"Opa!", ela disse.
E quem diria
Que aquela moça
Daria tal lição
Na minha mão boba!
Tatyana França, aspirante a escritora, decidiu fazer seu próprio projeto literário. Assim, nasceu o Nulla dies sine linea: 09 meses de textos nos mais variados estilos. O desafio foi cumprido: nenhum dia sem postar, de 14 de março a 14 de dezembro de 2010!
terça-feira, 31 de agosto de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Microconto/12
O brinco
Num dia que parecia ser como outro qualquer, Marcela perdeu um dos brincos. Ficou triste: o brinco tinha sido presente da avó, que já havia morrido. Marcela tentou consolar-se, pensando que era somente um brinco, coisa material apenas, e o mais importante é que guardava na mente as lembranças da avó. "Brincos vêm e vão", disse para si mesma.
Naquela noite, ao regressar para casa, viu algo brilhando em frente ao portão: era ele, o brinco perdido. Marcela levou o danado para dentro e concluiu que ele não havia se perdido, afinal. Assim como a avó, estava só dando uma voltinha por aí.
Fonte da imagem: Casamento e festa
domingo, 29 de agosto de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
Microconto/11
Quarenta anos, uma esposa, um par de filhos, muito tempo na mesma empresa.
Vida pacata, feliz aos olhos de fora. Mas ninguém enxergava sua inquietude diante da própria existência. E por várias noites, ele olhava antigas fotografias e pensava sempre em quem tinha deixado para trás: ele mesmo.
Vida pacata, feliz aos olhos de fora. Mas ninguém enxergava sua inquietude diante da própria existência. E por várias noites, ele olhava antigas fotografias e pensava sempre em quem tinha deixado para trás: ele mesmo.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Crônica/23
Eu o vi através do vidro. Fui até ele e minha boca emudeceu, mas meu olhar disse: "Você vem comigo". E ele veio.
Então, eu comecei a (re) devorar esse homem, com quem nunca conversei. Eu o encontro sempre, já há algum tempo, por acaso ou porque o procuro. E ele pode ser, ao mesmo tempo, conhecido e desconhecido, novo e velho.
Ele não sabe ainda, mas sonho em apertar-lhe a mão, em Montevidéu ou em qualquer outra cidade; não importa, contanto que eu possa apertar a mão com a qual ele escreve. E também sonho, enquanto o leio, em dizer-lhe olhando nos olhos: "Obrigada. Obrigada por suas palavras".
(para Eduardo Galeano)
Então, eu comecei a (re) devorar esse homem, com quem nunca conversei. Eu o encontro sempre, já há algum tempo, por acaso ou porque o procuro. E ele pode ser, ao mesmo tempo, conhecido e desconhecido, novo e velho.
Ele não sabe ainda, mas sonho em apertar-lhe a mão, em Montevidéu ou em qualquer outra cidade; não importa, contanto que eu possa apertar a mão com a qual ele escreve. E também sonho, enquanto o leio, em dizer-lhe olhando nos olhos: "Obrigada. Obrigada por suas palavras".
(para Eduardo Galeano)
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Poetrix/08
Por aí
Enquanto sigo, comendo poeira
Minha mente é meu Norte
Mas é certo que também conto com a sorte.
Enquanto sigo, comendo poeira
Minha mente é meu Norte
Mas é certo que também conto com a sorte.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Poesia/81
Eu ando, corro, sorrio, falo
Rio, choro, grito e me calo
Me jogo, me freio
Me amo, me odeio
Sou assim toda feita de sensações
E assim como Vlad, enlouqueci minha anatomia
Formada toda por um só coração.
Rio, choro, grito e me calo
Me jogo, me freio
Me amo, me odeio
Sou assim toda feita de sensações
E assim como Vlad, enlouqueci minha anatomia
Formada toda por um só coração.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
domingo, 22 de agosto de 2010
Poesia/80
Dois sóis
Calor em dobro
Somos nós
Juntos em nosso céu particular
(colchão de amar)
É sempre verão
Com dois sóis.
