sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Microconto/22

Glória, viajante por natureza, se apaixonou pelo vento e foi correspondida.
O vento levava seus medos pelos ares. Juntos, assistiam ao pôr do sol. Ele sempre lhe sussurrava belas palavras e rodopiava folhas e flores ao seu redor.
Mas o vento não podia preencher a cama de Glória e ela, para aplacar o desejo, arranjou um amante.
Na primeira noite em que Glória dormiu com o amante, as janelas estavam fechadas, por precaução.
Mas de nada adiantou. O vento, furioso, abriu as janelas com força, bufou e depois foi embora.
Não houve perdão para essa noite.
Agora, o vento passa pela mulher que ama sem olhá-la e finge que não a escuta. Ela, por sua vez, insiste. E em meio ao desespero das horas sem o vento, coloca homens e mais homens em sua cama. Ela espera que assim ele retorne e a olhe de novo ou sussurre mais alguma coisa, qualquer coisa, nem que seja uma última vez.

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