Essa é uma resenha antiga. A escrevi para a matéria "Leitura e produção de textos III".
“Tereza Batista – Cansada de guerra”
Jorge Amado
Tereza Batista, órfã, é vendida ainda menina pelos tios para Justiniano Duarte da Rosa, o capitão Justo, homem cruel que a maltrata, violenta e escraviza. É trabalhando para ele que ela, tempos depois, conhece o jovem Daniel, por quem se apaixona. O capitão flagra os dois e Tereza o mata. É presa, Daniel não a defende, mas surge um salvador: o doutor Emiliano Guedes – com quem acaba vivendo por alguns anos. Logo após a morte do doutor, desamparada, vai para Aracaju e lá conhece o grande amor de sua vida, o marinheiro baiano Januário Gereba. Este é casado, mas corresponde ao amor da personagem. Será dessa vez que Tereza pode se aproximar da tão desejada felicidade? Aí, cabe ao leitor conferir em “Tereza Batista – cansada de guerra” – Jorge Amado (Editora Record, 1999 – 30ª edição).
Mais uma vez, Jorge nos brinda com uma mulher forte, guerreira, acostumada à vida dura e que, ainda assim, não deixa de sonhar – e de lutar pelo que quer. Em seu 23º livro, ele usa novamente o nordeste brasileiro (mais precisamente Sergipe e Bahia) como palco para a narrativa. Nem por isso sua obra perde o viço. Pelo contrário: é esse regionalismo uma das características que a faz ser tão marcante.
Jorge nasceu na Bahia, mas quando jovem viveu no Rio de Janeiro, onde estudou Direito. Chegou a se envolver com jornalismo e política – e talvez nessa época é que tenha surgido o interesse de escrever sobre injustiças e problemas sociais, temas muito comuns em seus livros. “Tereza Batista” não foge à regra: a personagem é vítima da miséria desde a infância, quando é vendida ao capitão Justo pelos tios pobres, em troca de “um conto e quinhentos, uma carga de mantimentos e um anel de pedra falsa, porém vistosa”. Ainda adolescente, acaba se prostituindo. Sem recursos após a morte do doutor Emiliano, se utiliza de sua beleza e sensualidade para se prostituir de novo e, assim, sobreviver.
Esse é outro tema corriqueiro nos livros de Jorge Amado: a sensualidade. Tereza atrai a atenção dos homens – e até mesmo das mulheres (a cafetina Veneranda logo se interessa em tê-la sob sua tutela quando ela chega a Aracaju). Tereza é uma mulher vistosa e acumula uma legião de admiradores – um deles chega, inclusive, a lhe propor casamento. Mas, se teve que entregar seu corpo a vários homens, é apenas a Gereba que entrega seu coração. Tereza é uma personagem tão sensacional quanto Gabriela (de “Gabriela, cravo e canela”) ou Flor (de “Dona Flor e seus dois maridos”). A luta para ser dona da própria vida e vislumbrar um futuro digno dura o livro todo. Pode-se até dizer – por que não? – que Tereza é a personificação de uma das muitas faces da mulher brasileira, independente de época.
“Tereza Batista” foi publicado pela primeira vez em 1972. Já ganhou versões em alemão, espanhol, francês e inglês, dentre outras línguas. O romance foi adaptado para a televisão pela Rede Globo em 1992, com Patrícia França no papel principal.
“Tereza Batista – cansada de guerra” é, em suma, uma história de sofrimento, mas também de amor. E a forma como essa mulher luta para vencer as adversidades e ter o amor é um bom motivo para ler mais este clássico do saudoso Jorge Amado.
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