Calor em dobro
Somos nós
Juntos em nosso céu particular
(colchão de amar)
É sempre verão
Com dois sóis.
sábado, 21 de agosto de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Poesia/79
Eu só sei sentir saudade
Quando me lembro de você
Versos logo me vêm à mente
Então, eu fico todo a mercê
Desse triste coração
Que teima em te lembrar
Que teima em te querer
Que teima em te gostar
E insiste em bater
Louco por você
Esse meu coração cego e louco
Manda em mim o tempo todo
A mente se abstrai por completo
Meu tempo fica todo incerto
E as mãos?! - essas trabalham apenas
Para te escrever
Para tentar te tocar
Para tentar te ter
Nas noites claras de luar
Enquanto a mente, coitada!, tenta em vão te esquecer.
Quando me lembro de você
Versos logo me vêm à mente
Então, eu fico todo a mercê
Desse triste coração
Que teima em te lembrar
Que teima em te querer
Que teima em te gostar
E insiste em bater
Louco por você
Esse meu coração cego e louco
Manda em mim o tempo todo
A mente se abstrai por completo
Meu tempo fica todo incerto
E as mãos?! - essas trabalham apenas
Para te escrever
Para tentar te tocar
Para tentar te ter
Nas noites claras de luar
Enquanto a mente, coitada!, tenta em vão te esquecer.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Microconto/10
Saiu da sala sem dizer nada.
- Leo, espera! - mas ele não tinha mais nada a esperar.
Na rua, o sol lhe bateu no rosto sem piedade. A vida corria e todos tentavam acompanhá-la, apressados. Era uma típica manhã de terça-feira.
Ela o alcançou, tocou-lhe o ombro:
- Me perdoa?
- Tudo bem. Agora acabou. - ele disse - e deu-lhe as costas, disse que estava apressado. Mas a pressa era apenas a de ficar sozinho.
Seguiu cabisbaixo de volta para casa. No caminho, tentou pensar que aquilo era um alívio, que poderia respirar novamente, que não precisava mais viver com aquela dúvida. Não era o pai do garoto. Mas no fundo, gostaria que aquele resultado tivesse dado positivo.
- Leo, espera! - mas ele não tinha mais nada a esperar.
Na rua, o sol lhe bateu no rosto sem piedade. A vida corria e todos tentavam acompanhá-la, apressados. Era uma típica manhã de terça-feira.
Ela o alcançou, tocou-lhe o ombro:
- Me perdoa?
- Tudo bem. Agora acabou. - ele disse - e deu-lhe as costas, disse que estava apressado. Mas a pressa era apenas a de ficar sozinho.
Seguiu cabisbaixo de volta para casa. No caminho, tentou pensar que aquilo era um alívio, que poderia respirar novamente, que não precisava mais viver com aquela dúvida. Não era o pai do garoto. Mas no fundo, gostaria que aquele resultado tivesse dado positivo.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Crônica/22
Coração despedaçado
Tive um sonho. Sonhei que meu coração se dividia em pedacinhos. Cada pedaço ficava com alguém que eu amava.
Primeiro, eu me sentia aflita, com medo, pensando que quanto mais gente eu amasse, menos coração teria. Porém, era justamente o contrário: quanto mais eu amava, maior ficava o meu coração.
E isso acontecia porque quando alguém me amava, também me dava um pedaço de seu coração. E assim, nunca faltava coração para ninguém. Era com os pedacinhos de outros corações que eu reforçava o meu e ia vivendo.
Se o amor acabava, o pedaço que eu tinha dado para aquela pessoa, voltava para mim. Eu via em meu sonho momentos em que deixei de amar algumas pessoas e via quando aqueles pedacinhos do meu coração retornavam, danificados, maltratados. Mas nada que o tempo não pudesse amenizar, consertar ou fazer esquecer.
No final do sonho, eu me sentia bem, afinal. Tinha dividido meu coração e ainda assim, ele estava multiplicado. Ele estava despedaçado, mas num sentido bom.
Assim eu gostaria que fosse durante essa minha existência. Dessa forma, meu coração poderia estar despedaçado depois de toda uma vida, mas estaria, com certeza, pleno e feliz.
Fonte da imagem: Mar de palavras
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Poetrix/04
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Crônica/21
Vozes
Nao sei se você sabe, mas se não sabe eu vou lhe contar agora: os livros falam. E não estou me referindo aos audiobooks apenas. Falo de todo e qualquer livro.
Através deles ecoam vozes. Vozes que existem ou existiram ou aquelas que foram inventadas; vozes que alguém tentou calar; vozes gostosas ou difíceis de ouvir. Há de todos os tipos e para todos os gostos.
