sábado, 1 de maio de 2010

Conto/06



No salão

Estavam em mesas separadas e em cantos opostos daquele salão. Até que se viram, se admiraram e se desejaram. Foi o bastante para que ele, apenas com um sinal, a chamasse para dançar. Ela aceitou com um sorriso e os dois se encaminharam para a pista. A banda começou a tocar.
Enroscaram-se ao som do saxofone. A música era “The latest trick”. Aos primeiros acordes da guitarra, ela levantou a perna direita e conseguiu aconchegá-la bem perto dos quadris dele. Ele não deixou por menos: colocou uma das mãos nas costas de sua parceira e quase levou-a ao chão, beijando levemente seu colo.
Ela estava perplexa com aquele atrevimento e tinha nos lábios um sorriso meio contido. A boca entreaberta e o olhar fixo deixavam transparecer que ela queria mais.
Ela virou um pouco a cabeça e fechou os olhos. Ele a puxou e colou-se junto aquele corpo ansioso. A dança não era o ponto forte de nenhum dos dois, mas ambos pareciam sincronizados.
O calor do lugar e do casal aumentava. As atenções do lugar se voltaram para os dois. O número de pessoas na pista era pequeno, o que fazia com esse casal se destacasse mais.
Iam para um lado e para o outro, os sexos e as bocas quase colados. O vestido floral dela tornou-se bonito aos olhos dele, assim como a blusa de botões que ele usava tornou-se atraente para ela. Não entendiam o que queria dizer a música, mas isso não importava. Ela rodopiava faceira e, de repente, requebrava, já solta das mãos de seu par. Sem perder tempo, ele se aproximou e cheirou aquele pescoço com perfume de rosas. Apertaram-se novamente.
A música ia acabar. Eles não tinham certeza sobre dançar a próxima, não tinham certeza de nada. Até que ouviram os gritos, as pessoas aplaudindo a banda e esperando pela próxima canção. Olharam-se por um momento e se beijaram. Houve um acúmulo de línguas, mas nenhuma palavra; apenas um longo e delicioso beijo. Até que dois chamados os interromperam:
- Vovó! – era uma linda garotinha que adentrava correndo a pista para procurar um abraço.
- Vô! – era um rapazinho de uns quinze anos, que, a pedido da mãe, chamava o avô para descansar um pouco.
Em pouco, ele voltava para a mesa e a filha reclamou, cheia de cuidados:
- Pai, o senhor não tem mais idade para essas coisas! Seu coração! Podia ter um ataque. Por falar nisso, o senhor já tomou seu remédio?
Ele não ouviu. O corpo estava sentado à mesa, a mente estava do outro lado do salão. Na mesa oposta, a garotinha indagava:
- Vó, a senhora tem namorado agora?
Ela riu. Não sabia se tinha namorado, mas sabia que estava de bom humor.
Na saída, cumprimentaram-se e antes que ela entrasse no carro, ele disse:
- Nos vemos no próximo fim de semana?
Ela não hesitou:
- Claro. A propósito, meu nome é Clara.
- O meu é Antônio e eu não sei dançar muito bem.
- Mas sabe beijar e isso é importante. Até mais!
- Até mais.
Naquela noite, os dois sonharam antes de dormir. Sonharam com o próximo fim de semana e com a aventura maior que estava por vir para aqueles corações já tão calejados: o amor.

Fonte da imagem: Já que deu tudo errado mesmo.

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