terça-feira, 3 de agosto de 2010

Conto/12

Princesa

Tinha longos cabelos, mas não era Rapunzel. Tinha lábios vermelhos, mas não era Branca de Neve. Tinha um quê de borralheira, mas definitivamente não era Cinderela. E era quem, então? Era Princesa, mas às vezes gostaria de ser plebéia.
Desde sempre, a Princesa pensava no que seria de sua vida. Para todos, ela deveria seguir o caminho que todas as princesas seguiam: encontrar um príncipe para casar, ter herdeiros e ser feliz para sempre.
Mas a Princesa não queria esse caminho. Na verdade, ela não sabia bem o que queria. Sabia apenas que queria mais, queria diferente.
E no palácio, rei e rainha só sabiam lhe cobrar. Diziam: “Você precisa se casar logo e construir uma boa família. Precisa encontrar um bom partido, que seja aliado de nosso reino”. E a Princesa se punha a pensar no que, afinal, seria uma boa família no conceito de seus pais. O Rei passava seus dias bebendo vinho e comendo sem parar. A Rainha tinha uma neurose em relação a segurança; estava sempre acusando alguém de querer lhe roubar as jóias, as roupas, a coroa e até o marido. E assim, seguiam. A única que realmente se incomodava com a vida que levava era ela, a Princesa.
Então um dia, lhe arranjaram um pretendente. E dois. E três. E todos a Princesa rejeitava. Até que surgiu um que não parecia ser tão inconveniente. Era um Príncipe belo, mas o que tinha de belo também tinha de mandão, como ela logo percebeu. E como gostava de reclamar! Enquanto que a Princesa reclamava querendo mudar as coisas, ele reclamava pelo simples prazer de reclamar, de falar mal de tudo.
Mas foi com ele que ela decidiu fugir. O Príncipe achava que ela queria fugir apenas por rebeldia. Não imaginava que ela queria fugir da vida dentro do palácio, de onde a mãe não costumava deixá-la sair.
Marcaram para uma manhã, assim que o sol raiasse. Era a hora em que ocorria a troca de guardas, o melhor momento para que o Príncipe aparecesse.
Todas as manhãs, a Princesa se debruçava em sua sacada, para admirar a vinda do Sol. Ah, o Sol! Tão imponente! Tão lindo! E todos os dias, a Princesa o cumprimentava.
E nessa manhã, não foi diferente. Há dias que o Sol notava a tristeza da Princesa. E nesse dia em especial, enquanto surgia no céu, ele viu como ela estava agitada com a fuga, mas também percebeu em seus olhos o quanto ela não queria ficar com aquele Príncipe.
- Bom dia, Sol... – disse ela.
E nessa manhã, ele finalmente respondeu:
- Bom dia, Princesa.
Surpresa com aquilo, ela lhe sorriu. Embaixo da sacada, o Príncipe dizia:
- Vamos, Princesa! Você quer fugir ou não?
Ela o encarou lá de cima e pensou como seria infeliz ao seu lado. Mas que outra alternativa havia? Deveria ir com ele! E, enquanto se indagava sobre o que fazer, o Sol lentamente lhe estendeu seu raio mais forte e disse:
- Pode pular.
E ela pulou.
A Princesa queria mais. Enquanto o Sol a levava consigo para longe dali, ela já ia imaginando que destino, afinal, iria seguir.
“O que vou ser com o sol? Mãe de nuvem ou de arco íris? Será que posso apenas me manter quente em seus braços?”
Como se adivinhasse seus pensamentos, o Sol a abraçou com força e disse:
- Princesa, agora, você pode seguir a rota que quiser, não precisa de mim. Mas pode ter certeza de que estarei sempre por perto, para iluminar os seus passos.
Ela sorriu com vontade, cheia de ansiedade. Enfim, estava começando a traçar com as próprias pernas o seu caminho.

Um comentário:

Wander Shirukaya disse...

Conto bastante infantil (no bom sentido da palavra). Muito leve e descontraído. Bem legal.
^^