Foi lendo que descobri que eu também poderia criar minhas próprias vozes ou falar para muitos usando esse meio de comunicação, que é tão importante na minha vida.
Toda vez que eu leio, dou vida a vozes, inventadas ou não, e me torno um pouco cada uma delas também. E dessa forma, não só dou vida a estas vozes, mas elas também têm o poder de me dar vida, cada dia mais e mais.
Fonte da imagem: Portal São Francisco
domingo, 15 de agosto de 2010
Poesia/78
Ele lá e eu cá
E a gente vai levando
Ele ali, eu acolá
E a gente vai vivendo
Uma hora, ele volta para o meu lado
Eu sei
Ou eu vou até o lado dele
Também
E assim, a gente segue
Nessa união atarantada
Mesmo em camas diferentes
A gente continua um par
Por ora, a distância
Mas logo logo
Lado a lado
E outra vez em nosso lar.
E a gente vai levando
Ele ali, eu acolá
E a gente vai vivendo
Uma hora, ele volta para o meu lado
Eu sei
Ou eu vou até o lado dele
Também
E assim, a gente segue
Nessa união atarantada
Mesmo em camas diferentes
A gente continua um par
Por ora, a distância
Mas logo logo
Lado a lado
E outra vez em nosso lar.
sábado, 14 de agosto de 2010
Crônica/20
Olhares - parte II
Quando nos conhecemos, ele tinha o olhar cansado, triste. Olhar de quem parecia que ia se matar a qualquer momento.
Eu puxei assunto com ele e ele me deu um de seus trabalhos. Esse homem, artista gaúcho, se chama Jones.
Durante o tempo em que morei na Glória, eu sempre o via. O mesmo olhar de tristeza. Eu pensava em lhe dar um oi, mas sempre deixava para lá.
E hoje, eu o vi. E ele me olhou. Ele me olhou, eu finalmente disse "oi" e ele me respondeu. Alguns minutos depois, passei pelo mesmo local e lá estava ele, parado com um de seus pássaros, feito de cartolina e arame. Um pássaro bacaninha que eu comprei para um amigo.
- Jones, eu me lembro que um dia você me disse que é gaúcho...
- Eu sou de Porto Alegre. Você também é?
- Não, sou do Ceará... Você não tem vontade de voltar para sua cidade?
- Só a passeio, mas não tenho dinheiro.
- Por que você não se cadastra para viajar de graça pela Base Aérea? Você desce em Canoas, que é perto.
- É, vou ver isso...
Os mesmos olhos tristes, a mesma expressão de cansaço. Eu sentia a solidão daquele homem tão viva, mesmo sem que ele me dissesse coisa alguma sobre isso. Quando parti, ele me disse: "Tchau, amiga. Vai com Deus". E me beijou a mão. E eu pensei na solidão daquele homem, assim como eu, um forasteiro no Rio de Janeiro. E, por um momento, a solidão dele se confundiu com a minha, que tem outro formato, mas não deixa de existir.
(TF* - 12/08/2010)
Quando nos conhecemos, ele tinha o olhar cansado, triste. Olhar de quem parecia que ia se matar a qualquer momento.
Eu puxei assunto com ele e ele me deu um de seus trabalhos. Esse homem, artista gaúcho, se chama Jones.
Durante o tempo em que morei na Glória, eu sempre o via. O mesmo olhar de tristeza. Eu pensava em lhe dar um oi, mas sempre deixava para lá.
E hoje, eu o vi. E ele me olhou. Ele me olhou, eu finalmente disse "oi" e ele me respondeu. Alguns minutos depois, passei pelo mesmo local e lá estava ele, parado com um de seus pássaros, feito de cartolina e arame. Um pássaro bacaninha que eu comprei para um amigo.
- Jones, eu me lembro que um dia você me disse que é gaúcho...
- Eu sou de Porto Alegre. Você também é?
- Não, sou do Ceará... Você não tem vontade de voltar para sua cidade?
- Só a passeio, mas não tenho dinheiro.
- Por que você não se cadastra para viajar de graça pela Base Aérea? Você desce em Canoas, que é perto.
- É, vou ver isso...
Os mesmos olhos tristes, a mesma expressão de cansaço. Eu sentia a solidão daquele homem tão viva, mesmo sem que ele me dissesse coisa alguma sobre isso. Quando parti, ele me disse: "Tchau, amiga. Vai com Deus". E me beijou a mão. E eu pensei na solidão daquele homem, assim como eu, um forasteiro no Rio de Janeiro. E, por um momento, a solidão dele se confundiu com a minha, que tem outro formato, mas não deixa de existir.
