Olhares - parte II
Quando nos conhecemos, ele tinha o olhar cansado, triste. Olhar de quem parecia que ia se matar a qualquer momento.
Eu puxei assunto com ele e ele me deu um de seus trabalhos. Esse homem, artista gaúcho, se chama Jones.
Durante o tempo em que morei na Glória, eu sempre o via. O mesmo olhar de tristeza. Eu pensava em lhe dar um oi, mas sempre deixava para lá.
E hoje, eu o vi. E ele me olhou. Ele me olhou, eu finalmente disse "oi" e ele me respondeu. Alguns minutos depois, passei pelo mesmo local e lá estava ele, parado com um de seus pássaros, feito de cartolina e arame. Um pássaro bacaninha que eu comprei para um amigo.
- Jones, eu me lembro que um dia você me disse que é gaúcho...
- Eu sou de Porto Alegre. Você também é?
- Não, sou do Ceará... Você não tem vontade de voltar para sua cidade?
- Só a passeio, mas não tenho dinheiro.
- Por que você não se cadastra para viajar de graça pela Base Aérea? Você desce em Canoas, que é perto.
- É, vou ver isso...
Os mesmos olhos tristes, a mesma expressão de cansaço. Eu sentia a solidão daquele homem tão viva, mesmo sem que ele me dissesse coisa alguma sobre isso. Quando parti, ele me disse: "Tchau, amiga. Vai com Deus". E me beijou a mão. E eu pensei na solidão daquele homem, assim como eu, um forasteiro no Rio de Janeiro. E, por um momento, a solidão dele se confundiu com a minha, que tem outro formato, mas não deixa de existir.
(TF* - 12/08/2010)
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