quarta-feira, 5 de maio de 2010

Crônica/10

Um minuto de silêncio

Quer coisa mais longa que um minuto de silêncio? Parece que os segundos passam mais devagar quando alguém usa essa expressão.
Ninguém sabe ao certo quem começou com essa história, mas todos sabem em quais situações um minuto de silêncio pode ser requisitado: para homenagear alguém que e... Bom, eu só me lembro dessa situação, se você souber de outra, fale agora ou cale-se por um minuto.
Eu nunca me dei bem com essa coisa de “um minuto de silêncio”, tenho um déficit em relação a isso. Quer dizer, quando pediam, eu ficava quietinha, mas pensava numa porção de bobagens – menos no motivo do minuto de silêncio (que coisa feia, né?). Tinha algo que eu sempre fazia também, além de ficar pensando em assuntos aleatórios: eu gostava de observar as pessoas. Algumas coçavam o nariz, outras olhavam para o chão e tinha também quem mordesse os lábios. Eu sempre ficava me perguntando no que elas estariam pensando. Gostava de imaginar que elas pensavam no feriado da próxima semana, em como o céu estava bonito, o que iriam fazer no dia seguinte ou em como gostariam de tomar um sorvete. Aliás, a título de informação: esses eram alguns dos pensamentos que eu tinha durante um minuto de silêncio.
Bom, eu conseguia ficar quieta, mas tinha uma amiga que não tinha esse dom. Sempre que pediam um minuto de silêncio, ela olhava para as caras das pessoas e começava a rir. Ria baixinho, aquele riso abafado, que parece mais uma tosse. A gente olhava para ela com aquela expressão de “Meu Deus, o que deu em você? Todos têm que ficar calados durante o minuto de silêncio!”. Ela fazia o possível para ser discreta, mas como alguém pode rir com discrição enquanto todos estão mudos? Então, para disfarçar, ela fingia que estava gripada e o riso virava tosse mesmo.
Já há muito tempo que não me pedem um minuto de silêncio. Eu até prefiro assim. Gosto do silêncio – ainda mais na hora de escrever. Mas se é para homenagear alguém ou demonstrar respeito e tudo mais, prefiro a palavra. E por falar em homenagem, não gostaria de fugir à regra dessa vez, então antes que eu me esqueça, eu queria fazer um pedido. Por favor, gostaria que todos fizessem agora um minuto de silêncio para o principal personagem dessa crônica: nosso distinto cavalheiro, o senhor “um minuto de silêncio”.

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