(TF* - 12/08/2010)
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Crônica/19
Escrevo estas linhas com vontade de chorar. Hoje é seu aniversário e não estou ao seu lado. Mas não posso chorar, não agora. Agora o que eu quero é lhe dar de presente algumas palavras.
Talvez com um certo atraso, eu preciso te dizer: comemore seu aniversário! Uma data assim tem que ser comemorada, multiplicada, dividida e festejada com aqueles a quem amamos e que também nos amam.
A cada aniversário, você não celebra apenas o dia em que veio ao mundo, mas também o ano que se passou - ainda que esse tal ano tenha sido uma bosta (desculpe o termo, mas é isso mesmo, haha!).
Você deve celebrar também o fato de estar vivo para enfrentar mais um ano que virá.
E comemore sua sorte: você chegou até aqui, fez amigos, amou, foi amado, trabalhou, se divertiu, errou, acertou e... sobreviveu. E isso, com certeza, não se deve somente a sorte, mas também a uma certa habilidade. Sim, viver requer jogo de cintura e sei que isso você tem.
Por fim, claro, celebre o poder de nascer outra vez. Pois, pelo menos para mim, quando o aniversário chega, temos esse poder dentro de nós: o de renascer e reiventar a nossa própria existência.
Minha vontade, hoje, era a de me jogar nos teus braços, ganhar teu precioso abraço como presente e também te presentear com meu abraço. Mas estou longe de ti fisicamente, então tudo que posso te dar são estas palavras e o meu desejo real de que o ano que se inicia hoje para ti seja pleno e cheio de aprendizado.
E mais: que você não deixe nunca de celebrar - não só o dia em que nasceu, mas a própria vida, tesouro a ser cuidado a cada dia.
(Para Hil)
P.S.: Yellow!
Talvez com um certo atraso, eu preciso te dizer: comemore seu aniversário! Uma data assim tem que ser comemorada, multiplicada, dividida e festejada com aqueles a quem amamos e que também nos amam.
A cada aniversário, você não celebra apenas o dia em que veio ao mundo, mas também o ano que se passou - ainda que esse tal ano tenha sido uma bosta (desculpe o termo, mas é isso mesmo, haha!).
Você deve celebrar também o fato de estar vivo para enfrentar mais um ano que virá.
E comemore sua sorte: você chegou até aqui, fez amigos, amou, foi amado, trabalhou, se divertiu, errou, acertou e... sobreviveu. E isso, com certeza, não se deve somente a sorte, mas também a uma certa habilidade. Sim, viver requer jogo de cintura e sei que isso você tem.
Por fim, claro, celebre o poder de nascer outra vez. Pois, pelo menos para mim, quando o aniversário chega, temos esse poder dentro de nós: o de renascer e reiventar a nossa própria existência.
Minha vontade, hoje, era a de me jogar nos teus braços, ganhar teu precioso abraço como presente e também te presentear com meu abraço. Mas estou longe de ti fisicamente, então tudo que posso te dar são estas palavras e o meu desejo real de que o ano que se inicia hoje para ti seja pleno e cheio de aprendizado.
E mais: que você não deixe nunca de celebrar - não só o dia em que nasceu, mas a própria vida, tesouro a ser cuidado a cada dia.
(Para Hil)
P.S.: Yellow!
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Crônica/18
Esta é a primeira de uma série de crônicas que pretendo escrever sobre olhares que me marcaram ao longo dessa existência. Espero que curtam! TF*
Olhares - parte I
Tem olhares que eu capturei com meus próprios olhos. Às vezes, me dá uma angústia porque não pude gravá-los com uma lente... São sempre olhares marcantes.
Um desses olhares foi o do ser andrógino que me encarou numa noite carioca de 2008. Desci do ônibus na Praça Paris, na Glória, sem imaginar que um dia esse bairro me serviria de morada. Na época, fui olhar uma vaga e, no caminho, eu o vi. Estava parado à meia luz e usava um sobretudo. Quanto mais eu me aproximava, mais pensava que ele iria se virar e abriria o sobretudo para que eu olhasse seu corpo nu.
