?
Do outro lado da rua, ela olhou pelo canto do olho. Para que falar com ele, afinal? De que adiantaria uma explicação? Isso não mudaria e nem resgataria o passado; talvez só a fizesse sofrer de novo. Tinha que seguir em frente.
Com esse pensamento, ela se foi. Na outra calçada, ele a viu partir. Seguiu-a com o olhar, mas a vontade era de correr atrás dela, dizer o quanto sentia, falar que ainda a amava. Entretanto, ele achou que de nada adiantaria. E, enquanto seu corpo continuava ali parado na rua, seu coração ia embora, junto com o que restava daquela moça que um dia esperara na estação.
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