Mas o que ele fez me surpreendeu mais ainda: ele me encarou. Eu não saberei nunca traduzir bem aquele olhar azul. Era uma mistura de indagação com surpresa e também com audácia... Olhar que eu nunca mais vi na vida, nem naqueles olhos azuis e nem em outros olhos.
Não capturei esse olhar com uma câmera, mas ele está gravado na minha memória e toda vez que passo pela Praça Paris, eu me lembro dele e me surpreendo igual.
Olhares - parte I
Tem olhares que eu capturei com meus próprios olhos. Às vezes, me dá uma angústia porque não pude gravá-los com uma lente... São sempre olhares marcantes.
Um desses olhares foi o do ser andrógino que me encarou numa noite carioca de 2008. Desci do ônibus na Praça Paris, na Glória, sem imaginar que um dia esse bairro me serviria de morada. Na época, fui olhar uma vaga e, no caminho, eu o vi. Estava parado à meia luz e usava um sobretudo. Quanto mais eu me aproximava, mais pensava que ele iria se virar e abriria o sobretudo para que eu olhasse seu corpo nu.
Mas o que ele fez me surpreendeu mais ainda: ele me encarou. Eu não saberei nunca traduzir bem aquele olhar azul. Era uma mistura de indagação com surpresa e também com audácia... Olhar que eu nunca mais vi na vida, nem naqueles olhos azuis e nem em outros olhos.
Não capturei esse olhar com uma câmera, mas ele está gravado na minha memória e toda vez que passo pela Praça Paris, eu me lembro dele e me surpreendo igual.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Poesia/77
Além da imagem
Um espelho mostra o que a gente é por fora
É este o seu intento
Mas bem que alguém poderia inventar outro espelho
Que mostrasse o que cada um é por dentro.
Fonte da imagem: Blog do Guilherme Ghizoni
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Microconto/09
Natal brasileiro
Uma estrela cadente passou. Ele fechou a janela; antes fez um pedido. Mas nem isso nem a cartinha adiantaram. Ao invés de uma bicicleta, naquele Natal, mais uma vez, Papai Noel o presenteou com um carrinho de plástico comprado na feira do Centro da cidade.
Triste, ele tentou se conformar e concluiu que Papai Noel devia passar tanta necessidade quanto ele.
Uma estrela cadente passou. Ele fechou a janela; antes fez um pedido. Mas nem isso nem a cartinha adiantaram. Ao invés de uma bicicleta, naquele Natal, mais uma vez, Papai Noel o presenteou com um carrinho de plástico comprado na feira do Centro da cidade.
Triste, ele tentou se conformar e concluiu que Papai Noel devia passar tanta necessidade quanto ele.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Versos livres/11
Eu matei o dragão
Enfrentei até São Jorge
Só para te tirar
Do mundo da Lua
Depois comprei os anéis de Saturno
E me mudei de Marte para Vênus
Apenas para estar contigo
No mesmo planeta
Desbravei galáxias
E te presenteei
Mas cometas e estrelas
Não foram suficientes
Para nos salvar
Do buraco negro
Que se instalou
No lugar onde um dia
Existiu amor.
Enfrentei até São Jorge
Só para te tirar
Do mundo da Lua
Depois comprei os anéis de Saturno
E me mudei de Marte para Vênus
Apenas para estar contigo
No mesmo planeta
Desbravei galáxias
E te presenteei
Mas cometas e estrelas
Não foram suficientes
Para nos salvar
Do buraco negro
Que se instalou
No lugar onde um dia
Existiu amor.
domingo, 8 de agosto de 2010
Poesia/76
Perdida em meus acordes
Já não toco como antes
Se começo com FÁ
Troco por RÉ num instante
Também sem querer
Troco o RÉ por MI
O que posso fazer
Se você me deixou assim?
Você que era meu SOL
Não quis mais minha companhia
Foi embora sem DÓ
E me deixou sozinha
E eu fiquei por LÁ
Ou talvez por ali
Sua voz a ecoar
"Agora, estás por SI"
E hoje eu sigo só
Com o meu violão
E sei que virou pó
Esse meu pobre coração.
Fonte da imagem: Arte de pensar
sábado, 7 de agosto de 2010
Poesia/75
Minha porta está fechada
Minha janela também
Mas meu coração insiste em ficar aberto
Daquela forma que ainda te convém.
Minha janela também
Mas meu coração insiste em ficar aberto
Daquela forma que ainda te convém.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Poesia/74
Dieta
Tentei dieta
Arroz integral, alface, tomate
Mas longe do almoço mirrado
A cabeça só pensa em chocolate!
Fonte da imagem: Maquiagem é uma arte!
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Conto/12
Princesa
Tinha longos cabelos, mas não era Rapunzel. Tinha lábios vermelhos, mas não era Branca de Neve. Tinha um quê de borralheira, mas definitivamente não era Cinderela. E era quem, então? Era Princesa, mas às vezes gostaria de ser plebéia.
Desde sempre, a Princesa pensava no que seria de sua vida. Para todos, ela deveria seguir o caminho que todas as princesas seguiam: encontrar um príncipe para casar, ter herdeiros e ser feliz para sempre.
Mas a Princesa não queria esse caminho. Na verdade, ela não sabia bem o que queria. Sabia apenas que queria mais, queria diferente.
E no palácio, rei e rainha só sabiam lhe cobrar. Diziam: “Você precisa se casar logo e construir uma boa família. Precisa encontrar um bom partido, que seja aliado de nosso reino”. E a Princesa se punha a pensar no que, afinal, seria uma boa família no conceito de seus pais. O Rei passava seus dias bebendo vinho e comendo sem parar. A Rainha tinha uma neurose em relação a segurança; estava sempre acusando alguém de querer lhe roubar as jóias, as roupas, a coroa e até o marido. E assim, seguiam. A única que realmente se incomodava com a vida que levava era ela, a Princesa.
Então um dia, lhe arranjaram um pretendente. E dois. E três. E todos a Princesa rejeitava. Até que surgiu um que não parecia ser tão inconveniente. Era um Príncipe belo, mas o que tinha de belo também tinha de mandão, como ela logo percebeu. E como gostava de reclamar! Enquanto que a Princesa reclamava querendo mudar as coisas, ele reclamava pelo simples prazer de reclamar, de falar mal de tudo.
Mas foi com ele que ela decidiu fugir. O Príncipe achava que ela queria fugir apenas por rebeldia. Não imaginava que ela queria fugir da vida dentro do palácio, de onde a mãe não costumava deixá-la sair.
Marcaram para uma manhã, assim que o sol raiasse. Era a hora em que ocorria a troca de guardas, o melhor momento para que o Príncipe aparecesse.
Todas as manhãs, a Princesa se debruçava em sua sacada, para admirar a vinda do Sol. Ah, o Sol! Tão imponente! Tão lindo! E todos os dias, a Princesa o cumprimentava.
E nessa manhã, não foi diferente. Há dias que o Sol notava a tristeza da Princesa. E nesse dia em especial, enquanto surgia no céu, ele viu como ela estava agitada com a fuga, mas também percebeu em seus olhos o quanto ela não queria ficar com aquele Príncipe.
- Bom dia, Sol... – disse ela.
E nessa manhã, ele finalmente respondeu:
- Bom dia, Princesa.
Surpresa com aquilo, ela lhe sorriu. Embaixo da sacada, o Príncipe dizia:
- Vamos, Princesa! Você quer fugir ou não?
Ela o encarou lá de cima e pensou como seria infeliz ao seu lado. Mas que outra alternativa havia? Deveria ir com ele! E, enquanto se indagava sobre o que fazer, o Sol lentamente lhe estendeu seu raio mais forte e disse:
- Pode pular.
E ela pulou.
A Princesa queria mais. Enquanto o Sol a levava consigo para longe dali, ela já ia imaginando que destino, afinal, iria seguir.
“O que vou ser com o sol? Mãe de nuvem ou de arco íris? Será que posso apenas me manter quente em seus braços?”
Como se adivinhasse seus pensamentos, o Sol a abraçou com força e disse:
- Princesa, agora, você pode seguir a rota que quiser, não precisa de mim. Mas pode ter certeza de que estarei sempre por perto, para iluminar os seus passos.
Ela sorriu com vontade, cheia de ansiedade. Enfim, estava começando a traçar com as próprias pernas o seu caminho.
Tinha longos cabelos, mas não era Rapunzel. Tinha lábios vermelhos, mas não era Branca de Neve. Tinha um quê de borralheira, mas definitivamente não era Cinderela. E era quem, então? Era Princesa, mas às vezes gostaria de ser plebéia.
Desde sempre, a Princesa pensava no que seria de sua vida. Para todos, ela deveria seguir o caminho que todas as princesas seguiam: encontrar um príncipe para casar, ter herdeiros e ser feliz para sempre.
Mas a Princesa não queria esse caminho. Na verdade, ela não sabia bem o que queria. Sabia apenas que queria mais, queria diferente.
E no palácio, rei e rainha só sabiam lhe cobrar. Diziam: “Você precisa se casar logo e construir uma boa família. Precisa encontrar um bom partido, que seja aliado de nosso reino”. E a Princesa se punha a pensar no que, afinal, seria uma boa família no conceito de seus pais. O Rei passava seus dias bebendo vinho e comendo sem parar. A Rainha tinha uma neurose em relação a segurança; estava sempre acusando alguém de querer lhe roubar as jóias, as roupas, a coroa e até o marido. E assim, seguiam. A única que realmente se incomodava com a vida que levava era ela, a Princesa.
Então um dia, lhe arranjaram um pretendente. E dois. E três. E todos a Princesa rejeitava. Até que surgiu um que não parecia ser tão inconveniente. Era um Príncipe belo, mas o que tinha de belo também tinha de mandão, como ela logo percebeu. E como gostava de reclamar! Enquanto que a Princesa reclamava querendo mudar as coisas, ele reclamava pelo simples prazer de reclamar, de falar mal de tudo.
Mas foi com ele que ela decidiu fugir. O Príncipe achava que ela queria fugir apenas por rebeldia. Não imaginava que ela queria fugir da vida dentro do palácio, de onde a mãe não costumava deixá-la sair.
Marcaram para uma manhã, assim que o sol raiasse. Era a hora em que ocorria a troca de guardas, o melhor momento para que o Príncipe aparecesse.
Todas as manhãs, a Princesa se debruçava em sua sacada, para admirar a vinda do Sol. Ah, o Sol! Tão imponente! Tão lindo! E todos os dias, a Princesa o cumprimentava.
E nessa manhã, não foi diferente. Há dias que o Sol notava a tristeza da Princesa. E nesse dia em especial, enquanto surgia no céu, ele viu como ela estava agitada com a fuga, mas também percebeu em seus olhos o quanto ela não queria ficar com aquele Príncipe.
- Bom dia, Sol... – disse ela.
E nessa manhã, ele finalmente respondeu:
- Bom dia, Princesa.
Surpresa com aquilo, ela lhe sorriu. Embaixo da sacada, o Príncipe dizia:
- Vamos, Princesa! Você quer fugir ou não?
Ela o encarou lá de cima e pensou como seria infeliz ao seu lado. Mas que outra alternativa havia? Deveria ir com ele! E, enquanto se indagava sobre o que fazer, o Sol lentamente lhe estendeu seu raio mais forte e disse:
- Pode pular.
E ela pulou.
A Princesa queria mais. Enquanto o Sol a levava consigo para longe dali, ela já ia imaginando que destino, afinal, iria seguir.
“O que vou ser com o sol? Mãe de nuvem ou de arco íris? Será que posso apenas me manter quente em seus braços?”
Como se adivinhasse seus pensamentos, o Sol a abraçou com força e disse:
- Princesa, agora, você pode seguir a rota que quiser, não precisa de mim. Mas pode ter certeza de que estarei sempre por perto, para iluminar os seus passos.
Ela sorriu com vontade, cheia de ansiedade. Enfim, estava começando a traçar com as próprias pernas o seu caminho.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Microconto/08
Um dia, a mulher viu o fogo pela primeira vez. E ficou maravilhada com ele.
Depois disso, noite após noite, ela ficava horas observando o fogo.
E o fogo, crepitando, a observava também.
Até que numa noite, decidida, ela pensou como seria ter o fogo dentro dela, todo dela, e o engoliu.
O fogo não ofereceu resistência, mas isso não evitou que a mulher queimasse as mãos e também a boca.
Mas o pior veio pouco depois. Embora ela estivesse feliz com o fogo dentro de si, seu corpo não estava bem. Ela amava o fogo, mas seu corpo o rejeitava.
E, de súbito, ela cuspiu o fogo de volta ao mundo, de onde ele jamais saiu novamente.
Entretanto, no âmago dela ficou uma centelha. Centelha essa que resiste, até hoje, dentro de cada mulher que veio depois dessa.
Fonte da imagem: Mulher Mosca
domingo, 1 de agosto de 2010
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